Michel Temer na Imprensa Internacional

3 de agosto de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: artigo do The Economist não vai além das generalidades publicadas na maioria da imprensa, dificuldades mais profundas, tudo indica que o Brasil perdeu importância no cenário internacional | 2 Comentários »

O que consta do artigo publicado no The Economist sobre a votação na Câmara dos Deputados que derrubou o prosseguimento das investigações dos crimes nos quais Michel Temer foi acusado indica também um cansaço na imprensa internacional sobre os problemas brasileiros. Como a população não se manifestou publicamente sobre a sua desaprovação que chega próximo da totalidade, denotando também uma saturação, parece que algo semelhante acontece na imprensa nacional e internacional.

Foto de Michel Temer publicada no artigo do The Economist

O artigo publicado no The Economist que vai para as mãos dos seus leitores neste fim de semana não vai além do que tem sido divulgado pela imprensa brasileira, quase burocrática. Registra que sua popularidade está baixa, mas os votos que conseguiu na Câmara dos Deputados foram com margem mais que suficiente para suspender o prosseguimento das investigações. Relata a acusação baseada na gravação de Joesley Batista do Frigorífico JBS e da mala recebida pelo seu auxiliar Rodrigo Loures.

Para conseguiu o apoio dos deputados, gastou um bom recurso dos brasileiros, que só beneficiaram os seus parlamentares apoiadores e não a população, além de prometer que reformas agora teriam prosseguimento, tanto as trabalhistas como previdenciárias, chegando bem ou mal até o fim do seu mandato em 2018. Mas, na realidade, estes próximos meses devem ser desgastantes, para uma equipe enfraquecida, apesar das incisivas manifestações oficiais em contrário, com apoio de parte da imprensa brasileira que está sendo beneficiada pelos anúncios do governo. Ela também parece estar confusa diferindo do que tem sido tradicional no Brasil com a principal rede de TV com posições críticas. Mas muitos acham que esta situação seria um mal menor, pois as alternativas aparentam ser mais fracas. No fundo, as reformas que já foram desfiguradas não atingem o cerne dos problemas brasileiros que continua sendo a máquina administrativa pública com o apoio dos parlamentares.

Apesar da ligeira recuperação da economia, quando comparado com os níveis do passado, ainda são modestas, deixando uma massa de desamparados na população que luta com suas dificuldades. Nada de muito expressivo parece possível de se obter numa sociedade extremamente polarizada, que Michel Temer afirma tentar unificar, o que é difícil sem um programa excepcional. Observam-se preocupantes desgastes no Judiciário, com manifestações públicas de ministros até do Supremo.

As indicações tanto no setor urbano como o rural da economia, que veio sustentando a brasileira, não são brilhantes e, diante da falta de investimentos, as eficiências estão baixas para uma competição acirrada com outros países concorrentes. O que se pode conseguir é simples atenuante, sem claras tendências para uma recuperação vigorosa, ainda que seja melhor do que nada. Para se obter o apoio dos ruralistas facilitou-se a regulação das grilagens e comprometeu-se até a sustentabilidade, sacrificando-se as reservas existentes.

O uso das Forças Armadas para policiamentos pode apresentar risco de contaminação de alguns dos seus membros com o tráfico de drogas que não pode ser subestimado. Recursos que foram cortados da saúde, da educação, da pesquisa e da assistência social foram desviados para atender os que apoiaram as suspensões das investigações. Não parecem ser boas opções, mas o mundo continua com outros problemas considerados mais graves, sem que o Brasil tenha relevância neste cenário.