Os Dados da Última Pesquisa da Datafolha
2 de maio de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: confusões sobre o que está sendo decidido, decisões tomadas somente na cúpula política, problemas de comunicação do governo com tantas modificações
Lamentavelmente, o governo Michel Temer está embaraçado com tantas confusões que a população não sabe mais o que está se discutindo e decidindo no Congresso Nacional. De qualquer forma, os dados são desconfortáveis mostrando que quase dois terços da população não apoiam o atual governo, pelos dados da Datafolha.
Manifestação difusa da população contra o governo Michel Temer
Ainda que o governo Michel Temer tente atribuir às lideranças sindicais as manifestações contra a situação atual, por elas estarem ameaçadas de perder seus privilégios como os impostos sindicais, os dados fornecidos pela Datafolha mostram que existem problemas graves de insatisfações onde o governo não está conseguindo comunicar o que está se perseguindo. Tantas são as mudanças e os apoios dos parlamentares e políticos que estão desmoralizados com os muitos inquéritos a que estão sendo submetidos que a população fica confusa, atribuindo as reformas trabalhistas e previdenciárias aos interesses das empresas que apoiam o governo, na esperança de aprovação das reformas.
A população confunde os privilégios dos muitos marajás que existem em diversos setores do governo como professores, policiais e militares, onde a maioria é de modestos funcionários públicos. A confusão é tamanha que a oposição à mudança do sistema de aposentadoria atinge até os formados no nível superior, de ambos os sexos, bem como diferentes níveis de renda. Em condições normais, até em países que adotam o regime presidencialista e democrático a sustentação do governo se tornaria difícil, provocando até a renúncia para a possibilidade de novas eleições. Não se pode imaginar que no curto espaço de tempo disponível para o atual governo que está sendo questionado na sua legitimidade haja uma recuperação, mesmo com a impopularidade vigente, pois não existe um razoável consenso que as reformas propostas sejam as adequadas nos seus fundamentos, com desfigurações de toda ordem pelas concessões políticas aos parlamentares.
Na falta de um sistema partidário que permita uma maioria estável ajustado às aspirações da população, a tendência é que esta situação se prolongue não se conseguindo visualizar até quando. O Brasil não está com condições funcionais para a elaboração de um programa que permita equacionar seus principais problemas que seja de aspiração da maioria de sua população. As equipes técnicas que existem no governo e em entidades privadas, inclusive acadêmicas, não estão sistematizando as alternativas disponíveis, dentro de um mundo que está também com graves problemas.
Em alguns países, mesmo com as multiplicidades de propostas, parece começar um processo de excessiva polarização de posições, que permite aglutinar a maioria das facções com os que conseguiram as vitórias eleitorais, como no caso recente da França.
Este site vem insistindo em algumas teses, com base do que se conhece do Brasil bem como do resto do mundo. Com uma população diversificada, conta-se com volumosos recursos naturais que precisam ser aproveitados para as explorações que se podem contar até com recursos externos. Há que se conceder prioridade para a reforma política que permita que um número limitado de partidos, que consiga um mínimo de eleitos esteja representado no nível federal no Congresso Nacional, ainda que os menores possam atuar regionalmente.
Qualquer mudança, como o da Previdência Social, precisa considerar uma razoável distribuição dos benefícios, limitando-se os concedidos aos marajás da administração pública, em todos os seus setores, bem como nas estatais. Sem limites morais, não há como sustentar um sistema por um prazo longo. A tributação deve se concentrar nos indivíduos, pois as empresas acabam transferindo a carga tributária que alegam a que estão sujeitas. As desburocratizações devem ser tarefas contínuas, como a economia possível do custeio no setor público.
Há que se conceder prioridade para as atividades produtivas que geram empregos e possam ter seus produtos competitivos no mercado internacional. O setor financeiro deve voltar-se à função de alocação de recursos para as produções e comercializações, afastando-se das atividades meramente especulativas dos exagerados fluxos financeiros. A educação e a pesquisa merecem prioridade, pois são geradoras de tecnologias avançadas para tornar o Brasil competitivo.
A consolidação da infraestrutura deve considerar a sustentabilidade do país, com respeito ao meio ambiente. Os ganhos de capital com os benefícios das mesmas precisam ser tributados. Os três níveis da administração pública necessitam ser reformulados nas suas responsabilidades, limitadas aos recursos tributários disponíveis.
Há que se pensar num planejamento indicativo de longo prazo, com objetivos claros, instrumentos que serão utilizados, estratégias para perseguir as metas com cronogramas claros, evitando-se os inícios de obras que não tenham os recursos assegurados ao longo do tempo. Os estudos detalhados de engenharia e custos tendem a reduzir as possibilidades de corrupção com as constantes reformulações a que estão sujeitos os projetos de qualquer natureza. Sem uma visão de longo prazo da direção ao qual procuramos caminhar, parece que vamos continuar confusos.
Estas e outras ideias precisam ser discutidas para a tentativa de formar um mínimo de consenso, sem ficar somente nas improvisações aos quais parece que estamos envolvidos. O Brasil dispõe de entidades capazes de detalhar todos estes estudos e outros indispensáveis.