Grandes Perturbações no Mundo já Complicado
5 de março de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: mudanças que podem provocar consequências em todo o mundo, propostas de mudanças radicais na China e nos Estados Unidos, tentativas arriscadas para sair do marasmo atual com baixo crescimento econômico
Dois assuntos de importância internacional parecem abalar o mundo, que já tinha os seus graves problemas. De um lado, o presidente norte-americano Donald Trump propõe estabelecer tarifas elevadas sobre o aço e o alumínio importados, afetando muitos produtores cujos países prometem reações pesadas. O presidente chinês Xi Jinping está propondo modificações na Constituição da China para ter condições para novos mandatos.
Aço e alumínio sofreriam pesadas tarifas de importação nos Estados Unidos, segundo proposta do presidente Donald Trump
Além de provocar uma reação praticamente de todo o mundo, o presidente norte-americano não parece entender que as tarifas sobre a importação de produtos siderúrgicos e alumínio afetam suas próprias empresas dos Estados Unidos, cujas produções, como de aviões, automóveis e equipamentos como maquinarias, necessitam destas matérias-primas importadas, que passarão a ter custos mais elevados sem condições de concorrer com produtores em outros países. Retaliações sobre os produtos agrícolas exportados pelos norte-americanos também parecem inevitáveis por parte dos países atingidos, inclusive o Brasil.
Se concretizado este absurdo, certamente haverá uma redução do comércio internacional, diminuindo a eficiência no mundo. A medida seria tão absurda, que tudo indica uma reação dentro do próprio Estados Unidos, impossibilitando a sua efetivação.
Presidente Xi Jinping e esposa que chegaria ao nível de poder equivalente ao de Mao Tsetung
De outro lado, Xi Jinping, o presidente da China, está propondo uma mudança constitucional no Congresso Nacional do Povo e a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, que começou neste sábado devendo se prolongar por duas semanas, reunindo mais de cinco mil delegados de todo o país, inclusive de Hong Kong, Taiwan e Macao. A alteração permitiria novos mandatos a ele e costuma ser acertada antecipadamente nos bastidores, havendo só uma aprovação formal do que já está combinado.
Há que se entender que o cargo de presidente é quase informal, sendo relevante a que ele tem de secretário-geral do Partido Comunista Chinês e presidente da Comissão Militar Central, onde ele já conta com controle total. As facções afetadas são os dos dois ex-presidentes ainda vivos.
O que parece relevante ainda é que o seu principal auxiliar Wang Qishan, eleito parlamentar, volta ao poder com força expressiva, podendo se tornar o vice-presidente e encarregado do combate à corrupção num órgão mais hierarquizado do que no passado, quando foi aposentado por idade. Este novo órgão é denominado Comissão Nacional de Supervisão. Também seriam nomeados quatro cargos de vice-premiê, fortalecendo o poder de Xi Jinping.
A imprensa mundial registra que tal concentração de poder na China é um fato inusitado no mundo atual, quando muitos achavam que haveria uma descentralização política e o uso mais intensivo dos mecanismos de mercado, com o crescimento da classe média que está ocorrendo naquele país. O risco de um sistema desta natureza não tranquiliza os demais parceiros, inclusive o Brasil que aumentou a sua dependência aos relacionamentos com a China.
Tudo indica que a China confirmará a disposição de continuar crescendo a uma taxa elevada, possivelmente superior a 6% ao ano, com a aprovação de mudanças nas principais estatais, garantindo os financiamentos indispensáveis para o crescimento.