A Difícil Interpretação do Exterior Sobre o Brasil
26 de setembro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: a prioridade política do governo atual, esperança na redução do setor público brasileiro, um artigo no site da Bloomberg
Um interessante artigo foi publicado por Simone Preissier Iglesias e Luiza Marini no site da Bloomberg antevendo que o setor público brasileiro está na iminência de ser enxugado, o que seria recomendável, mas no momento ainda está dando sinais em contrário.
Plano piloto de Brasília, que atualmente é muitas vezes maior do que foi planejado inicialmente
O artigo menciona que o sonho de muitos brasileiros era trabalhar no setor público, que apresenta uma remuneração e vantagens superiores aos do setor privado. Mas que, segundo planos do governo com a privatização de muitas estatais e serviços públicos, tenderiam a caminhar para os mesmos níveis das remunerações diretas e indiretas do setor privado. Ainda que isto possa estar nos planos, a verdade é que atualmente no esforço de se manter no poder do governo, Michel Temer vem atendendo as principais aspirações dos parlamentares, principalmente, que desejam bons cargos para os seus protegidos. Não há indícios que haja um enxugamento do setor público, pelo contrário. Ainda que isto seja impossível de ser sustentado ao longo do tempo.
Quando se observam as discussões em curso, não se notam as tendências de redução das vantagens daqueles que trabalham no setor público. As reformas como as políticas não são de moldes a resultarem em redução do setor público, que continua sendo o alvo principal dos políticos que os estão exigindo em troca do apoio para se posicionarem contra as acusações que atingem o presidente e seus principais auxiliares, bem como grande número de políticos. Lamentavelmente, há uma distância muito grande entre a dura realidade e o discurso que está sendo divulgado pelo governo com o dispêndio de muitas verbas publicitárias.
Quando Oscar Niemayer e Lucio Costa planejaram Brasília, seu dimensionamento era parte do que é atualmente. Baseando somente em conhecimentos teóricos de arquitetura e engenharia, não consideraram as realidades políticas e antropológicas que determinaram as tendências futuras do que, infelizmente, começou com os portugueses que organizaram o Brasil.
Seus dirigentes já tinham a tradição histórica de contar com muitos cartórios que eram reservados aos protegidos da coroa. A burocracia predominava em Portugal de então para habitar o Brasil desde as capitanias hereditárias. As concessões públicas eram o atrativo maior. Da exploração do pau-brasil à produção de especiarias como cana de açúcar, que vinham para a Europa das antigas Índias, passaram para outras como de minérios e pedras preciosas, usando indígenas e africanos como escravos. Evoluiu-se posteriormente para a exploração do algodão e do café, sempre tendo os interesses ingleses à retaguarda dos portugueses.
Quando a escravidão foi abolida, vieram os imigrantes de diversas origens que ajudaram a ampliar as grandes metrópoles de então, ajudando com a infraestrutura de transportes, energia e abastecimento de água para tornar a vida urbana mais amena e viabilizar as exportações das matérias-primas agrícolas. Pouco se preocupou com as atividades manufatureiras para abastecer o mercado interno, como aconteceu nos Estados Unidos.
Até hoje a exportação de minérios e produtos agropecuários continua sendo a atividade mais relevante, sendo que a indústria não se organizou de forma a ser competitiva no mercado internacional, como veio a acontecer com países asiáticos. A educação e a cultura foram organizadas no Brasil com vistas ao que acontecia no passado na Europa e depois da Segunda Guerra Mundial nos Estados Unidos, sem que se imaginasse a organização de um país realmente independente que tendo começado entre os norte-americanos, hoje de estrutura de forma atualizada em países como a Austrália ou o Canadá.
Somente com uma mudança radical no Brasil haveria condições para a alteração estrutural de importância, o que até o momento não se esboça de forma significativa. Não será por acaso que estas alterações se processarão, se não houve um plano de longo prazo para tanto, pensado de forma profunda.
A abundância dos recursos naturais e a forte miscigenação das populações de diversas partes do mundo acabaram moldando o Brasil atual que tem condições fundamentais para estas mudanças. Mas há que se incutir politicamente esta aspiração na população brasileira de forma que se torne a força capaz de provocar estas mudanças que não são fáceis de serem conquistadas.