Quadro Atualizado Sobre as Eleições no Japão
4 de outubro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: as dificuldades para mudanças significativas, força do conservadorismo, informações da imprensa japonesa
Ainda que se reconheça que Shinzo Abe já não apresenta muitas possibilidades de soerguer a economia japonesa e ressaltar a sua importância política internacional, os japoneses são eminentemente conservadores, aspirando por mudanças paulatinas, notadamente diante das ameaças da Coreia do Norte.
A governadora Yuriko Koike e seu novo Partido da Esperança, ainda que tenha crescido muito em termos nacionais, sabem que deve se manter cautelosos, tendo lançado 192 candidatos à Dieta, o que não possibilita ter a maioria do total de 465 membros
De forma muito responsável, Yuriko Koike sabe que tem um longo futuro pela frente e, mesmo coligando-se a outros partidos, não pretende disputar o cargo de primeiro-ministro, mantendo-se como governadora e não se candidatando ela própria para a Dieta, por ora. Tendo rejeitado os membros da extrema direita do Partido Democrata no Partido da Esperança, procura manter um grupo que deve ir crescendo por mais algum tempo, principalmente se Shinzo Abe não conseguir sucesso no seu novo mandato, que poderá conquistar com seu aliado atual, o partido Komeito, de fundo religioso.
Dos 192 candidatos do Partido da Esperança, 109 são oriundos do Partido Democrata, enquanto a situação, junto com o Komeito, espera fazer 233 parlamentares, a metade da Dieta, o que não lhe assegura uma grande tranquilidade. A política também no Japão é extremamente dinâmica e muitas mudanças podem ocorrer até as eleições ou depois delas.
Tudo indica que Yuriko Koike pretende realizar as Olimpíadas de 2020 com sucesso para consolidar o seu prestígio internacional. Tornando-se o principal grupo de oposição ao governo a sua liderança deverá manter Shinzo Abe sob forte pressão, inclusive no seu intento de elevar o imposto de vendas de 8 para 10%, que certamente não é de preferência de nenhum eleitor e que poderá provocar dificuldades para a recuperação da economia japonesa. A imprensa japonesa informa que ela se coloca como o principal contraponto a Shinzo Abe, tanto adiando a possibilidade de elevação dos impostos como em outros aspectos de relevância no Japão.
Na economia como um todo, enquanto Shinzo Abe enfatiza o aumento da produtividade e desenvolvimento de recursos humanos, Yuriko Koike destaca a atração de investimentos externos e a importância do setor financeiro do Japão. Abe propõe uma reforma constitucional aumentando as atividades do Sistema de Autodefesa do Japão e Koike se dispõe a discutir a inevitabilidade da mudança do Artigo 9 da Constituição japonesa que estabelece a orientação pacifista.
Na diplomacia japonesa, Abe propõe uma política proativa enquanto Koike manifesta-se a favor de uma política realista sobre o pacifismo japonês. Na política energética nuclear, Abe é a favor da instalação adicional de usinas com segurança, enquanto Koike é a favor do objetivo zero de plantas nucleares. Há, portanto, políticas claramente divergentes que devem ser submetidas aos eleitores.
Muitos jovens estão se apresentando nestas eleições e o Partido da Esperança estabeleceu com outros partidos da região Sul do Japão um pacto de não agressão, o que significa que não lançarão dois candidatos em muitos distritos, de forma a manter condições para expansões futuras.
Mesmo que as oposições a Shinzo Abe não conquistem o poder, o que é mais provável, elas estão registrando avanços estratégicos para o futuro, com a devida cautela. Os japoneses, tradicionais aliados dos norte-americanos, notadamente na defesa externa, também enfrentam dificuldades com as trapalhadas de Donald Trump.
O que parece evidente é que os que apoiam Shinzo Abe devem perder cadeiras com relação ao passado recente, sendo que Yuriko Koike se consolida como a líder da oposição a ele, visando o futuro do Japão. As eleições devem acentuar estas diferenças com relação ao passado e o futuro.