Diferenças de DNA Influenciam Sociedades Coletivistas?
22 de julho de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: complexa questão levantada por um artigo publicado no The Japan Times, pesquisas efetuadas nos EUA e na Nova Zelândia, podem diferenças de DNA explicar sociedades com tendências coletivistas?
Um artigo elaborado por Rowan Hooper, editor do New Scientist, e publicado no The Japan Times, levanta uma difícil questão sobre as diferenças de DNA que influenciariam comportamentos coletivistas em algumas sociedades como as asiáticas.
Foto publicado no The Japan Times para ilustrar que os japoneses preferem a conformidade e a harmonia social ao individualismo
Muitos analistas observam que nas sociedades asiáticas, como a chinesa, a coreana ou a japonesa, existiria uma tendência para comportamentos coletivistas maiores às manifestações individuais. Muitos atribuem estas tendências a fatores culturais e políticos, onde o confucionismo teria influído, quando no Ocidente o cristianismo teria estimulado manifestações individuais. Mas hoje também se colocam outros fatores, que, mesmo ainda não conclusivos, podem incluir aspectos físicos diferenciados dos seres humanos daquela parte do mundo. Os mais céticos tenderão a rejeitar preliminarmente estas hipóteses, mas quando se constata que os asiáticos possuem intestinos expressivamente mais longos que os ocidentais, observam-se que existem fatores físicos que ainda não foram suficientemente estudados.
Uma psicóloga, Joan Chiao, da Universidade Northwestern, em Evanstron, Illinois, pensou muito no assunto e juntou uma ideia fascinante: trata-se de um pequeno pedaço do DNA que todos temos em quantidades variáveis. Ele é encontrado no gene transportador de serotonina no cromossomo 17, um produto químico associado a sentimentos de felicidade. Tendemos a nos sentir mais felizes quando ela está mais presente nas correntes sanguíneas, o que já é utilizada em medicamentos como o Prozac, para superar a depressão.
Em 1994, os geneticistas descobriram numa região chamada 5 – HTTLPR, uma forma mais curta e outra mais longa, resumidamente. Em 2003, um artigo publicado na revista científica Science mostrou um pequeno estudo de homens e mulheres jovens em Dunedin, na Nova Zelândia, que as pessoas com a forma mais curta eram mais propensas à depressão e até ao suicídio do que as com formas mais longas. Muitos trabalhos foram feitos nestas áreas do conhecimento científico.
Chiao associou-se à sua colega Katherine Blizinsky, da mesma Universidade, para examinar a ideia da possibilidade destas diferenças genéticas entre as pessoas do Ocidente e do Oriente. Uma pesquisa envolvendo 50.135 pessoas em 29 países, incluindo a Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos, Japão, China e Coreia, foi realizada, incluindo dados como valores culturais, econômicos e prevalência de doenças. Descobriu-se as culturas coletivistas eram mais propensas a conter pessoas com a forma curta de 5 – HTTLPR, mesmo quando controlaram fatores econômicos e de saúde.
Os resultados estão publicados na revista científica Proceedings of the Royal Society of London. 70 a 80% dos asiáticos possuem a forma curta, enquanto os ocidentais 40 a 45%. Os dois cientistas afirmam que o coletivismo serve como uma função antipsicopatológica. Em outras palavras, as sociedades coletivistas supostamente reduzem a quantidade de pressões psicológicas que as pessoas sentem. Reduzem a quantidade de estresse individual, pois a sociedade espalha a pressão para todos.
Não se pode afirmar que estas diferenças fizessem com que as sociedades asiáticas tornassem coletivistas, mas os estudos indicam que elas são coisas complexas. Os fatores que contribuem para a estrutura da sociedade exigem que vejamos também a genética, bem como fatores sociais e ambientais habituais.
Uma pesquisa similar entre os brasileiros poderia ser feita para confirmar se a genética pode ajudar a esclarecer se o individualismo prevalecente no país pode ser relacionado a estas diferenças, ainda que isto não esgote as explicações. De qualquer forma, são evidências que ajudam a entender partes importantes dos problemas existentes.