Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Recomendações de Cautela Sobre a Recuperação do Brasil

2 de junho de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: a influência do setor rural, apesar do natural otimismo do governo, generalizadas recomendações de cautelas

É natural que o governo procure afastar o pessimismo reinante sobre a economia brasileira, enfatizando que o primeiro trimestre deste ano foi de início da recuperação. Mas há generalizadas recomendações de cautela, pois ainda estamos no negativo e os dados posteriores de abril e maio não parecem tão animadores.
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Gráfico constante do artigo no site do Valor Econômico que deve ser lido na íntegra

Os muitos artigos publicados na imprensa brasileira informam que esta ligeira recuperação ocorreu pela importante contribuição do setor rural que apresentou uma boa safra 2016/2017 em quantidade, mas cujos preços determinados pelo mercado internacional não foram tão favoráveis, em parte pela valorização que está ocorrendo no câmbio. É preciso lembrar também que cerca de metade da redução da inflação é atribuída ao decréscimo de preços dos alimentos, mostrando que a rendas dos produtores rurais não foi tão positiva, pois foram os que mais arcaram com os custos dos benefícios auferidos pelos consumidores brasileiros.

Há que se observar, também, sem exagero do pessimismo, que as importações de equipamentos e produtos semielaborados não foram tão elevadas, proporcionando um superávit no balanço do comércio exterior. Se a situação estivesse melhorando um pouco mais, o natural é que estivessem ocorrendo aumento da capacidade de produção e eficiência, com novos equipamentos instalados e ampliação do emprego.

Este site também tem enfatizado que existe uma pequena confusão sobre os investimentos estrangeiros que teriam aumentado, quando foram somente transferências de propriedades de brasileiros, principalmente para os chineses dos empreendimentos de geração e transmissão de energia elétrica, sem que se acrescentasse o aumento de suas capacidades, com algumas criações de empregos.

O governo parece estar exagerando na tentativa de gerar um otimismo, inclusive com aumento da publicidade tanto na imprensa escrita como televisionada. Isto apresenta alguns riscos, pois se no segundo trimestre deste ano não se registrarem novas melhorias, a opinião pública pode se sentir frustrada.

Reconhecendo a importância do setor rural na economia brasileira, o governo poderia ampliar as condições para boas safrinhas ainda neste ano, como melhores perspectivas para a safra 2017/2018 principalmente porque os preços dos principais produtos agrícolas podem estar comprimidos, com as boas safras no hemisfério norte. Haveria ainda o risco de irregularidades climáticas, como está ocorrendo, agravadas pelas possibilidades do fenômeno El Niño.

A imprensa vem enfatizando as incertezas políticas que estão adiando algumas decisões das empresas no Brasil para novos empreendimentos. Também deveria se observar que algumas economias estão apresentando perspectivas mais otimistas recentemente, ainda que num ritmo modesto, ao mesmo tempo em que autoridades de outros países estão oferecendo vantagens adicionais para investimentos feitos em seu território. No fundo, trata-se de conceder condições competitivas para empreendimentos no Brasil com relação aos nossos concorrentes, desenvolvidos e emergentes, com horizontes de prazo mais longo.

O Brasil tem todas as condições para ser um país com boas condições de retornos compensadores, desde que consigamos reduzir as incertezas que provocam aumento dos riscos. Continuamos um país dotado de recursos naturais privilegiados e recursos humanos miscigenados com elevada capacidade de adaptação rápida às condições mutantes, tendo possibilidades de recuperação do mercado interno que estaria contido por longo tempo.

Parece conveniente que, utilizando seus órgãos técnicos, o governo chamasse a atenção tanto dos empresários brasileiros como estrangeiros sobre as multas oportunidades de bons projetos, notadamente com um horizonte de prazo mais longo.