Forma Chinesa de Ver o Que Acontece Naquele País
26 de março de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: necessidade de uma governança com decisões rápidas, um mundo com novas condições dinâmicas | 2 Comentários »
Um artigo publicado no Project Syndicate por Andrew Sheng e Xiao Geng, ambos da Universidade de Hong Kong, sobre a recente concentração de poder de Xi Jinping, com a possibilidade de renovações adicionais do seu mandato, oferece uma forma de ver o assunto sob o ponto de vista chinês, que, no mínimo, podem ser discutidas.
Xi Jinping concentrando o poder como Mao Tsetung
Segundo os autores, as mudanças recentes na China deveriam ser vistas como parte de um processo mais amplo, no qual sistemas competitivos de governança estão emergindo para lidar com desafios complexos e globalmente conectados, com tecnologias disruptivas, rivalidades geopolíticas, mudanças climáticas e demográficas, para se encontrar uma nova base de governo. Segundo estes autores, num mundo em rápida mudança, os novos sistemas de governança devem apoiar a rápida tomada de decisões sob condições de incertezas, mantendo a responsabilidade dos dirigentes. Seria o que está sendo perseguido pelos chineses. As democracias ocidentais estariam enfrentando sérias ameaças internas, com forças populistas que defendem políticas perigosas como o protecionismo comercial, mostrando um fracasso na administração como das desigualdades de renda, polarização política, endividamento crescente e infraestrutura deficiente.
As visões se tornaram de curto prazo com ciclos eleitorais de seis meses a quatro anos, não permitindo ganhos de produtividade a longo prazo, bem como crescimento da renda, enquanto os chineses podem pensar em décadas, exigindo uma resposta eficaz aos problemas estruturais, como da corrupção, poluição ambiental e desigualdade, que duas gerações recentes de rápido crescimento e desenvolvimento geraram.
A burocracia chinesa estaria tentando superar a armadilha da renda média, antes que o envelhecimento da população prejudique o crescimento econômico. Os líderes chineses definiram metas de 30 anos, estabelecendo as chances para que Xi Jinping e seu fiel escudeiro Wang Qishan tenham possibilidade de sucesso, com suas longas experiências.
A responsabilidade destes dirigentes estariam submetidas ao Congresso Nacional do Povo, criando a nova Comissão Nacional de Supervisão, independentemente do Partido Comunista da China. O Conselho de Estado também foi reformulado, simplificando o gerenciamento das reformas de maneira mais coordenada e eficiente, juntando a Agricultura com o Meio Ambiente.
Os bancos e seguros foram consolidados na nova Comissão Reguladora, de forma semelhante com a norte-americana e europeia. Além de Xi Jinping e Wang Qishan, o primeiro-ministro Li Keqiang, formado em Harvard, passou a contar com Li He, que passou 30 anos no planejamento do desenvolvimento.
As reformas financeiras estão nas mãos do governador do Banco Popular da China, Yi Gang, economista formado nos Estados Unidos, e o presidente da Comissão Reguladora de Bancos e Seguros da China, Guo Shuqing, um economista formado em Oxford.
O filósofo chinês Hang Fei há dois mil anos afirmava que a governança eficaz exigia três condições: o Estado de Direito, ferramentas burocráticas e vontade política. O sistema chinês teria sobrevivido, segundo os autores, pois seus dirigentes estavam dispostos a enfrentar as falhas do mercado e as deficiências administrativas de maneira direta e consistente.
Segundo eles, a China, os Estados Unidos e a Europa são grandes demais para fracassar. Contam com as responsabilidades de proporcionar mudanças estruturais na sua economia e sociedade, com prestações de contas eficazes.
Tudo isto parece interessante, mas devemos lembrar que tudo será executados por seres humanos, com seus defeitos, aspirações e ambições, que são sempre difíceis de serem controlados.
Muito bom Paulo sempre conteúdo de primeira qualidade
Pragmatismo parece ser a palavra de ordem na China. Onde o mercado funciona e ele e usado, onde não funciona o Estado intervêm. Umm não nega o outro, ambos se complementam.
Caro Mauricio,
Obrigado. O que é difícil é determinar onde o mercado não está funcionando, o que acontece também nas economias de mercado, como por exemplo no Brasil com o Cade, que deve preservar a concorrência.
Paulo Yokota