O Exército Não Pode Ser Confundido Com a Polícia
25 de julho de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: Força Nacional, riscos de corrompimento, treinamentos diferentes, uso do Exercito só em casos esporádicos
Uma notícia publicada no O Globo informa que o Comando Militar do Leste ainda não recebeu orientação sobre o Plano Nacional de Segurança que está sendo aplicado no Rio de Janeiro por causa da incapacidade do Estado cuidar dos seus problemas rotineiros de segurança pública.
Foto dos militares no Rio de Janeiro, publicado no O Globo, cuja matéria deve ser lida na íntegra
A calamidade pública que se tornou o problema da segurança publica no Rio de Janeiro está levando o governo federal a decidir de forma excepcional o emprego de tropas do Exército para ajudar o Estado que deveria ser o responsável pelo mesmo. Compreende-se que eventualmente, como nas Olimpíadas ou quando da reunião de muitas autoridades estrangeiras, estas tropas tiveram que ajudar a cidade temporariamente, mas quanto se trata de tentar controlar os traficantes de drogas não parece adequado que se utilizem tropas federais, que não foram treinadas para tanto e nem contam com legislações para isso.
Como se sabe, em casos de calamidade eventual a Força Nacional pode ser requisitada pelo governo do Estado para ajudá-lo no controle da situação, mas, quando a medida passa a ser cogitado até o final do ano, corre-se o risco de sujeitar as tropas federais ao mesmo processo de corrupção que estão submetidos os policiais. Muitos dos soldados são na sua quase totalidade jovens que estão prestando temporariamente o serviço militar, não são profissionais que optaram por carreiras nestas atividades militares.
Se estas decisões estão sendo tomadas pelo presidente da República e pelo ministro da Defesa, sem se ouvir a opinião do Comando Militar do Leste, acaba-se dando uma perigosa conotação de uma decisão política que está distorcendo a já precária situação das Forças Armadas no Brasil, que possui funções mais nobres, como a segurança externa.
Alega-se que muitos armamentos pesados chegam às mãos dos criminosos pela impossibilidade de um controle eficiente das fronteiras internacionais por onde entram no país. Parece que está se procurando resolver os problemas de forma inadequada, que pode acabar criando problemas profundos e de longo prazo para o Brasil.
As medidas atuais, se necessárias, deveriam ser da alçada da Força Nacional que seriam complementadas com a urgência possível, com a dotação prioritária de recursos indispensáveis para tanto. Não parece que uma situação emergencial deva ser resolvida por meios inadequados, distorcendo o papel fundamental das Forças Armadas do Brasil. Este é um assunto muito sério, não podendo ser decidido emocionalmente por aqueles que não possuem longas formações para tanto.
As causas das deteriorações que ocorrem no Rio de Janeiro devem ser claramente diagnosticadas. Tudo indica que as autoridades estaduais não podem se sujeitar a acordos com traficantes, com divisão de áreas de suas atuações. Com um diagnóstico claro, há que se implementar um programa de longo prazo, com muita paciência, para que novas situações sejam criadas, tornando administrável o problema da segurança pública, que claramente não é da alçada das Forças Armadas.