Lucros dos Bancos Brasileiros no The Economist
3 de agosto de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: alegação das inadimplências que não ocorrem nestes bancos, diferença com os resultados da economia brasileira, o lucro dos bancos brasileiros com relação aos internacionais | 2 Comentários »
O que a imprensa brasileira não pode expressar abertamente é o lucro escandaloso dos bancos brasileiros, pois eles são os grandes anunciantes. Isto está parcialmente exposto num artigo publicado pelo The Economist. Este lucro é discrepante com os dos bancos internacionais ou o restante da economia que enfrenta suas dificuldades, com um crescimento modestíssimo do PIB brasileiro.
Charge publicada no artigo do site do The Economist, com o Brasil quase parado e os bancos a pleno vento, que merece ser lido na íntegra
O artigo na prestigiosa revista The Economist informa que a economia brasileira passou períodos de muitas crises, até com encolhimento do seu PIB e problemas de hiperinflação. Mas os bancos brasileiros sempre mantiveram rentabilidades elevadas que chegam a dois dígitos, acima dos internacionais que estão em um dígito, faça sol ou faça chuva. Apesar da redução expressiva da taxa Selic até o começo deste ano, que deveria ser um sinalizador importante para a economia e que deixou de cair nas últimas decisões do Banco Central, as rentabilidades dos poucos bancos brasileiros continuam elevadas. Eles alegam que a inadimplência é elevada no Brasil, mas mesmo com as reservas constituídas para enfrentá-la, não reduzem os seus lucros, diante das volumosas garantias exigidas dos seus clientes.
Hoje, os bancos obtêm elevados lucros com empréstimos para pessoas físicas, quando deveriam estar suportando com juros razoáveis as empresas, para que elas pudessem efetuar seus investimentos e ampliar suas atividades. Ao mesmo tempo, os que deixam os seus recursos com estes bancos recebem remunerações que nem cobrem as inflações que continuam ocorrendo, mesmo reduzidas. Outros serviços, como as administrações dos cartões de crédito, também proporcionam remunerações exageradas. Tudo isto é possível dado o pequeno número dos grandes bancos brasileiros, sem que os públicos exerçam atividades reguladoras.
Um elevado número dos dirigentes das instituições bancárias públicas são candidatos a colocações nos bancos privados, que com suas elevadas remunerações atraem os melhores recursos humanos do país, ao lado do setor público no qual, uma vez admitido por concurso, não apresenta risco de desemprego.
Nas diversas aplicações feitas por estes bancos, como no mercado de capitais, operações com títulos públicos e até operações no mercado internacional, as que dão elevados retornos acabam ficando nos fundos dos dirigentes dos bancos e os mais baixos são destinados aos seus clientes comuns. Garantias reais executadas dos clientes, como dos empresários ou produtores rurais, acabam sendo “leiloados” entre dirigentes dos bancos, cujas remunerações são astronômicas. E eles contam com patrimônios registrados pelos seus valores históricos que diferem totalmente com os do mercado. Quando vendidos, muitas operações acabam envolvendo recursos paralelos.
Diante desta lamentável realidade, começam a multiplicar-se instituições de menor porte que estão operando no mercado financeiro, criando uma espécie de sistema bancário paralelo, como o que existe na China e que apresenta riscos previsíveis. Seria conveniente que o Banco Central cuidasse de um mínimo de sua regulamentação, como já existiu no passado.
De qualquer forma, além das renegociações dos empréstimos impagáveis, estão ocorrendo algumas reduções dos custos financeiros, ainda modestos diante dos juros cobrados. Haveria espaço para outras reduções, acompanhando a queda da Selic, mas, ainda assim, as atividades bancárias continuarão proporcionando rentabilidades que excedem o razoável, dado o pequeno número de bancos, que não forçam uma concorrência acirrada.
A queda dos juros possível poderia aumentar as possibilidades de recuperação da economia brasileira, mas tudo isto, reconhece o The Economist, dependerá o que será perseguido pelo novo governo a ser eleito em outubro próximo.
Brasil paraíso dos Bancos…não ha justificativas para o spread praticado nas taxas de juros nesse pais….dinheiro captado a 9% cdi…repassado a 100% no cartão especial
Isso é so um exemplo simplista mas o setor produtivo real não tem como se financiar nesse pais fora dos bancos públicos
Caro Mauricio,
Esta é uma das grandes distorções que existem no Brasil. As inadimplências temporárias são consideradas custos, mas acabam se recuperando, em grande parte.
Paulo Yokota