Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Ações Emocionais Dão Espaço Para Fake News

23 de abril de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: mesmo que dentro de objetivos legítimos, na ânsia de comentários emocionais dão espaços para lamentáveis fake news, necessidade de exames mais profundos antes de emitir notícias distorcidas

imageUma reconhecida necessidade de maior equilíbrio na contribuição de afrobrasileiros na sociedade brasileira ao longo da história, bem como justiça no tratamento de pobres por parte das autoridades constituídas, avaliações superficiais acabam desempenhando papeis equivalentes às dos fake news, com a disseminação de notícias incorretas. Um caso concreto é o verdadeiro papel da vereadora Marielle Franco (foto), brutalmente assassinada há mais de um mês, que ainda não teve identificado os criminosos que a mataram.

Tenho recebido algumas críticas por não me engajar de forma direta e elementar neste site a favor da potencial candidatura de Joaquim Barbosa, mesmo que ele mesmo venha se comportando com a devida cautela, não se precipitando a oficializar a sua disputa nas próximas eleições. Como se por minha origem asiática estivesse contrariado com sua potencialidade, sem saber sequer dos meus trabalhos a favor dos africanos e seus descendentes. Quem examinar, com o devido cuidado, os meus depoimentos, deve constatar que o meu grande herói desde a infância é o doutor Albert Schuweizer, médico e pensador alemão que foi trabalhar como missionário na África para atender às crianças que necessitavam de assistência médica, como pioneiro do que hoje seriam os Médicos Sem Fronteiras.

Ainda nos anos 50 do século passado, a guerra civil entre a Nigéria e a Biafra explicitou o problema da realidade tribal da África, inadequada para a divisão geográfica dos países africanos impostos pelos colonizadores europeus. Dando a minha contribuição voluntária, ajudava na ocasião o Advisory Committee on Technical Service, do Conselho Mundial de Igrejas, sediado em Genebra, na Suíça, que sempre teve uma posição ecumênica, entendendo-se até com igrejas não cristãs.

Como as metrópoles europeias não permitiam cursos superiores nas colônias africanas, mesmo sabendo-se que os países africanos conquistariam suas independências, não haviam dirigentes preparados para exercer as funções de administrar seus países, com cursos superiores. Entre os militares locais não havia sequer um oficial.

Ajudamos as igrejas locais a organizarem os cursos superiores, utilizando os recursos alemães que tinham um imposto religioso, cujo produto era alocados metade para a Igreja Católica e metade para o Conselho Mundial de Igrejas. Organizaram-se cursos superiores indispensáveis com a ajuda do Advisory Committee. Os africanos nos tratavam como irmãos mais velhos, pois conquistamos a independência de Portugal há mais tempo.

Ainda quando estudante universitário tivemos a oportunidade de ajudar o movimento de desfavelamento em São Paulo, onde havia muitos afrobrasileiros. Minhas preocupações sociais me levaram a visitar pessoalmente os mocambos e palafitas no Nordeste e na Amazônia brasileira ajudando projetos que contemplassem os menos privilegiados, tanto com projetos pioneiros de saúde como de desenvolvimento rural, onde muitos afrobrasileiros estavam incluídos. Quando diretor do Banco Central do Brasil ou presidente do INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, tive melhores condições oficiais para ajudar as populações menos favorecidas, sem distinção das cores de suas peles. Sempre tentei dar as mesmas atenções independentemente de suas origens étnicas.

Tudo isto me deu a oportunidade para acompanhar projetos sociais em todas as partes do mundo, principalmente em países que ainda eram chamados “subdesenvolvidos”. Por estes e outros trabalhos que ajudamos, tendo a reagir até com alguma veemência quando me atribuem indevidamente pechas daqueles que, com leituras superficiais, me atribuem intenções distorcidas que estamos convictos não ter, apesar de muitos outros erros pessoais na qualidade de ser humano.

Esperamos que muitos que expressam seus reparos tenham a oportunidade de executar trabalhos semelhantes para verificar que é fácil falar ou escrever, mas que fazer é um pouco mais complicado, principalmente com décadas de persistência.

Desculpem-me os leitores que nos prestigiam com suas atenções pelo desabafo.