Os Segredos da Maiko de Kyoto
1 de junho de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: as dificuldades de compreensão quando se trata de culturas diferentes, diferenças regionais, um artigo no Japan News que procura esclarecer alguns aspectos
Se existe algo muito difícil de esclarecer sobre o Japão é a antiga tradição das gueixas, que em Kyoto, antiga capital nipônica, no dialeto desta cidade, chama-se geiko, e a candidata preparada com muitos cursos do que existe de mais tradicional na cultura japonesa para este status que se chama maiko.
A esquerda uma geiko, acompanhada pela maiko, na área de Gion, em Kyoto. Foto publicada no artigo do Japan Times, que vale a pena ser lido na íntegra
O artigo é de autoria de Yasuhiko Mori, nascida em Kyoto e jornalista especializada em assuntos daquela antiga capital, onde a maiko se tornou moda no período Edo (1603 a 1867). Maiko é uma aprendiz de geiko (que é geisha no dialeto local) e seus cabelos são presos por grampos delicadamente trabalhados, seu rosto é pintado de branco e seu luxuoso quimono são obras de arte (custam no mínimo US$ 10 mil cada, e elas precisam ter diversos). O normal é estas cortesãs contarem com um protetor, que é o seu patrocinador, e faz parte de uma casa que reúne algumas delas que geralmente tem uma dona. Elas costumam ser convidadas para acompanharem os jantares que são patrocinados por milionários ou empresas, onde as danças e canções tradicionais do Japão são apresentadas, muitas vezes acompanhadas por um instrumento chamado shamisen de três cordas, onde cada gesto das dançarinas treinadas cuidadosamente tem um significado.
As geikos contam com perucas e seus quimonos são mais discretos e de grande beleza produzidos por casas especializadas, custando uma pequena fortuna, sendo correspondente a um automóvel de luxo importado. Os jantares das quais elas participam, alegrando os convidados, são realizados em restaurantes especializados chamados ryotei, com uma culinária extraordinária, tudo apreciado numa sala de tatami chamado zakishi. Elas só servem o saquê para os convidados e eventualmente são contempladas com pequenas doses que são elegantemente consumidas. Só vão se alimentar depois de terminado no jantar, mas também de forma leve, escolhendo outros estabelecimentos que servem culinárias mais simples, mas de elevada qualidade.
Tenho o privilégio de contar com a amizade de algumas gueixas, mas de bairros de Tóquio, inclusive de suas famílias. Elas não são profissionais de sexo como muitos imaginam no Ocidente, ainda que muitas tenham relacionamentos estáveis com seus patrocinadores. Conheço algumas geiko de Kyoto, mas superficialmente, por ter sido convidado para jantares com suas presenças, que são verdadeiras sessões de arte tradicional do Japão.
Os quimonos delas são verdadeiras obras de arte, normalmente de seda da melhor qualidade, com decorações adequadas à idade, mais alegres quando jovens, mais sisudas quando adultas, até aquelas que chegam até a ser idosas. Compõe o quimono o chamado obi, uma espécie de faixa para a cintura com muitos metros de comprimento, difíceis de serem devidamente ajustados. Muitos ornamentos artísticos, verdadeiras joias, também são utilizados. Tive a oportunidade de receber uma verdadeira aula sobre estes quimonos num estabelecimento especializado a pedido de uma grande empresa têxtil do Japão, o que é muito raro.
Muitas geikos são artistas famosas, chegando a ser conhecidas pelas esposas dos patrocinadores, pela fama de que gozam, notadamente pelas danças tradicionais que somente podem ser totalmente apreciadas pelos especialistas nestas artes tradicionais do Japão.