Uso da Internet Não Melhorou o Ensino Universitário nos EUA
8 de fevereiro de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: abaixo da expectativa, artigo de Kenneth Rogoff no Project Syndicate, poderia ter efeitos indiretos na sociedade
Kenneth Rogoff é professor de Economia na famosa Universidade de Harvard, mas ele se mostra frustrado com a introdução da Internet no ensino superior dos Estados Unidos, que não teria melhorado quanto se esperava, em parte pela resistência dos professores, segundo ele.
Segundo o professor Kenneth Rogoff, a introdução da Internet não melhorou as aulas quanto se esperava, mesmo proporcionando outras vantagens, diante da resistência dos professores
Existia um gracejo na Universidade de São Paulo afirmando que “quem sabe faz, quem não sabe ensina”, mostrando que os professores acadêmicos nem sempre estavam enfronhados com as complexas realidades, elaborando modelos que quase sempre não ajudavam os alunos a pensar como atuar de forma eficiente na vida real. Parece que com a introdução da Internet, ainda que algumas aulas mais interessantes sejam disseminadas até a longa distância, com a ajuda do PowerPoint ou como no caso da Khan Academy (disponível até no Brasil, com ajuda da AmBev), mesmo os professores das universidades norte-americanas não apresentaram grandes melhoras nas suas atuações, segundo o autor Kenneth Rogoff de Harvard.
Ele reconhece que tudo leva muito tempo, começando dos cursos primários e secundários. Mas no nível universitário a experimentação que deveria ser mais livre não estaria estimulando a criatividade. Eu, pessoalmente, sou a favor das experiências do tipo que se faz em Cingapura, onde desafios são oferecidos para os alunos criarem em laboratórios, com orçamentos limitados, novos objetos que seriam úteis para a sociedade, que serão criticados pelos professores, não havendo mais aulas do tipo clássico.
Ele reconhece que existem alguns sites excelentes, como do Crash Course e Ted-Ed, que contêm pequenos vídeos sobre educação geral com uma grande variedade de assuntos, que vão da Filosofia à Biologia, passando pela História. Alguns poucos professores estão reinventando seus cursos, com resistências das escolas. Tomo a liberdade de informar o que eu fazia quando lecionava na USP.
Eu dava aos alunos o esquema resumido da aula e pedia a eles não anotarem o que eu estava falando, pois o curso era de Economia e não um ditado. Junto com o esquema dava um conjunto de artigos ou capítulos de livros que tratavam do assunto tratado que eles deveriam procurar ler posteriormente. As provas não exigiam o que foi dado em aula, mas normalmente se referiam às ligações sobre alguns dos seus temas tratados, de forma a avaliar se os alunos tinham a capacidade de raciocinar sobre eles. As consultas aos livros eram livres durantes as provas, pois não se tratava de avaliação das memórias. Evidentemente, isto era um terror para muitos alunos.
Os Estados Unidos, segundo o autor, empregam 2,5% do seu PIB na educação superior, o que se estima em US$ 500 bilhões por ano, o que é gasto com pouca eficiência. Ele entende que as universidades e faculdades são fundamentais para o futuro das nossas sociedades. Com os avanços tecnológicos e o uso da inteligência artificial (ao qual poderia se acrescentar a computação quântica), espera-se que o ensino mude substancialmente nas próximas décadas, como está acontecendo em alguns poucos outros países. Espera-se que os candidatos à educação superior, inclusive do Brasil, procurem os centros que estão inovando, como Cingapura é um caso. É o que estou recomendando a meus netos.