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Dificuldades Para a Compreensão do que Seja “Mercado”

22 de junho de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: autoridades imaginando que o mercado poderia ser facilmente substituído por entendimentos onde houvesse boa vontade entre as partes, dificuldades dos acordos, o que deveria ser de conhecimento generalizado

O conceito correto de “mercado” não deveria ser exclusivo de especialistas como os economistas, mas parte do conhecimento de todos que tivessem no mínimo um curso primário. Pode ser que muitos não ficassem satisfeitos com todos os resultados que ele proporciona, que são bastante amplos, mas tudo indica que, mesmo com seus muitos defeitos, continuaria sendo o mecanismo que proporciona um acordo razoável entre vendedores e compradores de bens e serviços. Muitos imaginam que se poderia substituí-lo facilmente por entendimentos quando partes envolvidas tivessem um pouco de boa vontade. Na prática, está se constatando que, mesmo com muitas tentativas até com a clip_image002participação de autoridades, não se chega a algo aceitável, como ficou evidente nas questões como os que envolveram recentemente os caminhoneiros.

A Ceagesp de São Paulo seria um bom exemplo onde milhares de vendedores e compradores se reúnem estabelecendo preços de produtos hortifrutigranjeiros que vão variando mesmo dentro de um mesmo dia

Os vendedores costumam estabelecer inicialmente um preço para seus produtos, considerando as entradas de mercadorias num determinado dia na Ceagesp, levando a consideração o clima no dia que pode influenciar no fluxo de compradores. Mesmo que tudo ocorra normalmente durante o horário das operações, os preços no final da jornada costumam ser mais baixos nas chamadas horas da “xepa”, pois as mercadorias que não foram vendidas nem sempre podem ficar para o próximo dia sem perda na sua qualidade. Sabendo disso, qualquer frequentador deste mercado pode chegar próximo do fim da jornada para se beneficiar desta baixa de preço.

Este seria um simples exemplo grosseiro do funcionamento de um mercado e, mesmo que fossem utilizados computadores que estimassem as quantidades das mercadorias à venda, bem como as estimativas dos possíveis compradores, nem sempre haveria um só preço, até porque nem todas as mercadorias seriam iguais. E os seus operadores são diferenciados, pois os clientes costumam conhecer os mais confiáveis, com as experiências de muitas compras feitas no passado. É mais que natural que os preços flutuem, influenciados por um grande número de fatores. Algo semelhante ocorre com outras mercadorias e serviços numa região ou num país.

É claro que todos procuram tirar a melhor vantagem nestes variados mercados. Se os caminhoneiros entendem que paralisando as rodovias conseguem que autoridades ingênuas estabeleçam preços mínimos para os seus serviços, que diferem com os tipos de cargas, suas quantidades, seus destinos, as cargas de retornos que conseguiriam, o prazo estimado para a prestação de serviços etc. que também atendessem os interesses dos que precisam do deslocamento das mercadorias, tudo seria muito simples. Mas tudo está flutuando permanentemente, com chuvas, novos buracos nas estradas, quantidade de caminhões para cada tipo de carga e outros dados que estão mudando constantemente. Além dos preços dos combustíveis que pretensiosos dirigentes da Petrobrás, com seu poder de monopólio, achavam que deveriam variar diariamente.

Só autoridades que nunca atuaram neste “mercado” podem ser ingênuos para imaginar que poderiam regular, por acordos entre alguns pseudos representantes das partes envolvidas, os preços das tarifas de transporte de tantas mercadorias diferentes que necessitam ser deslocados de lugares distintos para pontos variados.

Agora, até mal informados juristas entendem que podem colaborar na solução destes problemas complexos convocando alguns dirigentes que não possuem total comando de grupos envolvidos no problema dos transportes. Em economia, o ”mercado” costuma ir ajustando as variadas condições que influenciam nas tarifas dos serviços de transportes. Quanto mais interferências oficiais forem introduzidas, a solução do problema acabará exigindo mais tempo. Eventuais desequilíbrios existentes, tanto da oferta como da procura, são mais facilmente resolvidos pelo “mercado”, ainda que isto não seja instantâneo e perfeito.

As experiências de controles governamentais intensos no “mercado” não proporcionaram bons resultados, havendo centenas de experiências já efetuadas em todo o mundo. O que poderia ser menos danoso parece que seriam incentivos gerais, sem entrar em muitos detalhes, mas também há que se considerar os seus custos para a sociedade.

Os economistas aprenderam que não existem na sociedade humana sistemas perfeitos, sendo preferível perseguir o chamado “Second Best”, ou seja, não a perfeição, mas o menos ruim.