A Competição da Tecnologia Chinesa com a dos EUA
16 de fevereiro de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: a arrogância norte-americana está afetando o Vale do Silício, admitindo que o Vale do Silício não mantenha a superioridade por muito tempo, artigo do The Economist comparando a geração de tecnologia na China e nos EUA
Um artigo publicado no The Economist reconhece que a China já superou os Estados Unidos nas exportações em 2007, na produção industrial em 2011 e no PIB deve chegar em torno de 2030. Mas, por ora, o Vale do Silício gera as melhores ideias, os recursos mais inteligentes e os empresários mais credenciados que se combinam num conjunto estrondoso, que ninguém pode igualar por ora, segundo a revista.
Ilustração constante do artigo do The Economist, que vale a pena ser lido na íntegra
As atitudes dos norte-americanos com relação à tecnologia chinesa passaram por várias fases de negação dos últimos 20 anos, segundo a matéria, usando o que foi dito uma personagem do Vale do Silício. Primeiro, que os chineses eram meramente copiadores, não tendo relevância. Mais recentemente, que eram como tecnologias de Galápagos, sendo únicas, não podendo ser utilizadas no mundo. Agora começou uma nova etapa onde admitem que os chineses estejam chegando ao nível de suas tecnologias. A era da tecnologia norte-americana de “arrogância imperial” estaria terminando.
Os líderes tecnológicos adoram visitar a Califórnia e lá investem, como também já fizeram com grandes missões para aprender com a Usina de Itaipu. Os gigantes chineses como Alibaba e Tencent estão no mesmo grupo da Alphabet e Facebook norte-americanas. Novas estrelas chinesas em investimentos em ações, como a Didi Chuxing (taxis), Ant Financial (pagamentos) e a Lufax (gerenciamento de patrimônios), podem se destacar em 2018/2019, segundo a revista.
As empresas de capital de risco estão crescendo no mundo. Os visitantes norte-americanos retornam da China, visitando Beijing, Hangzhou e Shenzhen, impressionados com a ética empresarial dos chineses. O governo chinês almeja liderar a Inteligência Artificial no mundo em torno de 2030. Com vastas atividades, incluem o desenvolvimento de cidades inteligentes, carros autônomos e definição de tecnologias globais, algo parecido com os japoneses na década de 1960. E as empresas chinesas levam a sério as “orientações administrativas” de entidades do governo, chegando a atuar como uma espécie de China Inc.
As empresas de tecnologias globais têm sido lucrativas para os norte-americanos. Apoiam sete milhões de empregos no país, pagam duas vezes o salário médio da sua economia. Outras empresas usam suas tecnologias tornando-se mais produtivas, as norte-americanas são 50% mais digitalizadas que as europeias, segundo a McKinsey. O mundo segue muitas de suas padronizações, como nas atividades online. Os seus lucros anuais no exterior de US$ 180 bilhões são impressionantes.
Como previsto por Schumpeter, as perdas com os despojos são expressivas diante da supremacia tecnológica. Os que se tornam obsoletos acabam desaparecendo. Ainda os chineses estão atrasados em tecnologia em 42% das empresas, mas eram de 15% em 2012, devendo se entender que muitas acabaram sendo arcadas por entidades oficiais, de uma forma ou outra, o que é mais fácil quando se está crescendo rapidamente.
Como pontos fracos da tecnologia chinesa, o valor de mercado de suas empresas de tecnologia é de apenas 32% das norte-americanas. Existem poucas empresas chinesas no valor de US$ 50 bilhões e US$ 200 bilhões. Elas são insignificantes em semicondutores e software voltadas para empresas. Os produtos tecnológicos ainda não permeiam a economia industrial. Ainda são primitivas e somente 26% são digitalizadas como as norte-americanas. Em investimentos, só 30% são tão grandes quanto as norte-americanas em tecnologia, vendendo somente 18% no exterior. Mas tudo isto pode indicar que os chineses sabem onde podem melhorar, pelos caminhos que já foram trilhados pelos norte-americanos. Poderia se acrescentar que muitos chineses estão estudando nas boas universidades norte-americanas, sendo que o inverso é significantemente mais baixo.
A disputa ocorrerá no exterior e existem muitos países que temem a opção tanto dos chineses como dos norte-americanos, que são fechados entre eles. É o que parece estar acontecendo nas telecomunicações, entre muitos outros setores. No caso brasileiro, ainda que as relações com os Estados Unidos não sejam tão intensas, há que evitar o exagero de dependência dos chineses.
Todos sabem que tecnologia são fatores que demandam tempo e os norte-americanos que conseguem ver longe estão ficando paranoicos com o que está se desenhando para o futuro, precisando conhecer também o que está ocorrendo na China. Espera-se que seus aeroportos ainda estejam abertos e funcionando para os norte-americanos.
Ainda que o artigo esteja relacionando tudo como uma bipolarização, há que se considerar que também existem tecnologias que estão se desenvolvendo em outras partes do mundo como a Europa, além de outros países como Cingapura, Canadá, Austrália e outros centros, mesmo que não tenham as dimensões e importâncias dos norte-americanos e chineses.