Briga de Cachorros Grandes nos Chips do Mundo
1 de maio de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: a reação chinesa com forte programa Made in China 2025, envolvimento do governo chinês a Tsinghua Unigroup, o boicote dos Estados Unidos no fornecimento de tecnologias para chips visando a China
Quando o governo de Donald Trump proibia que empresas norte-americanas produtoras de chips se instalassem na China para evitar a transferência de tecnologias acelerando a produção chinesa, certamente sabiam que estava estimulando os chineses a procurarem outros fornecedores no mundo para continuar com sua prioridade do chamado Made in China 2025, junto com grupos chineses para chegarem às tecnologias mais avançadas da produção de diversos tipos de chips de grande capacidade.
Poucos produtores no mundo têm a capacidade para a produção de chips de elevadíssima capacidade e os chineses estão dispostos a grandes esforços para produzi-los, Ffoto constante do artigo no site do Nikkei Asian Review
Um artigo elaborado por Cheng Ting-Fang e publicado no site do Nikkei Asian Review informa sobre a gigantesca batalha que será travada pelos norte-americanos e os chineses diante da proibição de Donald Trump para as empresas norte-americanas e de seus aliados fornecerem chips para a China, tentando retardar a produção dos mesmos naquele país. Os chineses estão estimulando novas empresas locais para a produção destes componentes, que pode levar algum tempo, mas certamente acabarão sendo produzidos na China.
As importações chinesas de semicondutores supera a de petróleo, segundo gráfico publicado no site do Nikkei Asian Review
São poucos os produtores importantes no mundo como a Samsung Electronics, a Intel e a ZTE, que ficou proibida de se instalar na China. A produção de memória flash NAND global, um mercado de US$ 58 bilhões anuais conta somente com seis empresas: Samsung Electronics, Toshiba, Western Digital, SK Hynix, Micron Technology e Intel, segundo consta do artigo publicado na Nikkei Asian Review. Os chamados DRAMS são da Samsung, SK, Hynix e Micron, que detêm 95%do mercado global de US$ 71 bilhões em 2017. A Samsung e a SK Hynix sozinhas faturam US$ 85 bilhões de vendas de chips de memória em 2017, segundo o mesmo artigo.
Executivos chineses relatam que estão dispostos a qualquer custo para produzir os chips que necessitam, mesmo com prejuízos no início deste processo, ou futura superprodução destes componentes, contando com o forte respaldo das autoridades da China.
Um conglomerado estatal chinês chamado Tsinghua Unigroup está escalado para atingir este patamar e já tentou adquirir empresas com a Micron e a Western Digital, o que foi bloqueado pelo governo dos Estados Unidos. Mas a Yangtze Memory Technologies, que faz parte deste esforço chinês, está investindo pesado, principalmente para obter recursos humanos que estão com os principais produtores do mundo, ao mesmo tempo em que constrói novas instalações na China.
Yangtze Memory Technologies está investindo US$ 24 bilhões para construir uma das primeiras fábricas avançadas de chips de memória da China na cidade de Wuhan. Foto (cortesia de Tsinghua Unigroup) constante do artigo no Nikkei Asian Review
O presidente da Tsinghua Unigroup, Zhao Weiguo, anunciou que a empresa começa a produzir o primeiro lote de chips de memória flash NAND de 32 camadas, mas existem especialistas que afirmam que o que interessa é o de 64 camadas, que só seria possível no final de 2019, que não está muito longe.
Existem analistas que destacam os obstáculos que os chineses devem enfrentar, alegando que não são somente os investimentos que poderão superar os avanços tecnológicos, mas não se pode subestimar as capacidade dos chineses, pelo que eles estão conseguindo em outros setores de tecnologia de ponta. É preciso considerar que eles contam com as demandas para estes produtos que continuam crescendo de forma assustadora e o governo chinês mostra sua forte e assustadora disposição. E os fornecedores multinacionais continuam atraídos pelo mercado interno chinês.
Tudo indica que as disputas nos próximos anos deverão continuar acirradas, mas enquanto os norte-americanos dependem de muitos fatores que envolvem interesses privados, os chineses acabam confundindo os interesses nacionais com os privados, havendo agressivos usos de recursos públicos para o que seja de objetivo da China, nem mesmo com total respeito aos direitos de patentes estrangeiras.
Enquanto isto, países emergentes como o Brasil continuam patinando mesmo nas produções de chips simples para atender todas as necessidades das indústrias de equipamentos eletrônicos como de comunicações, ficando cada vez mais dependentes de fornecedores estrangeiros pela falta de estímulo para pesquisas e desenvolvimentos tecnológicos competitivos.