Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Tecnologia e Democracia

1 de junho de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: a Lava Jato no Brasil, o caso extremo dos uigures na China, os problemas nos Estados Unidos, The Economist comenta o uso da tecnologia na prevenção de problemas

Os avanços tecnológicos estão permitindo que as vidas dos cidadãos sejam acompanhadas de diversas formas, inclusive com imagens colhidas pelas câmeras na rua que identificam clip_image002as pessoas, fazendo o acompanhamento das consideradas potencialmente suspeitas. A China está aplicando nos uigures, uma minoria muçulmana que teria possibilidade potencial de provocar um movimento separatista no extremo oeste daquele país.

Mapa da China destacando a região de Xinjiang, onde a população de etnia uigure, predominantemente de muçulmanos, sofre forte vigilância diante do risco potencial de movimentos separatistas

Os avanços tecnológicos com o uso da inteligência artificial estão permitindo que a vida de muitos cidadãos de todo o mundo seja acompanhada em todos os detalhes, pelo controle de celulares, dos computadores, dos cartões de crédito e até de câmeras que permitem a identificação segura de pessoas suspeitas, sendo que na China as populações uigure, predominantemente de muçulmanos, são consideradas potenciais dissidentes separatistas.

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Uigures na China, predominantemente muçulmanos

Estão sendo instaladas na região de Xinjiang, no oeste da China, câmeras que permitem a exata identificação das pessoas cujas vidas são acompanhadas minuto a minuto, tanto nos seus carros como pelos seus celulares, não havendo como manter a sua privacidade, segundo artigo publicado no The Economist desta semana.

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Tecnologia para perfeita identificação das pessoas pelas suas fotografias

Nos governos autoritários como o atual na China, isto pode parecer usual. Quando a Alemanha Oriental foi unificada com a Ocidental em 1989, muitos se surpreenderam que o serviço de segurança da Stasi contava com vasta rede de informantes e funcionários para manter estas informações. Hoje, com todos os avanços tecnológicos e o uso da inteligência artificial, as informações armazenadas nas nuvens fornecem de forma indefinida enormes quantidades de informações para usos variados, que sempre exigem muitos cuidados.

Qualquer governo organizado necessita de um serviço mínimo de inteligência e o atual caso da greve dos caminhoneiros no Brasil mostra que as acusações das autoridades que não foram devidamente informadas de todos os riscos das paralisações de setores estratégicos não resistem à menor investigação. O que fica evidente é que o governo, o mínimo que ainda existe, tinha outras prioridades, não dando a devida atenção para problemas tão graves, ainda que alertado há muitos meses.

O que aparenta mais sério é que muitas partes do mundo estão sujeitas à deterioração do sistema democrático, pois abusos estão sendo praticados com o que deveria ser o mínimo de garantias individuais dos cidadãos e suas informações. Tudo está sendo alimentado pela chamada IJOP – Plataforma Integrada de Operações Conjuntas, segundo o The Economist.

Algumas cidades dos Estados Unidos têm programas de policiamento preventivo semelhantes ao IJOP, que analisam crimes passados para prever os futuros, com abusos no acompanhamento de possíveis criminosos, com potencial de grandes abusos, notadamente com a discriminação dos negros. Ainda que a corrupção no Brasil deva ser duramente combatida, algumas argumentações da Lava Jato deveriam ser mais fundamentadas, para não se basear somente em delações que não apresentaram provas concretas.

A revista The Economist recomenda alguns cuidados adicionais para que a democracia não seja mais prejudicada, pois se observa uma tendência ao populismo ou ao autoritarismo em muitas partes do mundo. Afinal, a ação das autoridades e das legislações foi um avanço da humanidade para defesa dos cidadãos contra o abuso do Estado. Não parece ser necessária uma posição ideológica liberal como da revista mencionada, para que os simples cidadãos não sofram tantos constrangimentos.

Minha experiência pessoal, percorrendo muitos rincões isolados deste Brasil, foi da percepção da população simples com relação às autoridades sempre tendentes a serem negativas. Lá estavam as autoridades para punir os menos privilegiados e não para protegê-los, quase sempre se posicionando do lado dos poderosos. Tendo esta consciência, parece legítimo perseguir um pouco mais de equilíbrio na sociedade brasileira, mesmo com todas as limitações a que os seres humanos estejam sujeitos.