Entrevista do Presidente da Mercedes ao Valor Econômico
7 de abril de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: franqueza para pedir mais velocidade nas providências do governo, Philipp Schiemer da Mercedes Benz concede entrevista para o Valor Econômico
A entrevista obtida por Marli Olmos, uma das mais competentes jornalistas brasileiras especializada na indústria automobilística no mundo, de Philipp Schiemer, presidente da Mercedes Benz do Brasil e da América Latina, publicada no Valor Econômico, é das mais francas que um empresário estrangeiro concedeu sobre a política econômica no Brasil e vale a pena ser lido na íntegra.
Philipp Schiemer, presidente da Mercedes Benz para o Brasil e a América Latina, tem longa experiência neste país
Este empresário estrangeiro foi muito franco na entrevista publicada no Valor Econômico, por conta também da experiência da entrevistadora. Apesar dos primeiros sinais de melhora no mercado, a indústria automobilística no Brasil ainda se encontra num nível muito baixo, dependendo fortemente da confiança dos empresários tenham na economia do país. Ele comenta que as autoridades trancadas em escritórios de ar-condicionado não sabem a vida que os caminhoneiros enfrentam nas longas esperas para transitar pelas estradas brasileiras, sem o mínimo de conforto para as suas necessidades de alimentação, higiene íntima e repouso. As estradas, como todos sabem, estão precárias não permitindo o bom escoamento das produções agrícolas para os portos de embarque.
Ele fica impressionado com os elevados juros reais praticados no Brasil, que é uma condição essencial para a recuperação da economia. Ele sabe sobre as reformas cogitadas no país, mas que os projetos ainda são mal elaborados, com excessivas concessões para os políticos para conseguir suas aprovações. Os empresários e os políticos não conseguem transmitir esta triste realidade para a população.
Comparando com a Alemanha, por exemplo, na Previdência Social que aquele país elevou para um mínimo de 67 anos de idade e 49 anos de contribuição, enquanto está se desfazendo totalmente o projeto em discussão no Congresso por aqui. A legislação trabalhista e sua aplicação no Judiciário não dá a segurança indispensável para as empresas, mesmo com a terceirização mal definida.
Como todos os empresários conscientes sabem que os custos de produção precisam baixar como acontece em outros países, o que é quase impossível no Brasil que não se concentra na sua redução. As desonerações eliminadas na indústria de transportes são insignificantes comparadas a outros problemas.
Não se sabe quem ainda estará no governo nos próximos dias, com a instabilidade até da chapa Dilma-Temer, e a chamada transparência é insignificante. Ele reclama de muitas notícias sem fundamentos seguros, o que leva a cerca de 13 milhões de desempregados. Apesar do petróleo e demais condições, o Brasil parece quebrado. Ele entende que o País precisa de maior velocidade para resolver os seus problemas.
Perguntado sobre outros períodos em que ele trabalhou no Brasil, o entrevistado observou que no inicio, por exemplo, do governo Lula começou com um pragmatismo correto, mas se caminhou para lados errados. A China e o mundo propiciaram boas condições para o Brasil que acabaram desperdiçadas.
Ele acredita que se os projetos de infraestrutura não saírem, o país não vai crescer. O Brasil tem potencial para seus mais de 210 milhões de habitantes, com seus recursos naturais, apresentando condições para o setor de caminhões e, apesar das discussões novas e a criatividade dos brasileiros, ainda que não se conseguiu achar a solução. Para ele, é como a avestruz que enfia sua cabeça no buraco.
Seria interessante que mais empresários de porte fossem tão francos como o entrevistado, pois a propaganda oficial tende a incutir na população que tudo caminha na direção correta.