Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Canção da Terra no Sesc Pinheiros

17 de dezembro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: apoio da Fundação Japão no Sesc, direção do japonês Yoshi Oida de 84 anos que vive na Europa, um espetáculo imperdível, uma leitura asiática chino-japonesa, versão operística da obra de Gustav Mahler

São Paulo tem o privilégio de poder assistir a um espetáculo inusitado que combina uma rara visão europeu-asiático sobre a morte. Gustav Mahler compôs "A Canção da Terra, em 1907, quando perdeu a sua filha de três anos, encontrando alento na versão poética de Hans Bethge dos poemas clássicos asiáticos, e a montagem da ópera de Yoshi Oida dá uma visão budista da morte, que seria a mera parte da natureza com a ideia da transitoriedade da vida.

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Foto do ensaio do ator Toshi Tanaka e do mezzo-soprano Masami Ganev, no Sesc Pinheiros, publicada no artigo de Maria Luísa Barsanelli na Folha de S.Paulo, que deve ser lido na íntegra

A ópera apresenta um bom equilíbrio, sem nenhum exagero, com a regente Erica Hindrikson dirigindo a orquestra Ensemble e Instituto Fukura, com solista mezzo-soprano Masami Ganev e o tenor Miguel Geraldi. Os textos de Hans Bethge (1876-1946) estão sobre os versos chineses de Li-Tai-Po (701-762), Tchang-Tei (757-830?), além de Mong-Kao Yen e Wang-Wei (701-761).

Yoshi Oida explica no catálogo que também encontrou no México o que na Ásia é comum, considerando a morte parte natural da vida e da natureza, não devendo ser encarado como um acontecimento lamentável. O cenário de uma simplicidade zen favorece a adequada compreensão da ópera, como imaginado pelo compositor Gustav Mahler, mas enfatizado pela visão do diretor cênico Yoshi Oida, que apresenta um espetáculo inusitado, muito aplaudido por uma plateia que deseja apreciar visões diferentes do teatro.

O espetáculo será apresentado no Teatro Paulo Autran do SESC Pinheiros em duas fases, a primeira até 20 de dezembro, e outra de 5 a 14 de janeiro de 2018. É um brilhante encerramento do ano e início do próximo desta instituição cultural ímpar, dirigida com rara capacidade pelo diretor regional do SESC em São Paulo, Danilo Santos de Miranda, que estava presente nesta apresentação inaugural.

Mesmo com todas as dificuldades por que passa o Brasil, contando com o apoio da Fundação Japão os ingressos para os filiados do SESC são mais do que modestos, não sendo exagerado para o público em geral. Ninguém que tem o mínimo interesse pelas questões culturais pode perder esta rara oportunidade que mostra o que é possível com o intercâmbio do Ocidente com o Oriente.