Significativas Heranças de Viena para o Mundo Atual
27 de agosto de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: assunto tratado no artigo do The Economist, contribuições que extravasam o campo econômico e político, pauta oportuna quando está se falando na decadência da democracia tradicional
Um artigo sintético, mas de grande peso, foi divulgado pelo The Economist tratando das muitas heranças deixadas por Viena, onde, dando sequência ao que foi acumulado pelo Império Austro-Húngaro dos Habsburgos, muitos intelectuais espalharam pelo mundo seus conhecimentos, na primeira metade do século XX, diante da ameaça nazista da Alemanha. O artigo destaca Joseph Schumpeter, que foi para os Estados Unidos, Karl Popper, que foi para a Nova Zelândia, e Friedrich Hayek, que foi para a Grã-Bretanha, acabando em Chicago, mas muitos outros podem ser acrescidos numa longa lista, quando a democracia corre risco novamente no mundo atual.
Uma das muitas visões de Viena, com o Palácio Imperial de Hofburg, Áustria
Deve-se lembrar de início que o Brasil tem uma ligação profunda com Viena, pois a princesa brasileira, que veio da Europa para se casar com D. Pedro I, era da família Habsburg, da Áustria. Quem não se lembra do desenvolvimento da música na Áustria, desde a clássica com Mozart, Hayden, Schubert, Strauss, Mahler, grupo ao qual se pode acrescentar Beethoven que lá influenciou muito, da psicanálise com Sigmund Freud, da arte decorativa com Gustav Klimt, entre muitos outros setores do conhecimento e da arte humana?
Na economia, além dos destacados no artigo de Ludwig von Mises, na luta contra o totalitarismo, Joseph Schumpeter escreveu “Capitalismo, Socialismo e Democracia” em 1942, Karl Popper “A Sociedade Aberta e seus inimigos”, em 1945, Friedrich Hayek “O Caminho da Servidão”, em 1944. O artigo da revista informa que os três defendiam, em vez do totalitarismo, um poder difuso, a competição e a espontaneidade. Viena foi destruída uma vez pela guerra e violência, mas atualmente voltar a ganhar nova evidência.
Lembra-se que para o Brasil veio de Viena Alexandre Kafka, que se consagrou como representante brasileiro e outros países no FMI – Fundo Monetário Internacional, e Frederico Heller, que foi o editor de economia do jornal O Estado de S.Paulo por décadas, como raro especialista em café e câmbio. Ambos, formados na Universidade de Viena, começaram por assessorar, ainda jovens, o empresário Roberto Simonsen, um líder de então no país.
Vista aérea de todo o Hofburg, numa fotografia de 1900
A depressão que se seguiu a 1929 acabou provocando a exagerada intervenção governamental no mundo que, com o término da Segunda Guerra, ficou consagrada como forma de atuação. Todos os três autores ficaram inconformados com a complacência com o autoritarismo e procuravam contribuir com fundamentos intelectuais, o livremente pensar. O artigo no The Economist faz considerações sobre o que cada um procurava especular com seus escritos. Só depois de 1940 é que eles encontraram uma forma, como a atual, de compatibilizar o capitalismo com a descentralização política, superando até o que tinha sido formulado por John Maynard Keynes, com sua “Teoria Geral”, em 1936.
Isto se efetivou na prática com uma nova geração de economistas e políticos, incluindo particularmente Ronald Reagan e Margaret Thatcher, compatibilizando mercados e indivíduos. As contínuas invenções recentes, segundo a revista, do Vale do Silício, como do mainframe e do PC, à internet e aos telefones celulares, justificaram a fé que tinha Schumpeter nos empreendedores. Hoje, os austríacos estão novamente em evidência e os três ajudam a iluminar as tensões atuais entre a liberdade e o progresso econômico.
A revista ressalta os riscos atuais da tecnologia, com a Big Data permitindo às empresas e aos governos coordenarem muito mais dados que foram sonhados por qualquer burocrata da economia no passado. Mesmo nas eleições confusas como a que o Brasil vai enfrentar ainda este ano, mostram os riscos elevados do que possa acontecer com os atuais instrumentos disponíveis, movimentando quase instantaneamente emoções de milhões de eleitores, prevalecendo à racionalidade e levando a resultados perigosos e superficiais, onde só é possível detectar por ora riscos crescentes, captados pelos indicadores do mercado. Isto está acontecendo em muitos países no mundo de forma simultânea, lamentavelmente, e não somente por aqui. Há que se refletir sobre o assunto.