The Economist Surpreso com as Eleições no Brasil
11 de outubro de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: artigo no The Economist sobre as eleições no Brasil, indignação dos eleitores brasileiros com a corrupção e com os dirigentes políticos, Jair Bolsonaro conseguiu votos em variados segmentos dos eleitores brasileiros, renovação sensível entre os políticos brasileiros
Jair Bolsonaro quase conseguiu ser eleito residente da República no primeiro turno, com votos de diferentes segmentos dos eleitores brasileiros, desde os mais privilegiados, como os mais modestos, registra a revista internacional The Economist.
Eleitora da favela de Paraisópolis em São Paulo dividiu com um advogado morador no Morumbi a votação no capitão reformado Jair Bolsonaro. Foto constante do artigo na revista The Economist
Ainda que o The Economist dependa de informações dadas pelos jornalistas brasileiros e analistas locais que consideram credenciados, o fato concreto é que muitos deles também não têm ainda um quadro claro de todos os fatores que atuaram nos resultados eleitorais, dando um que é considerado uma forte manifestação da posição de extrema direita. Isto pode ser somente para efeito eleitoral, que acabará sendo moderado pelas limitações da dura realidade política e econômica do país. O fato concreto é que somente candidatos capazes de expressar de forma firme e carismática suas posições de inconformidade com o quadro atual, como Jair Bolsonaro, conseguiram superar posições moderadas dos considerados de posição de centro, como Geraldo Alckmin, que ficará fora do segundo turno, que será disputado com o petista Fernando Haddad, herdeiro do Lula da Silva, que está preso. Mas as mudanças como no Congresso já foram expressivas, com um nível de renovação surpreendente para qualquer analista.
Muitos eleitores entendem que um dos grandes males atuais do Brasil deve-se aos políticos, desejando-se líderes ousados que tenham como enfrentá-los. Não se trata somente de uma posição antipetista, mas com diversos grupos tradicionais que vieram obtendo vantagens restritas aos seus componentes, sem que reformas indispensáveis para o Brasil fossem executadas. A bandeira contra a criminalidade que afeta toda a população parece ter sensibilizado muitos eleitores, mesmo com uma retórica até exagerada.
Nem mesmo Fernando Haddad, considerado um boneco do ventríloquo Lula da Silva, parece ter entendido claramente a mensagem dada pelos eleitores, imaginando que descaracterizando sua candidatura atual da figura do ex-presidente preso, eliminando a cor vermelha do petismo tradicional, conseguiria galvanizar forças expressivas para uma ampla composição política nacional. Pode até conseguir um efeito contrário, perdendo a parcela importante dos seus eleitores que possuem esta origem, sem conseguir compensar com novos segmentos que seriam adicionados. Poucos eleitores o identificam como um líder carismático que consegue encarnar as aspirações populares de grandes segmentos da população brasileira, figurando como simples intelectual incapaz de liderar um movimento importante. Muitos o consideram um mero poste escolhido por Lula da Silva, na falta de uma alternativa.
Além dos componentes racionais, parece existir no ar um forte aspecto emocional, ainda não claramente voltado para somente uma direção. Conseguir afunilar tudo, com uma mensagem clara para o eleitorado, não parece estar ao alcance dele, num prazo de duas semanas.
Parece inevitável que o país terá que passar por um período de exagerada fragmentação política e duro aprendizado, avançando ligeiramente para obter um crescimento econômico mais expressivo que permita superar as muitas limitações a que está sujeito no momento. Não será nada fácil, mas tudo indica que um líder carismático como Jair Bolsonaro tenha melhores condições de obter um sucesso mesmo que parcial, se conseguir nomear uma equipe de auxiliares que não dependa tanto dos partidos políticos que ascenderam no país no primeiro turno, que ainda sofrerá uma redução de número diante das barreiras mínimas já criadas. Afinal, parece natural que os eleitos pelos partidos que tendem a desaparecer acabem se acomodando entre os que cresceram e estejam constituindo a base parlamentar de sustentação dos que estão no poder, ao lado das bancadas que suprapartidárias que já estão funcionando.