Integração de Descendentes de Imigrantes na Sociedade Local
21 de janeiro de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia e Política | Tags: comparação com o Brasil, os asiático-americanos que pouco expressam a gratidão por terem sido acolhidos nos EUA, um artigo do New York Times publicado em português no Estadão | 2 Comentários »
Um artigo publicado por Viet Thanh Nguyen no The New York Times e republicado em português no Estadão leva a algumas reflexões sobre os descendentes de asiáticos que vivem nos Estados Unidos, ou em outros países como o Brasil, que acolheu muitos imigrantes de outras partes do mundo, quase sempre de forma exemplar.
Foto de Sandra Oh, publicada no artigo do The New York Times quando ela manifestou o seu amor pelos EUA, na cerimônia do recebimento do Globo de Ouro, que vale a pena seu lido na íntegra
No artigo escrito pela sua conterrânea, apresenta-se a questão de por que os asiático-americanos manifestam pouco o seu amor pelo EUA, pais que acolheu seus antepassados e permitiu que eles se destacassem com os seus trabalhos naquela parte do mundo. Isto induz a reflexão também sobre os nipo-brasileiros, como eu, sobre a questão semelhante no Brasil.
Inicialmente, parece que existem algumas diferenças importantes sobre as formações históricas destes dois países em foco. O início da colonização dos Estados Unidos ocorreu com as transferências de famílias do então Reino Unido, por razões religiosas, que teriam sido os primeiros britânicos que se dirigiram para aquele país. No Brasil, os portugueses vieram para explorar a possibilidade de produção de alguns produtos que eles já negociavam com países asiáticos, notadamente a Índia, como o açúcar, bem como exploração de minérios raros, como o ouro e pedras preciosas, além de se apropriarem à força dos mesmos que tinham sido acumulados pelos indígenas.
Aqui, como nos Estados Unidos, escravos africanos foram trazidos à força para os trabalhos duros, cujos descendentes se tornaram importantes na formação de sua população, infelizmente sofrendo lamentáveis discriminações que tendem a se atenuar nas próximas décadas. Outros imigrantes europeus e asiáticos, por variadas razões, foram acolhidos nos Estados Unidos como no Brasil, para onde vieram “fazer a América”, pois contavam com formações educacionais ligeiramente superiores, que lhes facilitaram a ascensão social que nao conseguiam em seus países de origem. Muitos trabalharam de forma dura e entre eles alguns conseguiram resultados expressivos.
Recentemente, aumentaram árabes e latino-americanos que procuram estes paises por não conseguirem sobreviver nos seus paises de origem. Sofrem restrições de algumas autoridades, e de pessoas que atribuem a perda dos seus empregos para estes novos imigrantes, bem como oportunidades de estudos em escolas de destaque.
Mas porque estes, principalmente asiático-americanos, onde se inclui os brasileiros, não manifestam veementemente a sua acolhida e a gratidão por estas oportunidades que não tiveram nos seus países de origem? Como está registrado no artigo mencionado, parece que mais do que palavras, que podem soar como `lips-services`, eles apresentam os trabalhos que executaram, pois na sua maioria possuem poucas habilidades de se comunicar adequadamente, notadamente nestes idiomas ocidentais, o que aos pouco estão sendo superados. Alguns começam a se destacar nos meios de comunicação social e ate na literatura, mas ainda são exceções.
Eles foram estimulados pelos seus pais a se empenhar na educação, trabalhar muito, e apresentar resultados expressivos nas sociedades em que vivem agora. Pode ser que não necessitassem expressar em palavras os seus agradecimentos, mas sempre seria interessante que estas manifestações também aumentassem, pois todos gostam de receber agradecimentos.
Muitos destes descendentes de imigrantes sentiam que eram considerados diferentes, mesmo que não sofressem descriminações explícitas. Consideravam algo normal, não como os que sofrem violências, que são mais dramáticos. Na medida em que as ascensões sociais se tornam normais, todas estas diferenças tendem a se tornar irrelevantes, na medida em que não sejam consideradas excepcionais. Nos países que receberam muitos imigrantes, este processo está tendendo a se tornar normal, o que nem sempre acontece nos países de suas origens, onde ainda os imigrantes são considerados casos especiais.
Há momentos em que muitos incidentes aumentam, mas tudo indica que a globalização vai se tornando inevitável, não havendo barreiras e muralhas que possam separar os recursos humanos, pois também os outros recursos que existem continuarão a encontrar formas para circular pelo mundo, localizando as oportunidades para conseguir melhores resultados.
Muito oportuno e bem colocado, sr. Paulo. Vale a pena ler também a matéria traduzida no Estadão. Obrigado!
Caro Carlos Abreu,
Obrigado pelo comentário,
Paulo Yokota