Fernanda Montenegro no suplemento Eu & Fim de Semana
20 de julho de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: como conciliar o teatro com a televisão, concedida a Helena Celestino, uma entrevista curta e grossa, uma parte importante da história do teatro no Brasil
Quem tem substância para falar não precisa de muito espaço para sintetizar 75 anos de uma brilhante carreira. Sempre acabo ficando com a noção que as dificuldades enfrentadas acabam estimulando uma criatividade que não é só pessoal, mas de uma geração, no caso de atores que está quase encerrando uma importante página na história brasileira, notadamente do teatro, mas que se extravasa para a vida no contexto em que a vivemos na sociedade.
Fernanda Montenegro concedeu entrevista para Helena Celestino, publicada no suplemento Eu & Fim de Semana, do Valor Econômico
Fernanda Montenegro, que abre a próxima edição da FLIP, completa 75 anos de carreira e está finalizando um livro sobre seu trabalho, onde as figuras mais importantes do teatro brasileiro participam ativamente. Muitos já desapareceram e ela, sem nenhuma morbidez, está se preparando naturalmente para deixar o cenário, onde conseguiu se destacar de forma ímpar. Na FLIP, será apresentado o livro “Fernanda Montenegro: Itinerário Fotobiográfico”, preparado pelo pela Edições SESC.
Também figuras internacionais, como Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, aparecem em sua história, muitos deles que não são unanimidades por terem suas opiniões próprias. Mas todos que tiveram importância no teatro brasileiro, como Sérgio Britto, Ítalo Rossi, Fernando Torres, Paulo Autran, Ariano Suassuna, José Celso Martinez Corrêa, Maria Della Costa, Gianni Ratto, Flavio Rangel, Gianfrancesco Guarnieri, Leon Hirszman, entre outros, participam desta história, que brevemente poderá encerrar mais um importante capítulo.
Parece evidente que o atual período por que passa o Brasil, com suas dificuldades econômicas e política, como também aconteceu no passado, notadamente durante o regime militar, existem lampejos de novas posições, como as em que as mulheres e pessoas do terceiro sexo ocupam espaços indispensáveis.
Quando o teatro não proporcionava o mínimo sequer para o sustento dos seus personagens, Fernanda Montenegro encontrou na televisão um meio de sobrevivência, mantendo a dignidade do seu trabalho, marcado pela sua elevada qualidade. Suas lições de que não bastava decorar os textos, mas penetrar na compreensão dos personagens e nas intenções dos seus autores é relevante para aqueles que em elevado número hoje labutam neste setor, nem sempre com a qualidade desejada.
Fernanda Montenegro não é uma pessoa que tira partido de eventos lamentáveis, como a que ela cita na entrevista, onde sofreu atentado num teatro que não se sabe exatamente de quem partiu. Mas a história continuará, bem ou mal, com novos personagens que se espera tenham também uma parte da profundidade dos que deixaram suas marcas, ainda que a cultura sempre tenha merecido somente uma posição secundária na consideração das autoridades brasileiras. Mesmo assim, com todas as limitações, existe uma cultura brasileira, ainda que não satisfaça a todos.
Fernanda Montenegro deixa importantes lições para os que desejam aprofundar seus conhecimentos.