Descaso do Governo Sobre a Greve dos Caminhoneiros

28 de maio de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: comunicação direta ao presidente Michel Temer em 14 de maio de 2018, confirmação do alerta feito em 5 de outubro de 2017, lamentável descaso do governo, protolocado na Casa Civil | 2 Comentários »

Uma matéria de Geralda Doca publicada no site de O Globo confirma, cabalmente, o que já vinha sendo divulgado de forma discreta sobre o completo descaso do governo, que acabou por desencadear a greve dos caminhoneiros, provocando profundos transtornos para todo o Brasil a partir de 21 de maio de 2018.

Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil, recebeu comunicado protocolado pela Associação Nacional dos Caminhoneiros (Abcam) no dia 5 de outubro de 2017

O comunicado da Associação Nacional dos Caminhoneiros – Abcam, assinada pelo seu presidente José da Fonseca Lopes, destaca os altos custos da elevação do PIS/COFINS sobre o diesel. Pedia também a adoção de medidas para atenuar o impacto dos ajustes diários dos combustíveis pela monopolista estatal Petrobras. Aquela entidade não recebeu nenhuma resposta do governo, por mais de sete meses.

Esta comunicação já era conhecida dos brasileiros mais bem informados, confirmando que o governo não foi apanhado de surpresa pela greve desencadeada a partir de 21 de maio de 2018. No dia 14 de maio de 2018, aquela entidade dirigiu-se diretamente ao presidente Michel Temer alertando que a total falta de atenção ao problema provocaria a paralisação que começou em 21 de maio último causando um dos maiores transtornos para o Brasil. O governo só reagiu no dia 25 de maio de forma concreta com arrogância, aventando que haveria um criminoso boicote, inclusive de empresas de transportes, levando muitos brasileiros a acreditarem que fora apanhado de surpresa, o que revelaria o total fracasso do sistema indispensável de inteligência do governo federal.

Ministros do governo federal comunicam sobre o decreto Garantia da Lei e da Ordem do dia 25 de maio. Foto constante da matéria divulgada pelo site de O Globo que deve ser lido na íntegra

O ministro de Segurança Pública Raul Jungman aventa a possibilidade de um boicote de empresas de transporte que seria um crime a ser investigado, que a estas alturas não ajuda a superar rapidamente os problemas criados e agravados pela omissão do governo federal. Imaginar que empresas privadas devem continuar suas atividades mesmo quando suas operações se tornam deficitárias parece pouco racional.

Lamentavelmente, não se consegue informar sobre as íntegras das medidas oficiais do governo que só podem ter validade oficial pela sua publicação no Diário Oficial, que pode contar até com uma edição especial nos casos de urgência. O público fica com a impressão que existem muitas improvisações que não permitem a avaliação objetiva de todas as medidas que já foram tomadas pelo governo, pois tudo indica que existem ainda medidas que necessitam de decisões do Legislativo e dos governos estaduais.

Muitos críticos ao atual governo federal ficam com a impressão da falta de uma administração organizada, situação que acaba exigindo intervenções militares que tendem a se tornar quase uma perigosa rotina. Muitas autoridades enfatizam que as medidas estão negociadas, mas não acaba ficando claro com quem, pois muitos representantes parlamentares não estão sendo convocados, quando gastos sem a indicação das fontes dos recursos não são possíveis.

Além dos problemas de abastecimento que vão dos combustíveis, medicamentos e alimentos, com pesados prejuízos dos produtores que estão numa fase crucial da economia brasileira. O escoamento da safra está neste período crítico. A emergência que exige ações rápidas das autoridades só poderá ser resolvida com a ajuda da população, que ainda não está adequadamente informada pelo conjunto das mesmas.

Sem a recuperação da economia brasileira, todas as medidas acabam ficando com suas eficácias comprometidas, pois déficits e endividamentos crescentes não são sustentáveis.

Parece indispensável que se dissipe rapidamente a impressão da falta de um governo organizado, pois os enfáticos pronunciamentos do presidente da República, acompanhadas de intensas publicidades oficiais não contam com a credibilidade necessária.