Lamentável Comportamento de Carlos Ghosn
21 de novembro de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: bem-sucedido na Renault-Nissan-Mitsubishi Motors, compreensão dos hábitos japoneses, um dos poucos empresários nascidos no Brasil com destaque internacional | 18 Comentários »
A imprensa mundial foi apanhada de surpresa pela prisão de Carlos Ghosn (foto), nascido no Brasil e com atuação mundial, que está sendo acusado no Japão de irregularidades com os pagamentos de seus impostos e utilização de recursos da Nissan para benefício próprio. Ele era considerado um dos poucos empresários ocidentais que absorveram adequadamente a cultura empresarial japonesa e, a partir da boa experiência na Renault, recebeu a missão de recuperar a Nissan inicialmente e depois a Mitsubishi Motors que enfrentavam dificuldades, tendo organizado ainda informalmente um grupo automobilístico que estava disputando a liderança mundial deste setor.
Muitos japoneses sempre consideravam que existe uma cultura empresarial no Japão difícil de ser absorvida adequadamente pelos estrangeiros, mas Carlos Ghosn, com o sucesso na recuperação da Nissan, conseguiu provar que era capaz de aproveitar o que existia de positivo naquele país com o estava sendo aplicado com eficiência no mundo globalizado. Todos esperavam que ele tivesse conhecimento das normas fiscais e legais do Japão, que tem suas particularidades que podem diferir do resto do mundo.
As autoridades fiscais e jurídicas do Japão costumam utilizar recomendações do código de honra dos samurais, quando as legislações não estão explicitamente claras sobre matérias que possam envolver as empresas e seus dirigentes. As buscas e prisões só ocorrem de forma arrasadora, com grandes equipes de funcionários públicos ocupando escritórios e residências, com base nas provas preliminares disponíveis, visando completar todas as documentações sobre as irregularidades que tenham sido cometidas. Não se baseiam somente em alegações ou denúncias efetuadas verbalmente como no Brasil. Tanto que as empresas, quando acontecem operações desta natureza, apressam-se a pedir escusas (baixando claramente suas cabeças) em público por eventuais inconveniências causadas, como para os acionistas que possuem suas ações no mercado. Independem dos términos dos processamentos de todos os inquéritos no Judiciário e julgamento final das irregularidades que tenham sido cometidas.
Sempre existem os que questionam como empresários bem remunerados acabam cometendo estas irregularidades. Os impostos no Japão são elevados, salvo quando os resultados das empresas são mantidas visando investimentos adicionais. Muitos ativos são mantidos pelos valores históricos na contabilidade, mesmo quando os imóveis, principalmente, foram adquiridos há muito tempo. Quando se trata de estrangeiros, mesmo empresários, estes preferem receber as suas remunerações que acabam sendo pesadamente tributados. As autoridades fiscais examinam as contas com cuidado, quando muitas operações acabam utilizando paraísos fiscais. As legislações tributárias de muitos países são complexas e sempre existem meios para redução dos impostos, quando devidamente orientados por especialistas no assunto.
Tudo indica que no caso de Carlos Ghosn, o consórcio formado pela Renault, Nissan e Mitsubishi Motors não terá condições de prosseguir nos seus entendimentos, pois sempre existem insatisfeitos tanto no Japão como na França, onde a empresa francesa conta com participação estatal. Possivelmente, todos os participantes deste consórcio preferem se livrar de problemas adicionais, qualquer que seja o andamento do processo. Ele independe dos seus eventuais dirigentes que são considerados temporários, mesmo com muitos anos de atuação.
É lamentável que um empresário nascido no Brasil, que circulava pelo mundo como poucos, seja envolvido nestes problemas, pois é raro de acontecer.
YOKOTA:
Na verdade, ocorreu tentativa de golpe por parte dos japoneses. Leia:
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/11/especialistas-franceses-apontam-golpe-da-nissan-contra-carlos-ghosn.shtml
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/11nissan-planeja-usar-saida-de-ghosn-para-tirar-poder-da-renault.shtml
Cara Simone Aparecida,
Nada justifica o que veio ocorrendo há tempos. Ele deveria saber que no Japão as punições são rigorosas.
Paulo Yokota
O caso de um brasileiro ser internacionalmente famoso e reconhecido no mundo corporativo como Carlos Ghosn pode ser raro, mas acrescenta com grande peso a negativa fama de corrupção que o Brasil já tem.
Caro Luciano Augusto,
Obrigado pelo comentário. Lamentável.
Paulo Yokota
YOKOTA:
Carlos Ghosn pode ser comparado ao Lula e a Dilma, pois todos foram vítimas de golpes.
Cara Simone Aparecida,
Parece pouco conveniente que sempre se utilize a teoria conspiratória para explicar todos os problemas que todos têm. Seria interessante se ater a complexa realidade, que é muito mais complicada que tudo isto.
Paulo Yokota
Paulo, parece-me que, de fato, o Ghosn cometeu “deslizes”, mas o Saikawa utilizou as “pedaladas” do brasileiro, a fim de evitar a fusão da Nissan e da Renault.
Caro João da Silvia Santos,
Obrigado pelo comentário. Existem visões diferentes que nem sempre correspondem à realidade. No Japão parece que muitos grupos procuram sair da opção de dependerem da Toyota e da Honda. Para grupos como a Nissan que sempre tiveram tecnologias avançadas com produtos de luxo, mais que seus concorrentes, enfrentaram problemas financeiros e procuraram se associar à Renault, chegando a esboçar o maior grupo do mundo. Todos que esperavam que Carlos Ghosn tivesse dominado a cultura empresarial japonesa e a legislação local, parece ter subestimado as particularidades existentes no Japão.
Paulo Yokota
Paulo Yokota:
Na imprensa francesa, especula-se que usaram o suposto crime de evasão fiscal para derrubar o notável executivo brasileiro. Dizem que os japoneses não gostam de receber ordens de gringos e que Ghosn quebrou com muitas tradições do Japão.
Mas, sinceramente, nada justifica usar o patrimônio da Nissan para fins pessoais ou, ainda, sonegar impostos.
Caro Henrique Silva Lima,
Eu sempre considerei Carlos Ghosn um brasileiro que fez um bom trabalho no Japão. Esperava que ele tivesse aprofundado o seu conhecimento sobre a cultura empresarial do Japão melhor do que qualquer estrangeiro. O Japão se esforça para contar também com executivos de outros países, como a Takeda (farmacêutica) que usa executivos norte-americanos e europeus até no Brasil, depois de ter adquirido os seus controles no exterior. Outra como a Asahi Glass passou a sua sede para a Europa e opera também aqui no Brasil com executivos europeus. Lamentavelmente, os seres humanos costumam ser ambiciosos e tendem a procurar formas de redução dos impostos devidos, em qualquer lugar do mundo. Espera-se que a contribuição de Carlos Ghosn para criar um grupo internacional importante de automóveis, encontre uma forma de ter continuidade.
Paulo Yokota
A INVEJA dos japoneses levou o brasileiro Ghosn para a prisão!
Caro Lucas Pereira,
Sempre haverá diversas versões sobre o problema da Nissan e da Mitsubishi Motors com o Carlos Ghosn. No artigo publicado hoje no Asahi Shimbun, um dos mais importantes do Japão, Carlos Ghosn teria alegado que foi informado que os valores recebidos depois de sua aposentadoria, segundo a legislação japonesa, não estaria sujeito à tributação. Ele e seu advogado tentarão muitas alegações, mas as irregularidades a ele atribuídas são inúmeras e bem formuladas pela promotoria que teria diversos indícios seguros das mesmas. Como informei a Marli Olmos do Valor Econômico, que consta do seu artigo, no Japão quando não existe uma legislação específica que enquadre a irregularidade, o Judiciário daquele país costuma usar o Código de Honra dos Samurais, onde a intenção é muito relevante. Ele remunerou sua irmã que mora no Rio e que não prestou nenhum serviço à Nissan, como transferiu prejuízos pessoais para a Nissan e outras formas para reduzir os honorários que são baixos no Japão, quando comparado com o resto do mundo. Muitos dos seus imóveis mundo afora foram adquiridos com recursos da Nissan. As autoridades japonesas são extremamente rigorosas quando se utilizam paraísos fiscais, lamentavelmente.
Paulo Yokota
Yokota, o Japão é um país que é caracterizado pela xenofobia. Ghosn nunca passou de um brasileiro que foi colocado pela Renault para comandar a Nissan.
Cara Ana Maria Santos,
Acredito que o Japão por ser somente um arquipélago tende a ser xenófobo. Isto não justifica o que Carlos Ghosn tenha feito, inicialmente de bom e, depois, infelizmente de negativo.
Paulo Yokota
Yokota, por favor, leia o melhor artigo sobre o assunto envolvendo o Carlos Ghosn e reflita sobre a sua posição.
Erro de cálculo do Japão:
http://www.amanha.com.br/posts/view/6665/erro-de-calculo-do-japao
Prezada Simone Aparecida,
Esteja certa que procuro conhecer a maioria dos ângulos em que a questão é colocada, tanto dos diversos jornais japoneses que possuem opiniões diferentes sobre Carlos Ghosn, inclusive antes do atual episódio. Veja os muitos artigos favoráveis a ele que escrevi ao longo dos anos. Espero conhecer estas questões do que a maioria dos jornalistas que escrevem sobre o assunto, mesmo nos jornais internacionais. Lamento muito pela sua atual situação, mas pode estar certa que não gostaria que ele estivesse nesta situação. Não adoto posições superficiais.
Paulo Yokota
Yokota, com certeza, é muito cedo para tirar conclusões precipitadas. A ampla defesa e o contraditório do Carlos Ghosn não estão sendo respeitados. A prisão é ilegal.
O governo brasileiro deveria interceder, pois um cidadão brasileiro está sendo desrespeitado em seus direitos humanos. Não há provas contra o Ghosn e as alegações do Ministério Público do Japão são muito frágeis.
Hiroto Saikawa é o líder do golpe, pois ele não está satisfeito pelo fato do Estado francês ser dono da Renault, da Nissan e do conglomerado Mitsubishi. É tudo da França, pois ela controla a Renault e, indiretamente, a Nissan e o grupo Mitsubishi.
Falta de gratidão dos japoneses. O que Zico pensa sobre o episódio? E se Ayrton Senna estivesse vivo? Lamentável.
Caro Hugo Leonardo Vicente,
Lamentavelmente Carlos Ghosn não é mais brasileiro, pois ele se naturalizou francês.
Acredito que não se justifica o que V. gostaria, pois as três empresas já anunciaram a forte disposição de manter o grupo. como anunciado em Amisterdam hoje.
Paulo Yokota