A Queda da Inflação no Brasil
12 de maio de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: a queda da inflação no Brasil, acima do perseguido pelas autoridades monetárias, as taxas de juros, os problemas que estão causando
Minha falecida mãe que era uma modesta imigrante japonesa, quando frequentava as feiras livres e notava que os preços de muitos produtos agrícolas estavam em baixa, sempre afirmava: “pobres agricultores”. Muitos consumidores ficam, com razão, satisfeitos com as quedas dos preços de vários produtos e serviços, mas nem todos sabem qual sua causa e que alguém está pagando caro por isto.
Gráficos constantes dos artigos no Valor Econômico, que valem a pena serem lidos na íntegra
É natural que o governo procure vender para a população que os méritos da redução da taxa de juros são seus, diante de medidas duras que está tomando, como a manutenção de elevados juros. Mas ficar com elas abaixo das metas que estavam estabelecidas deve soar estranho para muitos e que, apesar de todos os benefícios correlatos, algo deve estar errado. Principalmente quando o crescimento da economia ainda está muito baixo, mesmo com a renda que, deixando ser usada nas compras dos produtos agrícolas, possa ser destinada a consumo de outros produtos industriais.
Parece evidente que o baixo nível de atividade da economia brasileira, ainda que dê os primeiros sinais de uma ligeira e lenta recuperação, acabou sendo exagerado pela defasagem nas correções dos juros, diante da possibilidade de uma política fiscal onde o déficit do governo não está devidamente controlado. Também o câmbio mantido exageradamente valorizado continua dificultando as exportações adicionais de muitos produtos e beneficiando as importações, não permitindo a recuperação do emprego e gerador de remunerações para os assalariados no Brasil. Os seus preços no mercado interno continuam comprimidos. Mas os crescimentos ocorrem no exterior, beneficiando os nossos parceiros comerciais e concorrentes.
As empresas brasileiras que poderiam estar trabalhando mais intensamente e seus empregados estão pagando caro com um desemprego recorde, que ainda vai demorar a melhorar. Até a agricultura que veio sustentando a economia brasileira pelos estímulos que provoca até nas agroindústrias e todos os serviços do agrobusiness está passando por dificuldades que não são conhecidos dos gabinetes de ar-condicionado em Brasília.
As informações estatísticas estão indicando que metade da queda da inflação está ocorrendo com a redução dos preços dos produtos agropecuários. O setor rural, mais uma vez, está arcando com parte importante dos erros na execução da política econômica.
Como simples exemplos, o Brasil que se orgulha de ter uma agricultura competitiva e produzia a stevia no Estado do Paraná, um adoçante natural e vegetal saudável, está importando este produto da China. Muitos produtos considerados adequados para a saúde humana que poderiam ser produzidos no país estão sendo importados do Chile, da Bolívia, do Peru e da Colômbia, quando poderiam estar sendo produzidos localmente e até exportados, criando empregos e aumentando as rendas dos trabalhadores por aqui. Seria interessante que as competentes autoridades percorressem um pouco o interior brasileiro nos seus fundões, inclusive as nossas fronteiras internacionais onde estes produtos poderiam estar sendo produzidos.
Todos estão sendo informados que o Brasil está importando até café do Vietnã, ainda que parte do problema seja devido às secas, como no Espírito Santo. Se os legumes, as verduras, os tubérculos e outros produtos agrícolas estão mais baixos nos supermercados, nas feiras livres ou até nos centros como o Ceagesp, sem que avanços tecnológicos tenham se intensificado nestas produções aumentando suas eficiências ou melhorando os transportes das zonas produtoras para os mercados consumidores, possivelmente os modestos produtores rurais estão com menores remunerações ou até prejuízos, notadamente quando as autoridades estão elevando os juros do crédito rural e permitindo que o câmbio flutue com as conveniências dos fluxos financeiros internacionais, muitos especulativos, para aproveitarem os elevados juros praticados no Brasil.
Apesar das informações meteorológicas apreensivas, espera-se que neste ano não ocorra o El Niño provocando irregularidades climáticas como as secas que venham a prejudicar a agricultura brasileira adicionalmente. Mesmo com todos os problemas políticos que o Brasil enfrenta, as autoridades precisam conceder um mínimo de atenção para o setor rural que os alimenta, proporciona emprego e tem as condições competitivas para ajudar a recuperar a economia brasileira.