Avaliação Científica do Uso Álcool e Seus Efeitos em Doenças
27 de agosto de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Saúde | Tags: estudo publicado na revista científica Lancet, financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates, nenhum benefício líquido
Quando alguns assuntos de saúde afetam interesses comerciais, acabam ocorrendo até distorções em muitos anúncios de suas conclusões. Isto ocorre também com o álcool, cujo consumo moderado chega a ser recomendado em casos específicos. Portanto, a credibilidade das fontes das informações é de vital importância, como é o caso da revista científica Lancet, que goza do maior prestígio entre os especialistas em saúde.
Uma capa da revista científica Lancet que recebemos mensalmente de forma gratuita, com muitas matérias de alto interesse em assuntos de saúde
No último número deste mês de agosto, um assunto relacionado com o consumo do álcool figura como uma das matérias principais no Lancet. A primeira referência sobre este importante trabalho localizei no site de um importante veículo de comunicação social. Mas, quando tentei fazer uma cópia da matéria, notei rapidamente que ela tinha sido deletada, possivelmente porque prejudicaria compreensivelmente os seus potenciais anunciantes. Isto acontece também com outros produtos similares que podem afetar a saúde de muitos, como o cigarro.
Como o trabalho menciona muitos autores e seus trabalhos, vamos utilizar nesta matéria o resumo executivo que consta da revista Lancet sobre o assunto. Os mais interessados devem consultar diretamente a revista. O site do O Globo também publica um artigo sobre o assunto em português.
O resumo no Lancet menciona que o uso do álcool é um dos principais fatores de risco para a morte e incapacidade dos seres humanos, mas a sua associação com a saúde permanece complexa, dados os possíveis efeitos positivos do consumo moderado dentro de determinadas condições. A abordagem da revista é abrangente e são usados os dados do que chamam de Estudo sobre a Carga Global de Doenças, Lesões e Fatores de Risco de 2016. Foram geradas estimativas aprimoradas para 195 locais, no período de 1990 a 2016, para ambos os sexos e para grupos de pessoas com cinco anos de diferença, entre 15 a 95 anos e até mais. As correções foram feitas no que denominam DALYS – Desability – Adjusted Life Years.
Os dados envolvem as vendas de bebidas alcoólicas, levando em conta os consumos turísticos e não registrados, os 23 tipos de desfechos de saúde associados ao uso do álcool, tentando quantificar o nível de consumo para cada indivíduo. Isto demonstra a transparência sobre os critérios utilizados para a correção dos dados brutos.
Globalmente, chegou-se à conclusão de que o uso do álcool foi o sétimo fator de risco principal para mortes e DALYS em 2016, representando para as mulheres 2,2% (com 95% de segurança no intervalo entre 1,5 e 3,0) e 6,8% para os homens (intervalo de 5,8 e 8,0). Os dados das mulheres são bem abaixo dos homens, o que leva a consideração que em algumas ocasiões há benefícios com consumos moderados para os homens, em casos bem específicos.
Segundo o estudo, o álcool provoca muitas mortes pelo câncer, o que está levando à recomendação de que haja maior rigor para moderar mais o seu uso. Segundo a matéria publicada no site de O Globo, o total mundial de mortes é de cerca de 2,8 milhões por ano e no Brasil seria de 100 mil, o que aparenta ser baixo. Eventuais benefícios como para prevenção de problemas cardíacos são prejudicados por mortes como os que ocorrem no trânsito na mesma faixa de pessoas.
O consumo mesmo moderado, como de 10 gramas diários de álcool, acaba sendo prejudicado pelos 23 tipos diferentes de doenças que ele facilita. O consumo mais elevado ocorre na Dinamarca e países com elevado número de muçulmanos que evitam o álcool são os que apresentam menos problemas.
Possivelmente no Brasil, os problemas provocados pelo consumo do álcool são mais sensíveis nos desastres no trânsito, tanto nas rodovias como nas cidades.