Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Nosso Muito Obrigado aos Javalis Selvagens e aos Tailandeses

19 de julho de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: a entrevista coletiva dos Javalis Selvagens, lições que enriquecem a humanidade, todos aprendemos muito com este heroico episódio

Além das emoções extremas por quase um mês, quando parte da humanidade ficou ligada ao drama deles com toda a solidariedade possível, que nem os melhores autores conseguiriam imaginar, superou-se mais uma fase crucial, restando que nos próximos meses as possíveis sequelas psicológicas também sejam superadas, deixando lições para todos nós que nem seriam possíveis de se obter nos melhores cursos sobre a vida.

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Javalis Selvagens com algumas profissionais que acompanham a sua completa recuperação física e psicológica

Mesmo que algumas pessoas tenham restrições aos militares que administram a atual Tailândia, há que se reconhecer a competência dos principais responsáveis pelo comando deste quase milagre de recuperação dos 12 jogadores de futebol e seu professor, contando com voluntários solidários de diversas partes do mundo, que também enfrentaram terríveis problemas. Eles estão se cercando de cuidados indispensáveis, controlando o assédio da imprensa, ávida por depoimentos destes que se tornaram heróis mundiais. Por mais um mês, no mínimo, com seus familiares, a continuidade de suas recuperações será administrada, pensando na preservação destes adolescentes que passaram por dramas extraordinários.

Aparentemente, tudo está transcorrendo melhor do que esperado, o que está permitindo uma ligeira antecipação da volta destes jovens ao seio de suas famílias, que certamente ajudará na recuperação que parece excepcional. Há que se atribuir parte deste fenômeno à forte carga cultural local, muito baseada no budismo e na meditação, que permitiu que estes jovens fossem mantidos no equilíbrio adequado, quando muitos tenderiam, com razão, para o desespero diante de muitos dias na escuridão, sem alimentação, somente bebendo água que pingaram dentro das grutas.

Os que conhecem pessoalmente os tailandeses e outros refugiados de países vizinhos, apátridas, não se surpreendem com seus sorrisos e as mãos juntas que expressam a gratidão pela vida, que são repetidas quase em todos os atos naquele país.

Tailândia é realmente um país a ser visitado demoradamente. Os seus muitos templos maravilhosos e o povo sempre sorridente, mesmo com todas as dificuldades naturais de um país em seu particular desenvolvimento, uma alimentação rica e tropical ainda que muito apimentada para alguns estrangeiros. Não se observa, mesmo no confuso trânsito com muitas motocicletas de uma cidade como Bangkok, o estresse das grandes metrópoles do mundo. O excesso de consumismo e a ânsia pela riqueza não parece proporcionar a alegria da vida da qual eles gozam. As propriedades das terras rurais são do reino e somente estão temporariamente sendo exploradas pelas famílias dos agricultores. Uma visita tranquila aos seus muitos templos renova em cada visitante a desconcentração da qual necessitamos.

Ainda que as perguntas dos jornalistas, antecipadas por escrito, fossem devidamente controladas, o objetivo principal era não submeter os adolescentes às pressões desnecessárias. Depois de comprovado que psicologicamente estejam totalmente recuperados, talvez questões mais agudas e desconfortáveis sejam formuladas. Mas todos puderam observar que eles estão alegres, fisicamente recuperados, em condições de voltar, aos poucos, para a vida normal, onde continuarão sendo objetos de curiosidades.

Questões banais, como o desejo de terem às alimentações a que estavam acostumados e retomarem seus projetos de vida, observando-se que desejam retribuir com exemplos que viveram, como o sacrifício de um mergulhador que, infelizmente, acabou falecendo. Ou se tornarem jogadores profissionais de futebol, que certamente perseguirão com grande empenho. Assistiram pela televisão à final da Copa do Mundo deste ano e torceram pela França que se sagrou campeã. Informa-se que possuem convites, para o futuro, de jogarem contra eles em muitas partes do mundo. Muito merecido, pois não puderam atender ao convite da FIFA para assistir na Rússia à final da Copa.

Os simples tailandeses também deram a sua contribuição neste que se tornou um projeto mundial. Mesmo com todas as limitações, senhoras se dispuseram a preparar refeições para os voluntários que estavam trabalhando na operação. Populares se afastaram do local para que as ambulâncias pudessem se deslocar rapidamente para o hospital. Todos colaboraram, dando uma ampla lição para o mundo, mesmo nos momentos críticos, como a quebra das bombas que retiravam as águas e outros elevados riscos com o oxigênio indispensável. Lavradores que tiveram suas terras inundadas entendiam que tinham que suportar estes sacrifícios.

Como é natural num país que tem uma família imperial, e o Imperador como chefe de Estado, os jovens prestaram o seu tributo como símbolo do agradecimento a todos os tailandeses. Ainda assim, a entrevista à imprensa serviu para corrigir algumas informações que naturalmente tendem a ser distorcidas, quando nem todos os dados são amplamente divulgados, que não era a prioridade no momento em que ocorreram.

No balanço atual, todos nós nos enriquecemos com este episódio que será lembrado por muito tempo, mostrando a importância da solidariedade humana, que pode superar muitas das dificuldades que enfrentamos.