O Sempre Lembrado Genji Monogatari
23 de maio de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: considerado a retrato fiel da corte na Era Heian, diversas versões para o japonês atual, muitas traduções para o inglês, novos comentários de Renae Lucas-Hall, um clássico de mais de mil anos
Se existe alguma unanimidade na literatura japonesa, certamente é o Genji Monogatari (O Conto de Genji), uma obra clássica que conta com diversas versões (o idioma japonês da época foi se modificando no tempo), considerada por muitos como a primeira do gênero no mundo, que retrata os dramas na corte na Era Heian (século XI) com rara riqueza de detalhes difíceis de serem totalmente compreendidas hoje, mas que não perdeu a sua atualidade.
Ilustração do que seria parte do interior de um palácio no século XI no Japão, constante do artigo publicado no Japan Today
Diversos artigos sobre esta obra foram publicados em inglês e o Japan Today volta a reproduzir o escrito por Reane Lucas-Hall, que morou em Tóquio ensinando inglês e como muitas estrangeiras ela ficou encantada ao ler a sua versão em inglês na tradução feita por Royall Tyler e publicado pela Penguin. Havia uma cogitação da falecida prematuramente Yuko Takeda Polvoas de Arruda de sua tradução para o português, tarefa demasiadamente grandiosa para quem fazia total questão de sua fidelidade, ela que dominava plenamente nada menos do que sete idiomas, inclusive japonês, alemão, francês, português, inglês e italiano, entre outros.
Numa tradução livre, Renae Lucas-Hall escreve que ficou imensamente impressionada com o estilo lírico, a gama de personagens fascinantes, o simbolismo, a poesia, o imaginário, a profundidade psicológica e a sensibilidade, além da política e natureza retratadas neste livro extremamente elegante e escrito com raro esmero.
Atribui-se a autoria da obra à Lady Murasaki Shikibu, que aos 10 anos foi adotada para ser uma das esposas de Genji, como era de costume na época, o que se efetivaria somente quando ela chegou à idade conveniente. Ela era uma mulher charmosa, atraente e sensível. Genji era filho do Imperador Kiritsubo e os seus relacionamentos com os personagens da corte descrevem todos os dramas que até hoje dominam os seres humanos.
Estátua da Lady Murasaki Shikibu, autora de Genji Monogatari, em Kyoto, na postura para a leitura dos pergaminhos
Os temas centrais da obra estão na arte do amor e da sedução, a satisfação psicológica e emocional ou a frustração, bem como a estética e a beleza. O pano de fundo é a política, o poder, o ciúme e a ambição.
A obra refere-se sem reservas às paixões nos relacionamentos de um Genji que é um nobre excepcional acostumado em lidar com muitas mulheres e Murasaki, uma mulher com elevadas qualificações de uma grande amante, beirando o que poderia ser considerado hoje uma ficção, mas se tratava da realidade do que acontecia num palácio, com todos os privilégios possíveis em beleza, arte, música, poesia, vestimentas, alimentos e bebidas sem que houvesse privacidade.
Uma cena onde personagens de Genji Monogatari observam o que outros estão fazendo, constante de uma série de desenhos, inclusive de relacionamentos sexuais
Existem, além dos livros, muitos filmes e peças de teatro baseados em Genji Monogataria e os estudiosos conseguem informações de como era a vida nos palácios naquela época.
Genji Monogatari é considerado hoje como uma das maiores obras literário do mundo, permitindo conhecer muito de como viviam os nobres que ocupavam os palácios do século XI no Japão.