O Interessante Filme Franco Japonês Hikari
11 de maio de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: cuidados nas interpretações das imagens de um filme para os cegos, problemas na tradução do Hikari (traduzido para o português como esplendor, quando seria mais brilho literalmente), sensibilidade japonesa que tem diferenças culturais, um raro filme de boa qualidade franco japonês
A diretora Naomi Kawase conseguiu produzir um filme de rara sensibilidade, que depende também do contexto cultural em que estamos envolvidos, como em qualquer obra da natureza. O tema é desafiador, pois se trata de uma tradutora de imagens chamada Misako (interpretada por Ayame Misaki) para uma linguagem falada para cegos que não podem apreciar um filme pelo que aparece na tela. Entre os críticos ao trabalho preliminar em elaboração, está um fotógrafo consagrado que está perdendo a sua visão, de nome Nakamori (interpretado por Masatoshi Nagase). Ambos os atores trabalham os seus papéis com competência.
Cartaz do filme franco japonês Esplendor, dirigido por Naomi Kawase
Recentemente, poucos filmes se destacam no cenário internacional. Ainda que este filme franco-japonês enfatize a particular forma pelo qual os japoneses costumam tratar de temas sensíveis onde parte da interpretação dos significados das mensagens fique para os espectadores, acredito que acabe impressionando também os que possuem formações culturais diversas, como as europeias, ainda que possa haver leituras diferentes. Por ser bastante introspectivo, seu ritmo diverge dos atuais voltados para os jovens, onde as ações chegam a ser violentas, principalmente para os espectadores mais idosos e maduros.
Tanto as fotografias como a música foram selecionadas com cuidado, podendo parecer monótonas para alguns, mas demonstram a preocupação de combinações cuidadosas que não são frequentes atualmente. Poucos são os personagens, dando a impressão que a tradução para as legendas em português foram feitas possivelmente do francês e não diretamente do japonês usados pelos atores.
Uma parte significativa do filme é dedicada à precisão das linguagens utilizadas na narração que necessitam ser claras, tanto quanto as imagens do filme como com as intenções do que a obra pretende transmitir, que sempre contém um elevado grau de subjetividade até dos espectadores. Os cegos e deficientes visuais estão auxiliando a personagem que é a tradutora a ser o mais preciso possível, chegando próximo à poesia pelo desenvolvimento de outras habilidades compensatórias, o que é certamente difícil para ser transportado pela tradução, tanto para o francês como ao português. E, no filme, o personagem, que é um fotógrafo consagrado perdendo a visão, chega a ser exageradamente rigoroso, o que está no seu papel. A tradutora tenta entender o porquê desta atitude deste veterano personagem.
Faz parte a verdadeira intenção do filme, cujas imagens estão sendo interpretadas por linguagens compreensíveis para os cegos. O personagem principal também não expressa diretamente a sua intenção, mas, pela interpretação da cena final, o que a tradutora vai buscar na entrevista com o ator, demorando em chegar ao seu âmago pela cuidadosa observação do filme, fazendo um paralelo com sua experiência com a sua mãe doente. É neste ponto que o brilho seria mais adequado, sendo difícil relacionar com o título do filme, esplendor.