Pobre Rica Venezuela
3 de abril de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: doença holandesa, lamentável quadro político, Venezuela e seu petróleo | 4 Comentários »
Os países que são dotados de importantes recursos naturais podem acabar num quadro político lamentável na medida em que não saiba utilizá-los de forma adequada. Lições que servem para o Brasil.
Piora na ditadura venezuelana
Um país dotado de petróleo como a Venezuela corre o risco de deteriorar-se com a chamada doença holandesa, quando as demais atividades acabam se deteriorando, com suas autoridades imaginando que poderiam viver muito tranquilamente somente da sua exportação. Com o infeliz golpe de estado que levou Hugo Chaves ao seu comando ditatorial, deixando o lamentável Nicolas Maduro como seu sucessor, está numa situação de completo caos.
Hugo Chaves imaginava que transformando os Estados Unidos no seu algoz preferido, poderia repetir Simon Bolivar que obteve a sua independência, como de outros países sul-americanos, contando com os recursos gerados pelo petróleo para liderar a América Latina. Ledo engano, ele acabou gerando uma ditadura que só tende a se aprofundar para se manter, escolhendo este Nicolas Maduro para piorar ainda mais a já precária situação do seu povo.
Com o Legislativo escolhido por voto popular em sua oposição, nomeou um Judiciário que pudesse lhe dar respaldo, sempre alegando uma conspiração externa contra o seu país, quando era claro que sua incompetência só aprofundava a deterioração de sua economia, incapaz de sequer alimentar o seu povo. Se no passado contava com a solidariedade de alguns países, hoje não dispõe de quase nada, notadamente dos componentes do Mercosul.
Espera-se que haja um mínimo de bom-senso, pois estas situações extremas num mundo já complicado tendem a se propagar para outros países sul-americanos que também enfrentam as suas dificuldades. Não existe mágica em economia, ainda que as vontades populares manifestas politicamente nas ruas pretendam gastos governamentais acima dos recursos disponíveis e mal utilizados. Somente com uma racionalidade maior e muito trabalho ao longo de décadas poderá se recuperar o mínimo indispensável para atender às necessidades de suas populações.
Na Venezuela, o próprio setor Judiciário entendeu que não pode substituir o Legislativo em suas funções, com o Executivo totalmente desorganizado pela vontade isolada de Nicolas Maduro. Mesmo sem a intervenção dos seus vizinhos, aquele país terá de se convencer que existem restrições insuperáveis, que não podem ser superados pela simples vontade política.
Que estes lamentáveis exemplos sirvam de exemplo também para o Brasil onde os políticos procuram interpretar que podem superar as lamentáveis restrições econômicas. O desenvolvimento só voltará na medida em que se contem com condições para inspirar os investidores de que se há garantias mínimas para os seus riscos. Somente a ampliação de sua capacidade produtiva, usando o mercado externo e inovações que propiciem o aumento da eficiência da produção, pode atender parte dos anseios da população, demandando muito trabalho e um mínimo de tempo para correção de muitos estrangulamentos que existem notadamente no setor público. É preciso formular um diagnóstico o mais correto possível do quadro que se enfrenta, convencendo a população que não existe milagre, mas muito trabalho duro a ser executado.
O caso da Venezuela me parece um bom motivo para ser contra a estatização dos hidrocarbonetos, bem como contra o uso político dos preços dos combustíveis. Outro aspecto que me chamou a atenção foi o comodismo em torno do petróleo, ignorando o potencial de alguns biocombustíveis (não apenas o etanol e o biodiesel mas também o biogás/biometano) para melhorar a rentabilidade do setor agropecuário que hoje está praticamente morto na Venezuela.
Caro Daniel Girald,
Parece natural que as empresas que se consolidaram no setor de petróleo, com uma história de mais de um século, não se interessem pelas outras fontes de energia, mesmo que menos poluentes. O poder os interesses de grupos que atuam neste setor, principalmente de estatais, não pode ser subestimado.
Paulo Yokota
Justamente por uma suposta ruptura com o modus operandi da indústria petrolífera estrangeira, teria sido uma boa oportunidade até para desenvolver tecnologias próprias para promover uma integração e eventual transição para combustíveis alternativos com o mínimo de dificuldades operacionais para os usuários. Até mesmo aquela tentativa desesperada e mal-formulada de impor uma cota mínima de 50% dos veículos novos ser apta a operar com gás natural implementada a partir de 2009 pelo Chávez, que no início poderia parecer uma boa idéia, esbarrou na falta de uma infra-estrutura básica para prover o reabastecimento e falhou também ao ignorar a possibilidade de integrar resíduos agropecuários das mais diversas origens à cadeia produtova de biocombustíveis (no caso, o biometano que pode ser aplicado diretamente a veículos que já funcionam com o GNV).
Caro Daniel Girald,
No caso da Venezuela a abundância de petróleo, inclusive para exportação, não estimula o uso de energias alternativas.
Paulo Yokota