Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Chineses Antes dos Europeus

20 de julho de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: documentações sobre a navegação dos chineses em alto mar antes dos europeus, livros e mapas com evidências, um trabalho atualizado de João Lara Mesquita com algumas lacunas

Hoje, já existem abundantes evidências que, antes dos europeus, os chineses no século XV contavam com embarcações de maiores dimensões, tendo percorrido os oceanos com dezenas de milhares de navegantes. Segundo alguns, deixaram mapas que induziram Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral, entre muitos outros, a “descobrirem” as Américas e o Brasil. Eu, pessoalmente, tive a oportunidade de ver alguns destes mapas clip_image002numas exposições no Japão há alguns anos. Recentemente, João Lara Mesquita apresentou um trabalho bastante amplo no chamado Mar Sem Fim, mostrando muitos dados que foram publicados no site do Estadão, notadamente dos avanços das tecnologias da construção naval.

Uma reprodução do junco do chinês Zheng He, do século XV

O trabalho de João Lara Mesquita cita que o maior expoente da época teria sido o eunuco muçulmano chinês chamado Zheng He (1371-1433) que, no período de 1405 até 1433, navegou sete vezes pelo Sudeste Asiático e Oceano Índico, com 200 navios e cerca de 27.800 tripulantes. Tudo indica que os chineses, que já dispunham de um grande território, não tinham, na ocasião, pretensões de estabelecer colônias pelo mundo. As maiores embarcações chegavam a ter 440 metros de comprimento por 186 de largura, tendo sido construído no estaleiro Dragon Bay, perto de Nanjing, cujos vestígios ainda existem. Em 1962, foi encontrado um leme de uma das embarcações, que tinha 11 metros e corresponderia à estimativa de 600 pés de comprimento. Existem controvérsias sobre as reais dimensões, mas certamente eram bem maiores que as caravelas portuguesas.

Um dos maiores museus no mundo sobre a China encontra-se na Universidade de Cambridge, organizado por Joseph Needham, e lá as dimensões apresentadas são menores, mas pelo menos duas vezes maiores que as embarcações europeias até fins do século XVI.

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Uma ilustração comparativa das embarcações chinesas com as caravelas portuguesas, como as usadas por Vasco da Gama

Existem diversas descrições destas gigantescas embarcações daquela época, informando que famílias habitavam nelas, que cultivavam algumas plantas para a alimentação dos tripulantes, como as feitas por Ibn Battuta no porto de Calicute deste período, como de Marco Polo que também os mencionou.

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Informa-se que estas embarcações já tinham comportas estaques, de forma que se elas chocassem com rochas somente havia problemas parciais, sem afundarem

As tecnologias de construção naval dos chineses da época eram avançadas, algumas até hoje utilizadas como estes estanques. Usavam-se âncoras flutuantes laterais para proporcionar mais estabilidade. Cascos duplos dividiam os compartimentos estanques. Haviam sistemas para transporte de águas para os tripulantes como os animais bem como manterem os peixes frescos capturados. Muitos destes conhecimentos foram adotados pelos europeus séculos depois.

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Uma invenção chinesa seria o leme na popa, que podia subir ou descer, de conformidade da profundidade das águas, conforme esta ilustração

Zheng He teria viajado sete vezes em direção ao Ocidente a partir do século XV, por 28 anos, viajando mais de 50 mil quilômetros, visitando 37 países. Ele morreu em 1433 no reinado do Imperador Ming Xuande tendo sido enterrado em Miushou, em Nanjing.

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Ilustração de Zheng He no comando da frota chinesa

Com base nestes e outros dados é possível elaborar um mapa das regiões que teriam sido navegados por Zheng He.

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Mapa das rotas navegadas pelos chineses, sob o comando de Zheng He

Em torno do ano 2000, Gavin Menzies publicou um livro que virou um sucesso popular mundial afirmando que os chineses percorreram até os oceanos Atlântico e Pacífico, o que é contestado por muitos, inclusive por João Lara Mesquita, com base em depoimentos de autores consagrados. Eles afirmam que não existem evidências para muitas colocações feitas por Gavin Menzies. No entanto, há elementos para colocar algumas dúvidas sobre a questão, inclusive um recente vídeo que mostra uma embarcação chinesa mais antiga localizada no Pacífico, em torno do ano de 1.200, com algumas inovações na construção naval que foram utilizadas posteriormente.

Na EXPO Internacional de Shanghai, de 2010, as autoridades mexicanas levaram para aquela exposição uma réplica de um marco que os chineses teriam deixado no México durante sua viagem pela região, que provocou um grande sucesso. Também foram apresentados em algumas exposições realizadas no Japão mapas chineses que mostravam as Américas, elaboradas muito antes da sua “descoberta” por Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral.

Os portugueses que alegavam terem aprendido a navegar pelo alto-mar com base no que estudaram na Escola de Sagres reconheceram recentemente que ela nunca existiu na realidade. São desafios que necessitam ser esclarecidos por pesquisas históricas futuras, que continuam revelando fatos concretos que podem esclarecer pontos controvertidos que ainda perduram na história das relações da Ásia com a Europa, que não se realizavam somente por terra, pelas Rotas das Sedas.