Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Disputa Desigual de Gigantes Big Tech dos EUA e da China

1 de junho de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: artigo noThe New York Times, diferença da Amazon, o apoio do governo chinês, Tencent e Alibaba contra Google e Facebook

clip_image002Um interessante artigo de Raymond Zhong publicado no The New York Times informa sobre as preocupações que envolvem as chamadas Big Tech, onde as gigantes chinesas, como a Tencent e a Alibaba, além de contarem com o suporte do governo da China, não são restringidas pelas legislações antimonopólios que existem em muitos países.

A Tencent e Alibaba recebem suporte do governo chinês

Todos sabem que, quando terminou a Segunda Guerra Mundial, os aliados procuraram dissolver as chamadas zaibatsus japonesas, como a Mitsubishi, a Sumitomo e a Mitsui, entre outras que tinham ajudado o Japão no conflito mundial. Depois de um tempo, elas acabaram se reagrupando, como empresas isoladas, formando poderosos grupos que ajudaram a promover o chamado Japan Inc. Agora, a Tencent e a Alibaba possuem só na China 770 milhões de usuários da internet e estendem suas atividades para o exterior, notadamente no Sudeste Asiático, mesmo sofrendo restrições nos Estados Unidos. Na Ásia, os turistas chineses utilizam seus smartphones para efetuar seus pagamentos, com o WeChat e Alipay, provocando uma verdadeira revolução na economia chinesa em pouco tempo, ainda que haja ineficiências como ficou claro no caso da ZTE, onde a China está atrasada na produção de microchips de alta tecnologia.

Eles se comunicam, compram, circulam, se entretêm e até investem suas economias e utilizam serviços médicos. Os dois titãs há muito tempo se ramificam com seus principais negócios, que vão dos jogos até a mídia social, como no caso da Tencent, e no e-commerce, no caso da Alibaba. Utilizam todas as informações sobre os usuários que estão depositados nas nuvens e sabem tudo sobre eles, mais do que os consumidores sobre seus hábitos, preferências e outras informações que são utilizadas para aumentar outras vendas.

Hoje, existe uma luta feroz sobre os recursos digitais que utilizam os smartphones e os pagamentos que são feitos com o seu uso, sem que necessitem de recursos bancários ou cartões de crédito, enquanto outros países como o Brasil ainda engatinham nestes aperfeiçoamentos. Na China, a Tencent e a Alibaba se tornaram os guardiões de toda a economia, exercendo imenso poder sobre as indústrias tradicionais e se tornando muito ricas neste processo, com as bênçãos do governo chinês. Elas se tornaram poderosas aliadas das autoridades da China nas suas atuações até no exterior.

Estas empresas passaram a atuar nos mais variados setores da economia, não se sabendo em que áreas estão competindo entre elas. Consolidou-se uma perigosa situação de duopólio que não poderia ser reproduzido com facilidade nos Estados Unidos ou outros países onde existem agências preocupadas em manter as concorrências.

A Apple, Amazon, Google e Facebook não podem expandir em áreas adjacentes de suas atuações, diante da ação de agências que procuram manter a concorrência. Somente a Amazon está se constituindo num complexo diferenciado, ingressando na área dos mantimentos, farmácias, assistência médica e muito mais, que se pode tornar um universo comercial da qual não se pode escapar.

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A Amazon procura caminhar na direção dos grandes grupos chineses, estendendo suas atividades para vários setores e aceitando pagamentos efetuados com smartphones

Na União Europeia, o Google e o Facebook poderão ser forçados a procurar formas de lucrarem indo além da venda de informações pessoais dos consumidores e anunciantes, como avaliam algumas empresas de consultoria que se preocupam com o assunto. As duas chinesas já possuem uma capitalização no mercado estimado em US$ 500 bilhões cada.

Ambas financiam empreendimentos que oferecem educação on-line, fabricam carros elétricos e alugam bicicletas, sempre utilizando suas formas de pagamento pelo uso do smartphone, que acabam se tornando também mecanismo de coleta de informações. Segundo especialistas, a Tencent contou recentemente com 247 acordos de investimentos e a Alibaba outros156, e seus bancos de dados são considerados perenemente incompletos.

A Alibaba investiu US$ 2,9 bilhões em uma rede de supermercados, US$ 2,6 bilhões em uma loja de departamentos e operadora de shopping centers, entrando nas vendas de bens reais. A Tencent seguiu a mesma tendência. Elas se tornaram facilitadoras do comércio e de serviços financeiros, havendo informações que a Tencent pode superar a Goldman Sachs em valor de mercado, evidentemente gerando reações contra suas atuações no exterior. Os chineses estão mais competitivos nestas ampliações.

As duas organizações estão usando suas tecnologias na China onde as pequenas lojas dominam o varejo, os hospitais e médicos estão sobrecarregados, a maioria dos chineses não possui cartão de crédito. São oportunidades onde a Tencent e a Alibaba são mais competitivas que a Amazon ou o Facebook.

A Morgan Stanley estimou que, em 2027, a Alibaba pudesse valer US$ 19 trilhões, mais do que o mercado potencial da Amazon em todo o mundo, ainda que isto seja uma mera projeção. O fato é que os dois grupos chineses competem entre eles, não permitindo que empresas do outro grupo invadam as áreas de suas empresas, não aceitando as formas de pagamento uma da outra. A estimativa é que cada grupo fique com 50% do mercado, notadamente chinês.

Estes grupos estão intensificando seus investimentos em outros países do Sudeste Asiático de grande potencialidade como a Índia. Também nos Estados Unidos estão interessados em setores que não são rentáveis atualmente, como o de saúde, onde diversas organizações estão praticamente falidas. O que parece claro é que estão procurando obter informações e podem investir bilhões de dólares para tanto, ainda que não lucrem diretamente no setor de saúde. É uma disputa no mínimo aterrorizante, onde o Brasil, infelizmente, ainda está muito atrasado.