Atuando com a Realidade Histórica que se Dispõe
26 de outubro de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: a possibilidade da vitoria de Jair Bolsonaro, dois artigos do The Economist sobre o Brasil atual, faz-se o que possível e não o que seria desejável, não se trata de um exercício acadêmico sobre o puro liberalismo econômico e democrático
A revista The Economist, reconhecidamente liberal, também luta com a necessidade de contenção de suas despesas, utilizando subsídios de jornalistas locais que parecem ignorar todas as limitações existentes na realidade que não se restringe somente ao Brasil. Não aparenta absorver a dura limitação apontada pelo jornalista William Waak no jornal O Estado de S.Paulo, que cita um pronunciamento do político Tancredo Neves mencionando que existe um discurso para a campanha eleitoral e outra para governar, infelizmente.
Ilustração constante de um artigo sobre o Brasil no The Economist que vale a pena ser lido na íntegra
Num dos dois artigos no The Economist menciona-se todas as principais manifestações de Jair Bolsonaro com as suas posições radicais de direita, dizendo que se ele for eleito seria uma tragédia para a America Latina. Bem como as diversas mazelas em que foram envolvidos partidários do PT ao longo dos últimos anos em que estavam no poder. Elas teriam provocado à desmoralização dos políticos tradicionais de outros partidos, conduzindo-os às corrupções, visando predominantemente às vantagens pessoais. Na realidade, foram atingidos principalmente os que adotam posições centristas que trocaram seus votos parlamentares por favores que atualmente estão sendo apontados pelos membros do judiciário. Para o segundo turno das eleições para a Presidência da República, restou somente as duas primeiras alternativas mencionadas, sendo que no primeiro turno já teria ocorrido uma substancial renovação dos eleitos, acima do esperado principalmente no Congresso, que não está devidamente enfatizada pela revista.
Mesmo que o desejável fossem posições mais profundas e detalhadas, as opções restantes somente se concentram nas possibilidades de aprovação das muitas reformas indispensáveis para o Brasil. De um lado, o grupo do candidato Jair Bolsonaro está aceitando o apoio partidário sem oferecer posições no governo, ao mesmo tempo em que conta com o apoio de bancadas setoriais que funcionam no Congresso sem coloração partidária, como os ruralistas, evangélicos e de segurança. Ele conta como carisma pessoal que o levou até a atual situação. De outro, Fernando Haddad, fortemente vinculado ao PT, diante da impossibilidade legal da candidatura do seu líder, Lula da Silva, tenta formar uma ampla coligação multipartidária, sempre difícil de forma semelhante com o presidencialismo-parlamentarista do governo de Michel Temer que está terminando o seu mandato. Haddad terá que fazer concessões para obter apoio para as reformas indispensáveis, exatamente para os que vieram resistindo às reformas substanciais, até porque não conta com carisma pessoal capaz de mobilizar multidões de eleitores.
Lamentavelmente, nas atuais eleições provocou-se uma exagerada polarização política, com uso indiscriminado dos meios de redes de comunicação eletrônica que elevam colocações emocionais, inclusive do que passou a ser conhecido como fake news e não corresponderem à realidade.
No segundo artigo na revista The Economist se expressa sobre a esperança de posições realmente liberais defendidas pelos candidatos, que não encontra respaldo na atual realidade brasileira, apesar da indicação de Paulo Guedes pelo atual favorito nas eleições, que estudou na Universidade de Chicago. Não considera uma posição completa do verdadeiro liberalismo quando se coloca a união da ordem e progresso, marca do positivismo de Auguste Comte, que não ganhou importância na Europa, acabando por ficar como uma discussão exageradamente acadêmica, pouco se relacionando com a realidade histórica brasileira ou da América Latina que tenha importância na situação atual.
Algumas colocações do artigo sugerem um diagnóstico insuficiente, como quando se relaciona a década perdida do Brasil com a política econômica adotada, quando a crise do petróleo atingiu o mundo todo. Atribui-se a Jair Bolsonaro admirações sobre alguns ditadores da América Latina como limitações de profissionais que estudaram em Chicago, que se ajustaram à realidade local.
Acaba-se ressaltando os riscos das dificuldades de políticas que venham a ser adotadas, que realmente existem, mas nada se pode relacionar diretamente com orientações doutrinárias de cunho liberal. Há indícios de que alguns profissionais locais tenham contribuído para a elaboração de posições desta natureza no artigo da revista, que parecem pouco relevantes no que acontece atualmente no Brasil, quando se analisa as dificuldades de forma pragmática.