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Desarrumação no Japão

13 de agosto de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: desarrumado confesso, diversas posições sobre o problema, importância da tradição cultural, katazuke ou arrumar | 2 Comentários »

clip_image002Um extenso artigo de Philip Brasor publicado no The Japan Times chama a atenção para no mínimo algumas posições distintas dos japoneses sobre o assunto, mas parece que existem outros fatores que exigem um katazuke ou arrumação no Japão atual.

Muitos escritórios no Japão são confusos, guardando muitos documentos desnecessários, o que tende a acontecer também em muitas residências com outros materiais

Marie Kondo se tornou famosa no mundo escrevendo um livro sobre a arte japonesa de katazuke, ou seja, arrumar as coisas principalmente nas residências. Esta necessidade decorre do hábito japonês de guardar muitas coisas, mesmo as que já se tornaram desnecessárias. Como as residências no Japão se tornaram menores do que no passado, há uma evidente necessidade de descartar o que já não é utilizado, que foi agravado pela mania de consumismo das últimas décadas, quando os japoneses passaram a adquirir tudo que aparentava ser uma novidade útil. É evidente que uma racionalização na guarda de qualquer coisa contribui para maior eficiência, no mínimo pela facilidade de sua localização.

O autor do artigo chama a atenção que havia outra autora anterior, chamada Hideko Yamashita, que tinha proposto o danshiri, uma nova palavra japonesa que seria a junção dos ideogramas dan que significa proibir, sha que significa dispor de coisas desnecessárias e ri que seria deixar para trás.

Ouso sugerir que havia outro conceito anterior do japonês, que se relaciona com a palavra motainai – simplificado pela ideia do desperdício, ou seja, que descartar algo que eventualmente poderia ter uso. Quando havia espaço para guardar tudo para esta remota possibilidade, tudo bem. Agora isto se tornou mais difícil, tanto nas residências como nos locais de trabalho.

Nos países em desenvolvimento como o Brasil, contava-se no passado com facilidade de se ter um auxiliar para ajudar a organizar os documentos que vão se acumulando, selecionando-os e arquivando de forma adequada, o que hoje é facilitado pela informática. Mas seus custos se elevaram e muitos não contam com habilidade para fazer o katazuke com eficiência.

O autor do artigo refere-se a uma série de episódios que foram veiculados pela TV para tratar de casos específicos onde foram solicitadas ajuda para resolver estes problemas com o auxílio de profissionais nas orientações para estas tarefas. Certamente, existem tais profissionais em diversos países, sendo que muitos documentos fiscais e de outra natureza, como os que podem ser objetos de ações judiciais, acabam exigindo até aluguéis de depósitos para mantê-los por muitos anos, com custos expressivos.

Também existia no Japão, que no final de ano se fazia uma limpeza geral, inclusive dos muitos papéis acumulados, procurando-se selecionar os indispensáveis e eliminar os desnecessários.

A inércia acaba favorecendo o acúmulo de muitos papéis que não são mais necessários. Conheço um executivo que, depois de alguns meses, acaba descartando todos eles, mesmo sem examinar o seu conteúdo, entendendo que, não tendo necessidade dos mesmos por um período, o caso já foi resolvido ou não tem nenhuma importância.


2 Comentários para “Desarrumação no Japão”

  1. Carlos Abreu
    1  escreveu às 13:11 em 13 de agosto de 2018:

    Parece que o país que criou o 5S entre outras metodologias (Toyota kaizen,etc) não se utiliza do próprio ensinamento. Interessante…

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 05:14 em 14 de agosto de 2018:

    Caro Carlos Abreu,

    É sempre difícil haver uma uniformidade nacional. Como em todas as sociedades complexas existem organizações de variados tipos.

    Paulo Yokota