A Confusa Situação Econômica e Política do Brasil Atual

17 de julho de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: dados positivos e negativos, interesses privados de cada setor, os meios de comunicação social, situação confusa | 4 Comentários »

A atual situação brasileira, política e econômica, encontra-se bastante confusa, permitindo apenas suposições que não podem ser seguramente confirmadas, ainda que baseadas em muitos indícios.

Foto de ilustração de artigo no site de O Globo mostrando o baixo movimento de compradores numa loja, informando que as vendas em maio estiveram fracas

O grupo O Globo costumava apoiar sempre o governo, mas possivelmente em função de alguns dos seus interesses não atendidos pelo atual vem adotando uma posição relativamente crítica, ao qual o resto da imprensa se procura contrapor, possivelmente para merecer maior atenção do governo e do público. Enquanto o governo enfatiza os primeiros indícios de uma recuperação econômica, o site do jornal noticia que em maio houve uma queda de 0,5% na economia brasileira pelas contas do Banco Central, notícia que não vem sendo destacada por outros veículos. O chamado IBC – Br (índice elaborado pelo Banco Central) acusou uma sensível queda, quando os analistas esperavam que fosse positiva, indicando ainda uma flutuação preocupante na economia.

Um artigo elaborado por Gabriela Valente foi publicado no site de O Globo considerando os aspectos metodológicos deste índice, que acaba sendo de divulgação mais rápida do que o relacionado com o PIB, publicado pelo IBGE com metodologia totalmente diferente. A matéria tem o título “Economia Brasileira encolheu 0,5% em maio, maior queda desde agosto, diz Banco Central”. O artigo merece ser lido na íntegra. Pouco foi publicado pelos demais veículos de comunicação social sobre estas indicações das autoridades monetárias que servem para respaldar suas ações, como as quedas das taxas de juros.

Todos os observadores mais atentos percebem que o governo federal aumenta suas publicidades de forma exagerada procurando divulgar medidas que ainda não provocaram impactos positivos sobre a recuperação da econômica com uma tendência clara, apresentando até flutuações como as observadas. Existem anúncios que ocupam páginas inteiras de muitos jornais. Estes gastos beneficiam meios de comunicação que estão com quedas sensíveis de outras fontes de renda, principalmente do setor privado com a atual recessão na economia. Os jornais publicam artigos procurando criar um clima positivo mesmo diante de tantas medidas políticas preocupantes como o agravamento do déficit público com o aumento das despesas e quedas de receitas tributárias.

Muitos dados ainda estão negativos com relação aos níveis registrados no passado, mesmo acusando ligeiras melhoras ainda não confirmadas para muitos meses. Um deles de grande significado é o do desemprego que deixa muitas famílias até sem condições de alimentação mínima de suas crianças.

Enfatizam-se os dados recordes de produção de cereais que quantitativamente foi importante e podem estimular outros serviços como os relacionados com os agrobusiness. No entanto, os preços obtidos pelos agricultores, em muitos produtos não estão sendo compensadores e o Brasil de exportador passou a importador, como no exemplo da stevia, um produto pouco relevante na agricultura como um todo, em parte devido ao câmbio que ajuda os importadores e prejudica os exportadores, estes últimos que ajudam a criar empregos. Este site vem chamando a atenção para a necessidade de manter o setor agrícola rentável, dado o aumento da concorrência de outros produtores como dos Estados Unidos.

Algumas flutuações ocorrem devido às condições climáticas, não dependendo da ação governamental, tanto que os dados recentes sobre a safra estão bem acima dos esperados. Podem ser positivas em alguns anos como também negativas em outros pelos efeitos climáticos que não podem ser controlados pelo governo.

É evidente que muitos especialistas que trabalham em consultoria econômica estão também interessados na criação de um clima favorável na economia que estimula a demanda de seus serviços. Algo semelhante acontece com alguns setores de produção de equipamentos e produtos industriais, ainda que a recuperação seja incipiente e não indique uma tendência firme de prazo mais longo.

No fundo, existe uma interação recíproca de informações sobre a economia e dados positivos podendo estimular o otimismo de todos, ainda que indiquem flutuações por hora. As incertezas políticas, alem dos abusos das ações governamentais sem considerações morais, acabam confundindo a população e parte dela prefere manter atitudes conservadoras, aumentando suas reservas e evitando um aumento ousado de consumo.

Medidas que não só impliquem em gastos governamentais que favorecem ações dos políticos a favor do governo não indicam serem os melhores meios de uso de recursos escassos, que estão prejudicando os serviços de saúde, da educação e da pesquisa, importantes para a sustentabilidade a prazo mais longo. Até os danos potenciais ao meio ambiente, beneficiando grileiros e madeireiros ilegais com a transformação de reservas em potenciais áreas que podem ser regularizadas acabam provocando efeitos contrários aos esperados pelo governo, pelos abusos que poderiam ser considerados até criminosos.

Ainda que se compreenda que os governos necessitam preservar o seu poder, os abusos que estão sendo cometidos acabam gerando desconfianças que algo não vai tão bem como se procura divulgar.

O cronograma para os próximos meses não ajudam a economia brasileira, onde o atual governo dispõe de relativamente pouco tempo para deixar um legado razoável com reformas razoavelmente elaboradas. O que está em discussão são espécies de meia-sola, confusas, que não inspiram investimentos mais consistentes.

Também ninguém sabe como será o próximo governo e quando. Este aumento das incertezas não ajuda a ninguém, nem o atual governo como a sua atual oposição. Não parece que reformas importantes do setor político estejam sendo preparados para que o Brasil possa contar com um sistema mais adequado, que permitam programas mais estáveis e sustentáveis com um horizonte mais longo.

A própria nação brasileira não parece estar evoluindo do ponto de vista político para melhor julgamento dos seus representantes. Fica-se com a impressão que existem mais reações publicas emocionais, com fortes divisões radicalizadas na sociedade, sem que grupos com preferências ideológicas diferentes possam conviver na sociedade de forma democrática. Também aumentam as desconfianças de que o Judiciário que deveria dar a última palavra, que além de preparos mais modestos dos seus membros, apresenta profundas divergências até na sua cúpula.

O Brasil já superou diversas crises, mas contava com mais pensadores que tinham estudado a história da humanidade e as experiências de diversos povos, quando a velocidade dos acontecimentos era menor. Hoje, com a rapidez das comunicações precipita-se sua evolução sem que existam propostas razoáveis. Mas as necessidades acabam forçando soluções que se esperam sejam sensatas, que não privilegiem os interesses somente dos poderosos, mas também dos modestos, para serem sustentáveis por prazos mais longos.