Suplemento do Agronegócio do Valor Setorial
30 de julho de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: as dificuldades com os conflitos sino-americanos, riscos que estão aumentando apesar das potencialidades, uma torcida para que o agronegócio brasileiro continue ajudando o Brasil
Ainda que uma economia da dimensão da brasileira necessitar de um equilíbrio não somente do setor rural, como das indústrias e dos serviços, mesmo que nos últimos anos o agronegócio tenha dado a sua contribuição, há indícios de aumento dos seus riscos que podem arrefecer o entusiasmo daqueles que procuram destacar as suas potencialidades.
Capa do Valor Setorial Agronegócio, que vale a pena ser lido na íntegra
Desde 2010, a participação do agronegócio no PIB brasileiro veio marcando a sua contribuição, tendo sido a maior produtora mundial de café, suco de laranja, açúcar, feijão e celulose de fibra curta; o segundo produtor de soja, etanol, carne bovina, carne de frango; e um dos primeiros cinco em milho, arroz, algodão e cacau. Somente em 2017, houve uma ligeira queda no PIB do agronegócio.
Mas, lamentavelmente, está havendo um risco que se acentuou desde a greve no setor de transportes, onde o governo se comprometeu com uma remuneração mais elevada para os caminhoneiros do que indicada pelo mercado, que não consegue ser mantida. Os produtores rurais estão arcando com custos de transportes mais elevados, tanto para colocar seus produtos no mercado interno, no mercado externo como dos insumos que necessitam para suas produções.
Todos sabem que os fretes dos transportes sofrem diversas influências que não se resumem aos custos dos combustíveis, custos de manutenção dos caminhões em estradas malconservadas, muitas vezes intransitáveis pelas lamas, além dos destinos e possibilidades de se contar com cargas de retorno. Não existem, realisticamente, condições de seus tabelamentos.
Com isto, está se elevando os riscos, inclusive de abastecimento dos insumos agrícolas como fertilizantes, sementes, corretivos das aridezes dos solos a tal ponto que muitos produtores estão evitando as segundas safras, que ainda dependem das chuvas.
Ainda que negados por muitos caminhoneiros, estes e outros fatores fazem com que o mercado funcione mais adequadamente que os eventuais tabelamentos, que, se não forem realistas, acabam não sendo respeitados. Muitos produtores sentem que os riscos estão elevados, não valendo a pena assumi-los para a chamada segunda safra, que poderá ser sensivelmente menor do que a do ano anterior.
Também na guerra comercial que está ocorrendo, principalmente entre os Estados Unidos e a China, não existe nenhuma segurança do que vai acabar prevalecendo. Diversos acordos estão sendo tentados com outros grandes consumidores de produtos agropecuários, como a Comunidade Europeia e o Japão, não se sabendo o que vai acabar prevalecendo, contribuindo também para o aumento dos riscos em diversos produtos.
Também as irregularidades climáticas estão sendo acentuadas, com secas em algumas regiões, chuvas em excesso em outras, bem com tufões, ainda que El Niño não tenha se confirmado.
Diante deste quadro, os chineses que são grandes consumidores e desequilibram o mercado internacional, para não serem apanhados de surpresa no abastecimento de sua gigantesca população, tendem a aumentar a sua produção, ainda que contem com restrições de água. Pesquisas estão sendo intensificadas, mas tudo indica que seus resultados sejam de prazo mais longo.
Não resta senão as autoridades de muitos países ampliarem suas assistências para os produtores rurais, como está sendo feito nos Estados Unidos. Mas existem países, como o Brasil, que contam com as disponibilidades de recursos orçamentários. Trata-se, portanto, de um quadro que até agora não é dos mais animadores para os produtores brasileiros.