O Que a Política Monetária Pode Fazer
9 de fevereiro de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: alguns acreditam que a política monetária pode fazer mais do que lhe é possível, necessidade de coordenação com a política fiscal, uma realidade muito mais complexa que exige arte na sua prática, uma troca de ideias provocada pelo The Economist
Muitos economistas, como outros acadêmicos, tendem a pensar que o pouco que conhecem de seus instrumentos seja o suficiente para provocar a melhoria da economia, não tendo a compreensão que a realidade é muito mais complexa, envolvendo conhecimentos importantes dos mais variados setores da sociedade. A economia, notadamente na política econômica, não é uma ciência, mas meramente uma arte que exige reconhecer em cada momento os fatores que podem proporcionar alguns parcos resultados quando manipulados. Mesmo o artigo do atual número da revista The Economist parece incapaz de captar toda esta complexidade e limitação da realidade que deixa os economistas perplexos.
Alan Greenspan que não compreendia por que a tecnologia da informação ainda não estava aumentando a produtividade na década de 1960, mas teve o privilégio de comandar o FED – Banco Central dos EUA no período mais longo de crescimento da economia norte-americana
A revista The Economist cita no seu artigo as contribuições de importantes economistas acadêmicos recentes que influíram na eficiência da política econômica para conseguir resultados apreciáveis na economia ao longo das últimas décadas. Ainda que tenham indicado os fatores que consideraram relevantes do ponto de vista econômico, não mencionaram, entre muitos, a política, a comunicação social, o desenvolvimento tecnológico e a psicologia social que determinaram o clima positivo para que a política econômica tivesse sucesso. Também seria indispensável a adequada compreensão da história e da cultura que determinam todas as características de uma economia com a qual está se procurando trabalhar, contando com agentes capazes da gestão eficiente que costuma apresentar muitas limitações para alcançar o que se está sendo objetivado.
Como fica difícil trabalhar com esta exagerada complexidade, os teóricos acabam montando um modelo com as variáveis que entendem ser as estratégicas, com as relações que pensam existir entre eles, o que é uma mera simplificação da realidade. Os instrumentos econométricos hoje conhecidos são capazes de detectar as chamadas correlações espúrias que costumam ocorrer, como a atual política monetária brasileira com a redução da inflação no Brasil, que proporciona outros benefícios.
Os economistas mais experientes sabem que a relativa valorização do câmbio possibilitada pelo clima favorável para uma boa safra agrícola permitiu que os agricultores suportassem preços mais baixos que contribuíram para a redução da inflação. O Brasil também foi beneficiado pela baixa da inflação do resto do mundo, mas o governo atual aproveita para disseminar que o fenômeno ocorreu pela ação eficiente do Banco Central do Brasil, que na realidade corria de forma atrasada, depois que a pressão inflacionária já tinha se reduzido, quando na realidade existe uma grande defasagem para que a política monetária proporcione resultados. É natural que as autoridades procurem se beneficiar de efeitos para os quais pouco contribuiu com suas decisões.
Muitos não sabem que a política monetária é eficiente para contrair uma economia, mas ineficiente para estimular o crescimento, que acaba dependendo da política fiscal e outras medidas estimuladoras do governo. Ela pode influir na demanda, mas pouco no lado da oferta. No passado, as autoridades monetárias podiam estabelecer linhas de crédito específicas para estimular alguns setores estratégicos da economia, mas hoje se restringem as medidas de caráter geral, como influir na taxa de juros.
As necessidades políticas de manter uma aparente maioria parlamentar do governo vêm implicando em fortes distorções da política fiscal, onde recursos fundamentais para a Educação, Saúde, Pesquisa e Segurança Pública estão sendo sacrificados para beneficiar projetos sem relevância, de interesse de alguns políticos. A um prazo mais longo isto acaba reduzindo a eficiência da economia brasileira. Projetos fundamentais como a correção da política previdenciária não estão sendo elaborados adequadamente, fazendo com que poucos privilegiados do setor público sejam responsáveis por grandes gastos, enquanto a maioria dos brasileiros arca com as restrições adicionais indispensáveis para manter um precário equilíbrio, que exigirão novas reformulações urgentes nos próximos anos.
O Brasil está se distanciando em competitividade mesmo do mundo emergente, mas a política econômica concentra-se somente em objetivos de curto prazo, como se o prestígio popular do principal mandatário brasileiro fosse mais importante que o país como um todo.
Todas estas considerações sobre a teoria econômica só mostram que a chamada macroeconomia tem uma influência limitada no comportamento de uma economia. Disto decorre a atenção que os governos estão dando as medidas da microeconomia que influem mais diretamente sobre o comportamento das empresas que atuam numa economia, o que demanda muito mais trabalho detalhado.