Dificuldades Eleitorais Brasileiras
20 de setembro de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: a opção menos ruim, capa do The Economist, dificuldade de compreensão no exterior
A revista internacional The Economist, que se orgulha dos seus mais de 175 anos de posição liberal consolidada, dedica a sua matéria de capa à elevada possibilidade de eleição de Jair Bolsonaro para presidente da República nas próximas eleições no Brasil. Faz comparações com o populismo de direita que está se multiplicando nas Américas e mesmo em alguns países europeus. Enfrenta dificuldades para entender que, dentro do processo democrático, algumas vezes é necessário optar-se pelo menos ruim, esperando que, com custosos aprendizados ao longo do tempo, chegue-se a uma posição econômica e política aceitável. O assunto está sendo objeto de notas nos jornais brasileiros como Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo.
Capa do The Economist do próximo fim de semana
Todos os brasileiros que acompanham a evolução dos problemas políticos e econômicos dos últimos anos sabem que a complexa situação em que o Brasil encontra-se atualmente decorre de muitos fatores onde todos possuem uma parcela de responsabilidade, a partir dos eleitores que não foram capazes de eleger seus representantes de forma adequada. No Executivo, no Legislativo como no Judiciário, com em todos os penduricalhos que existem na administração pública, estendendo-se até ao setor privado que se beneficia da ação governamental, acostumou-se a gastar mais do que era produzido, consolidando “direitos adquiridos” como se fossem vacas sagradas asseguradas pela Constituição brasileira, extremamente detalhada. Não se conseguiu compreender que isto era uma incompatibilidade matemática que só poderia acabar em filas, onde os menos poderosos não poderiam ser atendidos nas suas aspirações básicas. Na maioria dos países democráticos do mundo, o que está na Constituição, normalmente mais sintética, é um desejo, um objetivo a ser perseguido, que deve ser definido na forma de sua execução pela legislação ordinária, ou pela evolução da sua interpretação no nível máximo do Judiciário ao longo do tempo.
É compreensível que todos os candidatos aos cargos mais relevantes no Brasil, pelo sistema eleitoral, expressem o que desejam perseguir e, para tanto, esperam assegurar os votos dos eleitores que devem estar conscientes das limitações existentes no mundo real. O endividamento que procura superar o que pode ser gasto tem um limite determinado pelos credores, internos ou externos, e pela capacidade de arcar com os seus encargos. A tentativa de um milagre para resolver a questão acaba sendo resolvida pela inflação, quando os preços restringem as demandas reais ao quadro das disponibilidades limitantes. O que se espera é que este ajuste seja feito de forma menos injusta possível, que de outra forma acaba provocando uma tendência às manifestações violentas dos inconformismos, numa variação da revolução.
O acúmulo de desacertos ao longo dos muitos anos provocou a deterioração da imagem dos políticos, que tendem a se expressar a favor dos que se manifestam veementemente contra seus pontos considerados cruciais, como demonstram as pesquisas atuais de opinião, difíceis de serem radicalmente alterados no futuro próximo, salvo acontecimentos excepcionais. De outro lado, tudo indica que se conseguiu galvanizar uma posição dos que se consideram injustiçados pelas decisões até do órgão máximo do Judiciário, que não apresenta uma maioria clara dos seus membros nas decisões relevantes.
Parece necessário considerar-se que tudo isto não está tão claro, pois os partidos no Brasil não contam com tradição ideológica, nem há uma grande disciplina dos seus membros. Existem espaços para acomodações, mas o tempo disponível até as eleições é curto, e as indicações das pesquisas de opinião mostram que existem tendências repetidas para a sua consolidação.
Mudanças significativas nos meios de comunicação social estão ocorrendo no Brasil e no mundo, e há que se admitir que as tendências dos brasileiros aparentem ser mais emotivas do que racionais. Mesmo que não se confirme totalmente o que está sugerido pela matéria da revista The Economist, tudo indica que uma boa parte dos acontecimentos futuros se enquadre dentro destas possibilidades.
Comparando os brasileiros com outros povos, sente-se que os eleitores do Brasil têm maior capacidade de adaptar-se às novas situações econômicas e políticas, até pela falta de uma tradição cultural de longo prazo. Os problemas existem, mas nem sempre são tão graves como os estrangeiros tendem a interpretar, até porque a natureza dotou o país de condições mínimas para a sobrevivência, ainda que todos tenham que arcar com sacrifícios que não desejam. Que tudo poderia ser melhor, não há dúvida, mas parece que não vale a pena sonhar e sofrer com o que não está ao alcance das nossas mãos.