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Dicionário de 1603 Japonês Português Encontrado no Brasil

12 de outubro de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: 32 mil palavras que teriam sido organizados pelos jesuítas, acervo de obras raras da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, artigo de Claudia Costa do jornal da USP sobre o assunto, pertenceu à imperatriz Thereza Christina do Imperador D. Pedro II, publicado em 1603 em Nagasaki

Num trabalho conjunto de Elza Atsuko Tashiro Perez,, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, com o professor Jun Shirai da Shinshu University do Japão, descobriu-se um exemplar do Vocabvlario da Lingoa de Japam no acervo de obras raras da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro.

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Foto do exemplar do Vocabvlario da Lingoa de Japam, constante do artigo publicado no O Estado de S.Paulo, que merece ser lido na íntegra

Muitos sabem que os primeiros jesuítas que vieram de Portugal via Macau ao Japão pretendiam converter muitos japoneses ao catolicismo e para tanto tinham que dominar o idioma local. Eles tinham uma base importante em Nagasaki e conseguiram sucesso na sua missão. Mas, entre 1639 até 1833, o Japão ficou fechado aos estrangeiros, pois as autoridades locais acreditavam que os jesuítas eram ponta de lança para dominar politicamente os japoneses.

Este dicionário agora encontrado no Brasil pertenceu à imperatriz Thereza Christina, que foi casada com o Imperador D. Pedro II, e foi doada em 1889 após a sua morte. Não se encontra com a capa original. Um trabalho conjunto entre o curso de pós-graduação da USP e a Shinshu University do Japão possibilitou esta descoberta, pois nem todo o acervo está devidamente catalogado. Procuram-se outras publicações dos jesuítas portugueses que estiveram no Japão. Este dicionário é o quarto encontrado no mundo, o primeiro no Brasil, sendo que outros estão na Inglaterra, em Portugal e na França.

Segundo o professor Jun Shirai, da Shinsho University, este dicionário é importante porque registra mais de 32 mil palavras em japonês da época, da segunda metade do século XVI ao início do século XVII. As pesquisadoras da USP informam que os dicionários japoneses da época não registravam palavras do cotidiano como cabelo, anel e óculos, por exemplo, não contendo tantas palavras como este que foi encontrado na Biblioteca Nacional.

Os pesquisadores acreditam que jesuítas contaram com a ajuda de japoneses, sendo que na época utilizava-se também o latim. Existiam mais dois dicionários impressos pela Companhia de Jesus, o Dictionarivm Latino Lusitaninicym ac Japonicym (1593), em latim, português e japonês, e o Racuyoxu (1598), de idiogramas japoneses, havendo alguma possibilidade de que os mesmos também sejam localizados no Brasil, pois ainda existem livros em fase de catalogação para o público.

No dicionário encontrado, existem explicações sobre palavras dos dialetos regionais, faladas e escritas, além de linguagens das mulheres e das crianças, bem como palavras de uso dos budistas. Também incluem rimas, pronúncias individuais, plantas e animais, frases populares e costumes da época. Também palavras da elite, pois a capital da época era Kyoto, região onde os jesuítas atuavam. Outros hábitos japoneses podem ser estudados por intermédio deste dicionário, que não incluem ideogramas, mas eram orais, auxiliando no estudo da fonética japonesa.

Muitas das publicações feitas pelos jesuítas foram destruídas no Japão quando o país se manteve fechado e agora estes documentos estão auxiliando a compreensão de muitos hábitos japoneses da época.