O Que Diferenciam os Verdadeiros Líderes Políticos
9 de outubro de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: algo mais que alguns políticos possuem para perceber antes dos demais o que seria as aspirações dos eleitores, as limitações dos comentaristas e assessores políticos, tendências do atual quadro político brasileiro
Existem alguns políticos que possuem uma qualidade inata que os diferenciam dos seus concorrentes, inclusive acadêmicos e jornalistas, percebendo o que seria as grandes aspirações dos eleitores com a devida antecipação, bem como a oportunidade para o uso do seu conhecimento. Isto não depende das suas formações educacionais, havendo alguns casos evidentes, como os de Lula da Silva e Jair Bolsonaro, agradem ou não aos seus críticos. O que pode ocorrer são até exageros deles destas suas percepções, senso de oportunidade do seu uso como habilidade de comunicação de suas ideias para aqueles que lhes interessam, que possa ser considerado como um carisma pessoal.
Lula da Silva e Jair Bolsonaro
Ainda que muitos percebessem que a criminalidade atual no Brasil era um problema e que o seu aumento preocupava a grande maioria dos eleitores brasileiros, poucos tiveram a capacidade de transformar este assunto numa bandeira de sua campanha para chegar até a possibilidade concreta de ser eleito presidente da República. O combate à corrupção, mesmo com muitos excessos discutíveis nos processos de suas investigações por parte dos promotores e juízes, tornou-se outro assunto sensível para o eleitorado, que sempre deseja punição rápida dos criminosos, mesmo que a legislação exija cautelas para evitar injustiças, inclusive na Constituição vigente. Ainda que em termos gerais o assunto tornou-se também uma aspiração que possa ser colocada nos pronunciamentos de uma campanha eleitoral.
Como pano de fundo, muitos políticos que ocupam cargos importantes acabaram sendo considerados responsáveis por estas e outras mazelas públicas, bem como de seus protegidos que ocupavam desnecessariamente cargos públicos bem remunerados. Isto resulta finalmente na falta de recursos para atividades consideradas importantes pelos eleitores, como saúde, assistência social, educação e outros investimentos fundamentais para a coletividade.
O elevado nível de desemprego no Brasil também se constitui numa preocupação que afeta muitos eleitores, mas este problema vem sendo levantado praticamente por todos os políticos, mesmo sem a indicação clara de quem seja os responsáveis por esta situação. Muitos atribuem esta dificuldade às administrações anteriores do PT, sobrando também para o atual governo. Mas, como muitos são considerados responsáveis por todos os candidatos, não se torna um ponto que diferencie uma candidatura específica.
Lamentavelmente, nos diversos programas que desejam executar, os candidatos em disputa pelo segundo turno não divulgam os detalhes das suas proposições com o receio de perderem eventuais eleitores com suas posições. Na realidade, a atual campanha eleitoral, com o uso indiscriminado dos meios rápidos e superficiais de comunicação social, não facilita o exame mais profundo das propostas, que estão com alguns detalhes elaborados no nível técnico. Elas existem, mas não estão sendo discutidas por serem de difícil compreensão para os eleitores comuns.
A exagerada multiplicação de partidos políticos, sem que as barreiras criadas para o seu funcionamento ainda resultem em algo prático, acaba dando espaço para algumas bancadas, como as religiosas, do setor rural, do setor de saúde, da segurança e de outros que envolvem grupos de parlamentares, principalmente para efeito operacional.
Terminado o segundo turno, haverá somente dois meses para a posse do novo governo, o que é evidentemente curto para a tentativa de formação de um razoável consenso entre os pontos mais importantes do programa e seus membros. Para os técnicos, eles estão mais claros, mas há que ser aprovado pelo novo governo, que ainda não está esboçado, mesmo dos seus principais componentes. Além do carisma do novo presidente da República, no mínimo, as principais incoerências, como os recursos necessários e suas disponibilidades, ainda precisam estar equacionadas.
Qualquer governo fará somente o que for possível, não o que desejam os seus componentes e seus eleitores. Quase certamente haverá insuficiências pelos quais serão criticados, bem como execução de muitos trabalhos que todos desejariam. Serão custos que provocarão desgastes, acabando por exigir que as operações mais duras sejam tomadas com a urgência possível, enquanto o capital que possuem como resultado das eleições ainda esteja razoavelmente íntegro.
O que não se tem discutido e sempre é muito difícil de ser definido são os inúmeros problemas de gestão que envolve todos os governos de grande complexidade como o brasileiro.