Medidas dos EUA Difíceis de Serem Compreendidas
7 de dezembro de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Política, Tecnologia | Tags: conversas com Xi Jinping, medidas conflitantes de Donald Trump, medidas que parecem inadequadas, prisão da CFO da Huawei no Canadá
A solicitação norte-americana que a CFO da Huawei chinesa, Meng Wanzhou, fosse presa no Canadá, visando a sua extradição para os Estados Unidos, conflita abertamente com as informações que, depois de Donald Trump ter jantado com Xi Jinping, haveria três meses de trégua na guerra comercial entre os dois países para um mínimo de entendimento. No fundo, a Huawei é considerada hoje uma das mais importantes no mundo na área da tecnologia avançada, com componentes para equipamentos eletrônicos, superando em diversos aspectos as mais importantes empresas norte-americanas. O problema só poderia ser superado com um esforço para que as tecnologias avançadas dos Estados Unidos voltassem à posição que tinham até recentemente.
Meng Wanzhou, CFO da Huawei, presa no Canadá a pedido dos norte-americanos, é filha do fundador da empresa e seu chairman, Ren Zhengfei
Este lamentável fato que ainda não tem uma justificativa razoável, suspeitando-se que a empresa chinesa estaria fornecendo para o Irã (boicotado pelos EUA), afetou toda a economia do mundo, da Europa ao Japão, provocando quedas sensíveis nas bolsas e provocando alterações cambiais. Mesmo as cotações das empresas norte-americanas foram afetadas, desde as melhores cotadas como a Apple, Amazon e Facebook, como até no mercado de petróleo, que acusou queda, afetando empresas como a Exxon Mobil e a Chevron.
Poucas vezes se observou uma influência na economia mundial desta extensão e magnitude. Não serão estas medidas espalhafatosas que resultarão em algo positivo no mundo que já enfrenta muitas outras dificuldades, como um razoável consenso nos problemas climáticos, dentro do Acordo de Paris. Os avanços tecnológicos chineses são decorrentes de intensas pesquisas que estão sendo feitas nas grandes universidades chinesas voltadas para sensíveis avanços, prevendo-se que proximamente a China, que ainda está com uma renda per capita baixa, venha a superar os Estados Unidos nas próximas décadas. Em matéria de avanços tecnológicos, isto parece inevitável, havendo necessidade que os Estados Unidos recuperem o que estava sendo feito no Vale do Silício, como um exemplo.
Não serão imposições de tarifas como os norte-americanos estão tentando, afetando as próprias empresas que hoje já dependem dos fornecimentos de componentes chineses, mais eficientes e baratos. Se as commodities agropecuárias norte-americanas tivessem condições de voltar ao mercado chinês, tudo indica que, nesta guerra, novos atrasos sensíveis ocorrerão no mundo.
O Brasil precisa atentar para não perfilar simplesmente aos Estados Unidos, ficando contrário à China, como já vem ocorrendo em algumas declarações de indicados para o próximo governo. Uma atitude mais pragmática seria interessante, tanto porque os chineses importam muito do Brasil, desde minérios até produtos agropecuários, e continuam efetuando investimentos nos projetos de infraestrutura para os quais não temos recursos suficientes. Toda a cautela e caldo de galinha são recomendáveis nestes períodos de grandes incertezas.