Futuro da Agropecuária no Mundo

19 de setembro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: dois artigos mostram a importância da escassez para motivar esforços para a sua superação, o artigo National Geographic Magazine informa o que está sendo feito na agropecuária na Holanda que tem agudas limitações de espaços, o artigo no Nikkei Asian Review sobre os problemas na China que adquiriu fazendas no exterior para assegurar o seu abastecimento

Como economista do Brasil que enfrenta dificuldades para a elevação de sua produtividade agropecuária, mesmo contando com abundantes recursos naturais, informações provenientes do exterior estimulam reflexões que geram até um sentimento de otimismo. Aparentemente contraditório, a escassez é a matéria-prima básica dos estudos da economia que pode gerar reformulações políticas que permitam superar as dificuldades brasileiras, com um pouco de inteligência e muita perseverança nos trabalhos que exigem ideias e tempo para a maturação.

O número de setembro do National Geographic traz um interessante e longo artigo de Frank Viviano sobre o que está sendo feito na Holanda, que vale a pena ser lido na íntegra

Como um contraponto, o Nikkei Asian Review publica um artigo de Fred Gale, economista chefe na China para o Serviço de Pesquisa Econômica do Departamento de Agricultura dos EUA, que pode ter seus vieses, mas relata os esforços chineses para remodelar a agricultura global visando o seu abastecimento, que também merece ser lido na íntegra.

Foto no artigo do site do Nikkei Asian Review informando sobre o esforço que se faz para abastecer a China com produções de todo o mundo

Na Holanda, um grande esforço está sendo feito pelo setor privado sem que haja estímulos especiais da parte do governo. Também na China, muitos dos esforços para suprir a sua demanda são feitas pelas empresas privadas e produtores familiares, mas nas aquisições de terras no exterior se sente o estímulo do governo daquele país, que não vem conseguindo os resultados esperados para a produção rural eficiente, que apresenta muitos problemas específicos de cada país ou região que demandam prazos longos para serem absorvidos.

Os esforços holandeses que também são feitos no exterior, principalmente nos países africanos, visam a sustentabilidade mundial, procurando absorver muitos conhecimentos que vieram permitindo preservar as atividades rurais, aproveitando tudo que for possível, muitas vezes desperdiçados. Também existem novos conhecimentos que estão sendo aproveitados no campo, com o uso intensivo de vinil houses ou estufas, onde uma série de variáveis pode ser controlada, notadamente com a ajuda da informática. Muitas bactérias já estão sendo aproveitadas para o desenvolvimento das plantas, micróbios que podem provocar pragas estão sendo usadas para neutralizar outras, a criação molecular permite expressivas economias, muitas sementes são geneticamente modificadas para resistirem às pragas. Os holandeses são hoje importantes fornecedores de sementes no mundo.

A China veio recentemente ampliando suas atividades no exterior, que em grande parte visa o favorecimento do seu abastecimento, pois sua demanda continua crescendo como no resto da Ásia. Mas sua capacidade de se ajustar às condições locais ainda parece precária, gerando dificuldades em muitos lugares onde atua.

O que estas observações parecem sugerir é que a escassez existente força os seres humanos a procurarem formas de sua superação, gerando novas tecnologias que propiciam maior eficiência nas produções agropecuárias. Quando não existem fortes limites na disponibilidade de recursos naturais como terras, águas e insolações, a tendência dominante parece ser a de crescimento extensivo que não proporciona um aumento da eficiência e da produtividade.

No caso brasileiro e de muitos outros países semelhantes, parece que a escassez é da política de desenvolvimento agropecuário, havendo carência de pessoal qualificado para a sua formulação. Se o raciocínio acima for válido, ou seja, que os seres humanos tendem a agir para superar suas limitações visando a sua sobrevivência, pode haver esperança que acabem pressionando no sentido da formulação da política agropecuária inteligente por parte de suas autoridades. Se não forem capazes destas reações, lamentavelmente, ao longo da história houve povos que desapareceram do universo, no que podem ter havido acidentes naturais que ajudaram nestes processos.

No Brasil, que recebeu imigrantes das mais variadas origens, permite-se acreditar que o país possui a capacidade de aprender com o que observam em outros países que conseguiram sucesso na política agropecuária, tanto que muitas tecnologias foram adaptadas para ser aplicadas nesta parte do mundo. Existem motivos para esperanças de significativas melhoras.