Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Conveniência da Aplicação da Teoria do Portfólio

11 de setembro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: exportações para a China, investimentos no Brasil, relacionamento com a China, riscos

Apesar do crescimento impressionante da China nas últimas décadas, a tentativa de Xi Jinping concentrar todo o poder naquele país assusta a todos. Como se trata de um país autoritário, sempre se recomenda cautelas no aumento dos relacionamentos bilaterais do Brasil com os chineses. Há uma tendência exagerada do atual governo tentar que eles aumentem suas participações em projetos brasileiros, ao mesmo tempo em que a demanda da soja daquele país tende a provocar um aumento da colocação da produção brasileira naquele mercado.

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Encontro do Michel Temer com Xi Jinping, aproveitando a reunião dos BRICS na China

Todos sabem que o nível do endividamento da China é muito elevado, superando a 170% do seu PIB, o que provoca a desaceleração do seu crescimento. Mas procura-se preservar esta expansão até que Xi Jinping consiga colocar seus principais auxiliares nos postos chaves do Partido Comunista Chinês ainda este ano. O exagerado esforço de concentração do poder, em todos os setores, acaba gerando naturais resistências que são surdas na China, dado o seu regime autoritário que está se estendendo até aos chineses que atuam no exterior.

O que parece evidente é que as estatais chinesas envolvidas nos pesados investimentos internos e externos darão prioridade para a continuidade de sua aplicação na própria China, não se podendo esperar que sejam considerados mais importantes que os efetuados em países parceiros como o Brasil no caso de alguma dificuldade.

Como sempre existem riscos que nem sempre são explicitados claramente, a aplicação prática da teoria do portfólio recomenda, sempre que possível, uma diversificação tanto na dependência dos investimentos chineses que vieram crescendo substancialmente no Brasil, mesmo em ativos que proporcionam uma razoável rentabilidade, como no setor de geração e transmissão de energia.

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Gráfico constante do artigo na Folha de S.Paulo sobre os recentes investimentos chineses no Brasil

Ao mesmo tempo, ainda que a demanda chinesa de proteínas vegetais e animais continuem em crescimento, o aumento da produção brasileira como de soja ou carnes de diversas origens não devem se concentrar exageradamente na China. Os riscos são elevados, pois nem sempre as regras de comércio internacional podem ser aplicadas, alegando-se problemas sanitários como de contaminações em muitos produtos, quando os chineses considerarem necessários frearem suas importações. Ainda que seja um mercado promissor, o máximo de diversificação em direção a outros países asiáticos parece recomendável.

Um artigo publicado no Valor Econômico por Kauama Navarro, com base nos estudos do Rabobank, informa que 80% da demanda adicional de soja dos chineses devem ser atendidas pela oferta brasileira, que deve ser considerado com a devida reserva, mas pode corresponder a uma tendência.

Em economia, um mínimo de cautela é sempre recomendável, ainda que as aparências atuais do mercado não indiquem aumento substancial dos riscos.