Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Contraste nos Conceitos da Pontualidade

16 de abril de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: a pontualidade no Japão, a pretensão de que o tempo dos provocadores dos atrasos seja mais importante do que dos afetados, as desconsiderações com os atrasos no Brasil

clip_image002Um lamentável caso no Shinkansen do Japão, que provocou um atraso de 90 segundos (um minuto e meio) numa das viagens de mais de 300 quilômetros, virou motivo de investigações, sendo objeto de um artigo publicado no The Asahi Shimbun. Uma consideração mais ampla sobre as vantagens da pontualidade que não é levada em conta no Brasil atual leva a algumas reflexões que podem ser efetuadas.

Um trem Shimkansen que saiu de Tóquio e chegou a Sendai, no nordeste do Japão, com um atraso de 90 segundos em mais de 300 quilômetros, virou assunto para uma notícia publicada no The Asahi Shimbun

Um cochilo de um condutor de um Shinkansen, que saiu de Tóquio no último dia 1º de abril e exigiu o uso de freio de emergência parando 20 metros além de onde deveria ter estacionad0, provocando 90 segundos de atraso, acabou sendo motivo de um inquérito e mereceu um artigo do The Asahi Shimbun. Em São Paulo, a cada vez que chove, ouve-se falar em atrasos consideráveis no sistema de metrô, o que já virou uma rotina. Como as chuvas são rotineiras, nada mais adequado que fosse considerada no funcionamento do metrô. Elas também poderiam ser consideradas nos fornecimentos de energia elétrica e funcionamento dos faróis de trânsito, que não podem ser considerados excepcionais.

Isto leva a uma reflexão sobre as vantagens da pontualidade que recentemente virou uma praga no Brasil, diminuindo a eficiência, principalmente do setor público. U m famoso ex-governador do Estado de São Paulo, quando alertado que atendia a uma audiência com um expressivo atraso, alegou que o tempo deveria ser contado a partir de sua chegada.

Entre os políticos e autoridades brasileiras acabaram virando rotina os longos atrasos até no atendimento de visitantes ilustres do exterior, como se nada de anormal estivesse acontecendo. Seria o símbolo da pretensão de que o tempo do causador do inconveniente fosse mais importante, não importando o problema imposto para terceiros, algo que extravasa até a falta de educação elementar.

No Japão, quando ocorre um ligeiro atraso numa viagem de shinkansen, o chefe do comboio vai de vagão a vagão, pessoalmente, pedindo desculpas aos usuários, explicando que um terremoto ou algum acidente fora do controle dos responsáveis teria provocado o problema.

Eu tive um problema de trânsito em Tóquio e, diante do atraso que teria na minha chegada, deixei o táxi e corri para um metrô, mas não havia calculado que a estação teria uma extensão de mais de três mil metros e uma razoável distância até o edifício que deveria chegar, que também tinha 60 andares. Como eu era, na ocasião, uma autoridade brasileira, a autoridade japonesa descarregou suas reclamações para o intérprete que me acompanhava, não aceitando as desculpas e justificativas apresentadas.

Eventuais problemas que possam provocar tais atrasos necessitam estar considerados. Um famoso embaixador brasileiro no Japão costumava chegar com o seu carro cerca de 15 minutos antes do local da entrevista com uma autoridade japonesa, ficando estacionado na rua para ingressar no edifício cerca de 5 minutos antes do combinado, para evitar qualquer eventualidade que pudesse provocar um atraso. Também chegar antes do horário combinado pode provocar constrangimentos para os auxiliares das autoridades estrangeiras.

O tempo de todos são importantes, pois os mais atarefados possuem uma sequência de compromissos. Numa fábrica, numa linha de produção, qualquer atraso na chegada de componentes pode reduzir a eficiência da produção. Numa cirurgia, o atraso de algum procedimento pode ser fatal para o paciente. Um professor pode prejudicar a sua aula planejada chegando atrasado ou um aluno chegando depois do início da aula pode desviar a atenção dos seus demais colegas.

A eficiência da economia depende destas pontualidades. Uma lavoura pode ser estar sendo atacada por uma praga e se a pulverização indispensável não for providenciada a tempo, numa noite toda uma lavoura pode estar perdida. A falta de chuva, sem uma irrigação adequada, pode provocar uma sensível queda na produtividade.

As autoridades brasileiras que ficam com a fama de sua falta de pontualidade pode provocar uma reserva de importantes interlocutores que não estão acostumados com estes transtornos, inibindo importantes trocas de opiniões. Portanto, como se trata de um problema de cultura, até nos pequenos detalhes, como os atrasos nos meios de transportes coletivos, devem ser evitados, com vantagens para todos. O desenvolvimento econômico depende de todos estes pequenos detalhes.