O Custo das Ligeiras Melhoras na Economia Brasileira
16 de junho de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: as melhoras ligeiras na economia, quais os seus custos, quem arca com elas
Não se pode negar que mesmo as ligeiras melhoras na economia brasileira sejam positivas, como as reduções das pressões inflacionárias e a recuperação das vendas, mas o que as está custeando e quem paga por elas.
O fundo do poço já estaria superado e as vendas voltam a crescer ligeiramente
É natural que as autoridades procurem enfatizar que o fundo do poço já teria sido superado, com as vendas começando a recuperar-se mesmo de forma modesta, ao mesmo tempo em que os preços estão se mantendo comportados. Se o emprego e a massa de salários de toda a economia não estão ainda dando sinais positivos, o que estaria custeando este início alvissareiro de recuperação da economia brasileira?
De um lado, há que se reconhecer que as autoridades liberaram recursos do FGTS em volume expressivo, mas eles eram reservas mantidas pelos contribuintes para momentos mais cruciais de suas vidas e que estariam sendo utilizados pelo governo até para financiar alguns dos seus investimentos. Consumiu-se uma parcela relevante destas reservas para estimular a redução das dívidas de muitos, bem como algumas sobras que foram destinadas para consumos que consideram mais prioritários. Não se trata, portanto, de algo que não custou nada para ninguém e só derivou de uma medida governamental eficiente. Foram consumidas estas reservas.
De outro lado, o governo enfatiza que a queda da inflação acima das metas que foram estabelecidas pelas autoridades estaria liberando recursos para os consumidores. Parece evidente que se os preços não estão subindo como no passado, a oferta de produtos feitos no Brasil ou importados do exterior excedem as demandas dos consumidores, mas aqueles que os produzem, como os agricultores, estão obtendo menos receitas que esperavam e estariam arcando com as quedas dos preços. As informações são de que os recuos mais importantes dos preços ocorreram nos alimentos. Mas o setor rural que vinha sendo o sustentáculo da economia brasileira, passando a contar com menores ganhos ao mesmo tempo em que seus custos não baixam tanto, fica sem condições de continuar ampliando suas produções, notadamente quando existem incertezas climáticas, deficiências dos serviços de escoamento de suas produções e uma concorrência internacional mais acirrada para suas exportações. E ele gera empregos diretos e estimulam muitos serviços relacionados com os agronegócios a criarem empregos indiretos. Acaba-se duvidando se esta é uma opção inteligente a médio e longo prazo.
O governo entende que se manter no poder é relevante para a execução das reformas, com o que muitos analistas podem concordar. Mas, além das reformas não estarem focando nas superações das principais dificuldades brasileiras, exigindo aperfeiçoamentos adicionais, os gastos efetuados para manter a base política parecem exagerados, atuando em sentido contrário à contenção dos déficits públicos, a dificuldade básica atribuída ao governo que sofreu o impeachment.
Se o Judiciário, agora também questionado, mantiver o atual governo até o fim do seu mandato no final do próximo ano de 2018, num período que o Brasil fica com crescentes incertezas, o tempo disponível é muito curto para a execução de um programa de maior profundidade. Medidas meramente paliativas tendem a aprofundar as dificuldades brasileiras. Mesmo neste quadro adverso, deve-se tentar algo mais expressivo que possa deixar encaminhado algumas medidas relevantes indicando que o país está disposto a introduzir mudanças significativas num prazo mais longo.
Parece útil que o Brasil aprenda com o que está acontecendo na França e na Europa. Mas necessita de novas lideranças bem preparadas e instituições políticas mais operacionais que precisam ser discutidas com urgência, pois a história não pode esperar por muito tempo, condenando países que estão ficando para trás.
As dificuldades sempre existem em todos os países. Mas os emergentes como a China e a Índia, com todas as suas imensas dificuldades, estão procurando soluções sérias para seus problemas. O Brasil necessita fazer parte de grupos como estes.