Brasileiros Trabalhando no Japão
23 de maio de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: artigo sobre o assunto no Estadão, as muitas razões que determinam estes movimentos, evolução ao longo desta história
Artigos de Julia Marques foram publicados no Estadão informando que nova onda está levando muitos brasileiros a procurarem o Japão para lá trabalharem, sozinhos ou com seus familiares, em princípio temporariamente, mas muitos acabam ficando por lá de forma quase permanente. Enquanto o Japão sofre uma redução e envelhecimento de sua população, com sua economia em crescimento mesmo modesto, mas firme, no Brasil continua sofrendo um forte desemprego, induzindo muitos descendentes de japoneses ou casados com eles a ter um visto regular para lá trabalharem. Atualmente, podem obter vistos os descendentes até a terceira geração, mas brevemente também os de quarta geração terão esta possibilidade.
Casal de brasileiros se despede dos seus amigos para ir trabalhar no Japão de forma regular. Foto do artigo no Estadão que vale a pena ser lido na íntegra
Já houve um período pioneiro, há algumas décadas, quando os brasileiros enfrentavam no Japão mais dificuldades. Hoje, concentrados em algumas províncias e cidades, contam com algumas facilidades como serviços médicos e outros que possuem tradutores, enquanto suas crianças podem frequentar escolas japonesas que já acumularam experiências com estrangeiros. Existem mais asiáticos, como chineses, filipinos, indonésios do que brasileiros, mas em algumas cidades existem serviços bancários do Banco do Brasil, lojas com produtos que costumam ser consumidos pelos brasileiros, escolas para as crianças, ainda que sejam caras para os modestos trabalhadores, centrados que estão na obtenção de recursos que até enviam para seus familiares no Brasil. Mas também existem muitas regiões onde nada disto está disponível e contam com japoneses que os desejam contratar.
As atividades mais rentáveis são serviços para cuidar dos idosos japoneses com deficiências físicas, mas há necessidade de um mínimo de conhecimento do idioma local, como de enfermagem e disposição para longas jornadas de trabalho. Existem casos em que casa e comida são oferecidas, que de outra forma no Japão exigem dispêndios razoáveis, o que proporcionam poupanças líquidas expressivas.
Mas o normal são empregos em fábricas para tarefas relativamente simples, repetitivas ou em obras públicas, de construção ou reparos que são feitos até a noite, independente do clima. Muitos asiáticos estão trabalhando nestas atividades, bem como brasileiros menos qualificados.
Algumas pessoas mais dotadas de iniciativas conseguem seus próprios negócios, de venda de produtos ou serviços visando principalmente a população de brasileiros, mas que acabam atendendo outros estrangeiros bem como alguns japoneses, conseguindo sucesso.
No entanto, muitos dos hábitos destes brasileiros e estrangeiros são diversos dos japoneses, havendo possibilidade de alguns atritos. Por exemplo, muitos utilizam seus apartamentos para preparar churrascos disseminando odores que não agradam aos japoneses. Nem sempre os lixos são adequadamente separados para a reciclagem e quando os brasileiros se reúnem acabam sendo ruidosos, quando os japoneses evitam incomodar os outros. Com alguma insistência, estas diferenças acabam sendo minimizadas, como a falta de respeito a todas as leis de trânsito.
Algumas manifestações populares dos brasileiros acabam até contando com a participação de alguns japoneses, como tipos de carnavais ou até torcidas ruidosas quando os brasileiros jogam futebol, como na próxima copa do mundo. O longo aprendizado dos brasileiros está reduzindo relativamente estes e outros incidentes decorrentes das formas de expressão das alegrias.
A continuar a tendência atual, com a admissão dos nikkeis chamados yonseis, ou seja, da quarta geração, e a continuidade do crescimento da economia japonesa com as Olimpíadas e o grande fluxo de turistas estrangeiros, ao mesmo tempo em que o nível de emprego não melhora no Brasil, é de se esperar um aumento destes brasileiros que, mesmo enfrentando dificuldades, irão trabalhar no Japão.
Espera-se que muitos destes brasileiros acabem desempenhando um papel importante no aprofundamento das relações bilaterais entre o Brasil e o Japão.