Política na China e no Japão
26 de outubro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: entendimentos com outras correntes, mesmo em sistemas diferentes como o chinês e o japonês, necessidade de um razoável consenso
Ainda que os sistemas políticos sejam diferentes na China e no Japão, as necessidades de entendimentos entre diversas correntes políticas exigem um mínimo de entendimento, pensando no destino do país.
Os sete membros do Politburo chinês, comandados por Xi Jinping
Os noticiários dos principais veículos de comunicação social do Ocidente não captam algumas nuances do que houve no Conselho do PC Chinês, quando Xi Jinping, que possui um forte comando do Partido Comunista, teve que fazer algumas concessões para as facções comandadas pelos ex-presidentes Jiang Zemin e Hu Jintao, cujas lideranças ainda influenciam partes menores dos membros do mesmo partido. Mesmo num sistema autoritário como o chinês, por mais forte que esteja sua posição, Xi Jinping não pode decidir tudo como seria do seu desejo, havendo necessidade de composições com outros segmentos para o governo do país nos próximos cinco anos, no mínimo. Num certo sentido, as decisões acabam sendo coletivas.
Assim, um dos seus principais auxiliares, Wang Qishan, que cuidava da poderosa Comissão Central de Inspeção Disciplinar e que abateu políticos importantes do país, teve que se aposentar, apesar de ter sido cogitado sobre a possibilidade de continuar como um dos sete membros mais importantes do Politburo chinês, como seria desejo pessoal do Xi Jinping.
No Japão, onde o primeiro-ministro Shinzo Abe, que comanda a coligação do seu partido PLD – Partido Liberal Democrata que, junto com o Komeito, obteve a maioria absoluta da Dieta, procura as principais forças da oposição para viabilizar as reformas constitucionais necessárias para o país.
O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, anuncia que procurará os oposicionistas para formular a proposta da reforma constitucional, apesar de ter obtido na eleição a maioria absoluta para a sua coligação
Os japoneses sabem que não foi a coligação governamental que conseguiu a maioria absoluta na eleição para a Dieta, que o habilitaria até aprovar as reformas constitucionais. Na realidade, quem perdeu foram as oposições que não conseguiram articular uma frente, tendo sido ajudado pelo baixo comparecimento nas eleições distritais, sendo que estará sujeita às medidas antipáticas para a população, como os aumentos dos impostos e dos recursos para cuidar de sua defesa externa.
Mesmo em países tão diferentes do ponto de vista político e suas tradições, os entendimentos de diferentes correntes, partidos ou facções são indispensáveis, para formar um razoável consenso sobre as reformas indispensáveis para o país. Este tipo de lição deve ser entendido pelo Brasil, quando mecanismos exagerados estão sendo utilizados como se fosse possível obter decisões importantes, atropelando os que pensam de forma diferente. Sem um razoável consenso, mesmo que as medidas sejam aprovadas no Legislativo, não se tornam sustentáveis por um longo período, sem o forte suporte da população brasileira.
Na China, as negociações demandaram mais tempo, atrasando o anúncio dos que estariam na cúpula do Politburo de sete membros, aceitáveis para as diversas facções, como os que compõem os escalões logo abaixo terão importância nos programas e projetos do país para os próximos anos.
No Japão, Shinzo Abe teve a capacidade de entender que a população japonesa é dominantemente conservadora, tendo problemas com os usos de armas, como as atômicas, diante do que sofreram em Hiroshima e Nagasaki, além dos problemas que enfrentam em Fukushima com contaminações nucleares. Mesmo temendo os riscos de problemas com a Coreia do Norte e os problemas com as tropas norte-americanas estacionadas no Japão, sabe que não pode avançar muito rapidamente na sua defesa externa.
Os que possuem experiências políticas acumuladas ao longo de muito tempo sabem que num país há que se considerar as conveniências que exigem entendimentos sustentáveis ao longo de décadas, não dependendo dos que estão eventualmente no poder.
Os brasileiros deveriam estudar mais profundamente o que aconteceu na China e no Japão, para ver se podem aproveitar algumas de suas lições, com as adaptações indispensáveis.