Defasagens nas Eficiências das Estatais Chinesas
30 de maio de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: lições para o Brasil, mudanças indispensáveis para manter a competitividade, o que aconteceu com as estatais chinesas
Os jornalistas japoneses Yusho Cho e Kenji Kawase, do Nikkei Asian Review, fornecem indicações de como as estatais chinesas ficaram defasadas na sua eficiência, o que serve também de lição para o Brasil, mostrando as mudanças indispensáveis para a sua recuperação.
Capa de um longo trabalho que uma equipe do Nikkei Asian Review efetuou sobre as estatais chinesas
Os articulistas japoneses informam que, em agosto de 2017, a China Unicom, uma madeireira que operava também nas telecomunicações, foi selecionada para teste de uma tentativa de reformar algumas empresas estatais chinesas. Seu presidente acabou preso por corrupção, pois o retorno para os acionistas ficou abaixo de 1% nos últimos anos, quando na média global da indústria era de 19,5%, com os dados levantados por 47 empresas operadoras em telecomunicação naquele país. O plano do governo para recuperar a China Unicom é conhecido como “reforma da propriedade mista”, convidando investidores estratégicos privados para participar das estatais visando pressionar por maior eficiência. Esta empresa estatal recebeu investimentos de US$ 11,8 bilhões, incluindo investimentos de empresas privadas chinesas conhecidas, como a China Life Insurance, subsidiária da Tencent, a Baidu, Alibaba Group e Suning. A entidade chinesa controladora governamental das estatais inibiam mesmo as iniciativas das empresas privadas.
O jornal Nikkei Asian Review constatou que as estatais, apesar do crescimento da economia chinesa acima de 6% ao ano, quase 300 delas não financeiras das bolsas chinesas reduziram o seu retorno do patrimônio para 7,0%, em 2017, de 15,6%, que obtinham entre 2007 a 2017. As empresas norte-americanas e europeias conseguiram o dobro do retorno das chinesas. As empresas privadas chinesas também conseguiram melhores retornos que as estatais, chegando a 8% em 2017.
Gráfico dos retornos comparados das estatais com estrangeiras e privadas chinesas, constante do artigo no site do Nikkei Asian Review
O atual presidente chinês, Xi Jinping, diferindo do Deng Xiaoping em 1978, enfatiza o socialismo com características chinesas, reforçando o comando do Partido Comunista na economia chinesa. Os articulistas entendem que o apoio de Beijing pode ser importante no exterior, mas torna difícil cortar custos, desinvestir, cortar empregos e reestruturar as estatais. Mesmo com pequena participação governamental, as governanças nestas empresas ficam mais difíceis.
O artigo faz menção explícita da PetroChina, a maior companhia petrolífera asiática, cuja taxa de retorno é de somente 1,9%, devido à aquisição do período em que o petróleo estava em torno de US$ 100 por barril, quando a demanda estava forte na própria China. Ela e a CNPC compraram subsidiárias de Petrobras para ficar com três campos de petróleo e gás no Brasil, mas estes esforços não conseguiram elevar os seus lucros. As empresas norte-americanas e europeias conseguiram resultados melhores em condições semelhantes.
Retornos de algumas empresas petrolíferas no mundo em tabela constante do artigo no Nikkei Asian Review, que vale a pena ser lido na íntegra
O presidente Xi Jinping supervisionou o agigantamento das estatais chinesas na sua gestão, mas seus lucros caíram. As eficiências de suas administrações pioraram, elas ganharam maior participação no mercado e perderam incentivos para se reestruturar. Um dos exemplos citados é a CRRC, a maior produtora de trens no mundo, com a fusão de duas empresas estatais chinesas, a CNR e a CSR. O retorno que era de 10% em 2015 caiu para 7% em 2017. Ela compete com a alemã Siemens e a francesa Alstom, que estão unindo suas operações procurando uma maior eficiência com redução de funcionários. O mundo conta com um número limitado destas empresas, havendo algo como um cartel, enquanto o elevado plantel de funcionários chineses procura preservar seus privilégios, ainda que seus custos sejam mais baixos do que os europeus. Ainda assim, pelas suas influências políticas, conseguem encomendas no Sudeste Asiático, dificultando as empresas japonesas. Mesmo assim, seus preços são mais baixos do que de muitos concorrentes.
O que parece estar se verificando é que o mercado de capitais e algumas facilidades de financiamentos dadas pelas entidades oficiais acabam dando para as empresas privadas chinesas taxas de retorno mais elevadas, permitindo que no exterior aparentem obter eficiências mais altas.
Mas parece ficar evidente que as estatais chinesas, como de outros países como o Brasil, necessitam contar com governanças mais ágeis que permitam a redução dos interesses corporativos de seus muitos funcionários. Ainda que não seja fácil, precisam contar com flexibilidades de ajustamento às condições do mercado externo como ocorrem com as empresas privadas. As agências governamentais que as controlam necessitam utilizar indicadores do mercado de capitais semelhantes às utilizadas para a avaliação das empresas privadas, onde a concorrência é o mecanismo para comprovar a sua eficácia. Outras considerações estratégicas devem ficar diretamente dentro do próprio governo, com recursos orçamentários, sujeitos às aspirações da população por menores cargas tributárias.