O Pragmatismo da China
28 de junho de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: a vida em Hong Kong, o caso de Taipé, pragmatismo da China
Ainda que a China adote um regime político autoritário, é surpreendente que no seu pragmatismo admita em Hong Kong um sistema econômico-político duplo e em Taiwan, que considera também parte do seu país, uma situação que mantém a sua independência política.
Foto de Hong Kong que mantém com a China uma relação de um país com dois sistemas
Em 1997, quando Hong Kong, que vinha funcionando como uma colônia inglesa após a Segunda Guerra Mundial, foi devolvido para a China, muitos analistas geopolíticos achavam que o processo poderia ter um desenvolvimento traumático, imaginando que dois sistemas econômicos diferentes, uma economia de mercado de Hong Kong e outro centralizado da China, teriam muitos graves problemas de convivência. Mas o pragmatismo chinês permitiu que ele viesse funcionando nestes últimos 10 anos, da mesma forma que Taiwan, até hoje é considerado pela China como parte do seu território, mantenha a sua liberdade desde o fim do conflito mundial em 1945, na esperança que um dia venha também a ser unificado.
Foto de Taiwan
A longa história da China permitiu florescer este pragmatismo onde a paciência permite alcançar o que muitos chegam até a pensar ser impossível. Mas as diferenças que ainda persistem acabam provocando migrações, pois é natural que os que experimentaram e viram as vantagens de alguns sistemas tenham a natural aspiração que se chegue a uma situação de razoável igualdade.
Um artigo de John Lyons e Chester Yung publicado no The Wall Street Journal informa que os estudantes provenientes da China Continental que estudaram em Hong Kong desejam permanecer nesta metrópole, não tendo a intenção de voltar para as suas regiões de origem, mesmo que tenham a esperanças que no futuro as diferenças sejam reduzidas. Há que se constatar que muitos chineses que foram estudar no Ocidente, como nos Estados Unidos e na Europa, aceleraram os seus retornos, onde hoje encontram possibilidades de aplicar o que aprenderam no exterior, notadamente nas pesquisas.
De forma semelhante, Taiwan foi onde se refugiou Chiang Kai-shek e seus seguidores depois de derrota dos nacionalistas por Mao Tsetung e seus seguidores comunistas, estabelecendo no arquipélago um país independente, sob a proteção dos Aliados, que com a adoção do capitalismo conseguiu um avanço econômico significativo.
Sempre existem os analistas que imaginam que a China acabará se conflitando com o Ocidente, disputando a hegemonia mundial com os Estados Unidos, inclusive do ponto de vista militar. O que está se verificando ao longo da história é que a China nunca teve aspirações imperialistas, mantendo colônias em diversas partes do mundo, mesmo quando tiveram oportunidade para tanto.
A China se considera o País do Meio e apreciaria que os demais pagassem respeito a sua importância, que não se restringe aos aspectos políticos, econômicos e militares, mas também do ponto de vista cultural, consolidado ao longo da história de milênios.
Quando os chineses percorreram os oceanos Atlântico e Pacífico nos anos que se seguiram a 1420, antes dos europeus, com uma frota de mais de 200 mil membros, muitos estranham que eles não tinham deixado colônias nestas regiões. Mas deixaram os mapas em que os europeus se basearam para se aventurar em alto-mar, nos seus caminhos em direção à Índia.
Tudo isto indica que as compreensões entre ocidentais e orientais ainda são superficiais, havendo possibilidades de que eles venham a ocorrer nas próximas décadas, podendo ser que as novas Rotas das Sedas sejam alguns dos caminhos possíveis, com grandes benefícios para a humanidade. Mas ainda existem muitas desconfianças que necessitam ser superadas.